Com 508 mortes, relatório aponta pontos de aglomeração do Grande Bom Jardim

A principal intenção dos moradores e líderes comunitários é levantar dados e dialogar com a esfera pública para a criação de políticas públicas para combate da pandemia do novo coronavírus

Um grupo de moradores e lideranças comunitárias do Grande Bom Jardim, em Fortaleza, lançou um relatório para avaliar a situação epidemiológica da Covid-19 na região, localizada na periferia da Capital. Participaram ainda da elaboração do documento, pesquisadores de universidades cearenses, além de representantes do setor público municipal.

No relatório, feito a partir da visão comunitária, foram inseridos dados sobre os principais pontos de aglomeração dos bairros, assim como a parte do território com maior número de casos ou óbitos. Em mapa participativo, também foram delimitados os locais dos bairros com assentamentos precários, fator que influencia a proliferação do vírus, conforme análise dos pesquisadores.

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>> Leia a íntegra do documento lançado na noite desta segunda-feira, 12

No total, o Grande Bom Jardim acumula 508 mortes e 7.849 casos confirmados desde o início da pandemia, de acordo com dados da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) consolidados pelo Comitê Popular de Enfrentamento à Covid-19 no Grande Bom Jardim e demais Periferias de Fortaleza, responsável pelo documento. O número é superior aos óbitos de cidades cearenses, como Maracanaú (490) e Sobral (504)

Levantamento foi feito pelo Comitê Popular.
Levantamento foi feito pelo Comitê Popular. (Foto: Reprodução)

“Embora o surto epidêmico seja universal, são as periferias que mais têm sido afetadas no Brasil. Existe uma correlação entre IDH, espalhamento do novo coronavírus e mortes pela Covid-19. A cidade é desigual, o espalhamento do vírus também, mas as ações de controle sanitário são homogêneas”, destaca o documento.

Adriano Almeida, membro do Comitê e associado e conselheiro do Centro de Defesa da Vida Herbert de Souza, disse que os moradores e lideranças sanitárias resolveram se mobilizar por enxergar a possibilidade de ocorrer um “desastre sanitário” em decorrência da pandemia. Ele ponderou que a intenção é levantar dados que ajudem na criação de políticas públicas.

Órgãos institucionais

 

A intenção do grupo, conforme Adriano, era cruzar dados oficiais da vigilância epidemiológica da Capital com a visão comunitária. Procurada, no entanto, a administração municipal não respondeu à solicitação de dados georreferenciados feita pelo Comitê. Presente na reunião de lançamento do relatório nesta noite, o secretário da Saúde do Ceará, Dr. Cabeto, disse que intermediará contato com a gestora municipal da saúde da Capital, Ana Estela.

Cabeto ainda se comprometeu a dar uma resposta às demandas sugeridas pelo grupo. Ele exaltou a iniciativa, que considerou fundamental para uma melhor análise dos indicadores mais específicos para cada localidade. Durante o evento, ele ainda fez críticas à condução da pandemia pelo governo federal e em relação ao projeto de imunização do País.

"Acúmulo histórico de negligências"

 

Além de pontos de aglomeração dentro da comunidade, como supermercados e agências bancárias,  Adriano Almeida considerou como um ponto grave para a proliferação do vírus o transporte público da Cidade. “A população que trabalha nos serviços essenciais são da periferia e usam o ônibus. E todos os dias acontece esse movimento pendular entre os centros comerciais e a periferia da Cidade”, considera.

O articulador comunitário lamenta que o poder público tenha um “acúmulo histórico de negligência” com a periferia e considera que isso se repete na condução da crise do novo coronavírus. “É uma população que não teve acesso pleno à educação, não tem segurança jurídica de sua casa… E tudo isso vem à tona na pandemia, que escancara o que a gente tem de mazela e desigualdade”, ressalta.

A participação do poder público no Comitê, de acordo com ele, continua esbarrando em ausências históricas no apoio às comunidades. Um exemplo é a iniciativa da Prefeitura para entregar quentinhas para 250 famílias da região. Adriano explica que, ainda que o alimento esteja disponível, algumas famílias não poderão se locomover até o ponto de distribuição devido aos limites de circulação impostos pelo crime organizado.

“Cabe indicar que estamos em um contexto de emergência e calamidade pública, onde a defesa da vida precede quaisquer outras questões, e requer vontade política, capacidade de diálogo e articulação com a sociedade civil e confluência entre poder executivo e legislativo nos níveis municipal e estadual”, aponta o documento.

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