Fieis e comerciantes marcados pela falta das celebrações do dia 13 no Santuário de Fátima
Mesmo com a possibilidade de retorno das atividades, a orientação da Arquidiocese de Fortaleza é de que missas sigam sendo realizadas virtualmente e sem presença de fiéis
12:49 | Abr. 13, 2021
Nem precisava ser fiel para acompanhar a demonstração de fé dos devotos de Nossa Senhora de Fátima. Quem passasse na avenida de 13 de Maio, todos os dias 13 do ano, sabia que ia enfrentar trânsito intenso. Dia 13 é chance de homenagear a santa querida por muitos fortalezenses. As celebrações religiosas nas datas também marcavam um momento importante para comerciantes da região que investem na venda de terços, imagens ou lembrancinhas. Entretanto, a pandemia de Covid-19, que se estende desde o ano passado, tem mudado como comerciantes e fieis celebram os conhecidos dias 13.
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Neste 13 de abril, a praça em frente à igreja, normalmente cheia, abrigava apenas um comerciante. Neiton Pascoal, que trabalha há 25 anos no local, relembra que era comum passar de 15 a 20 mil pessoas na região. No momento mais importante para os devotos de Nossa Senhora, 13 de Maio, o Santuário costuma receber até 30 a 50 mil.
Ele lembra que diversas bancas enchiam a praça para aproveitar a movimentação. "Para nós trabalhadores, está muito complicado[...]Tem pessoas que praticamente não têm mais mercadoria e outros tem mercadoria, mas não tem como vender. Muitos comerciantes quebraram", comenta Neilton sobre as perdas dos últimos meses com as restrições ou proibições das celebrações.
Mesmo com a possibilidade de retorno das atividades, a orientação da Arquidiocese de Fortaleza é de que missas sigam sendo realizadas virtualmente e sem presença de fiéis. As instituições religiosas foram contempladas com a decisão e passaram a poder realizar atividades presencialmente com até 10% de capacidade das 5h às 20 horas de segunda à sexta-feira. Mesmo assim, as missas vão seguir de forma online, após os representantes da Igreja considerarem que o cenário da pandemia no Ceará "ainda preocupa e inspira cuidados”.
Quem também dependia da movimentação era a vendedora de lanches Maria Lúcia da Silva. Ela conta que por volta das 10 horas, em dias anteriores à pandemia, já teria vendido tudo. "Eu venho todos os dias, só não venho dia de sábado. Dia 13 era o dia que as vendas aumentavam, mas depois dessa doença, caiu muito. Hoje está parado", disse.
A vendedora lembra a saudade que tem das atividades dos fiéis e se agarra à fé para esperar por um momento melhor. "Tenho fé em Deus que as coisas vão melhorar, e parar mais essa doença. Conheço gente que já teve e que já morreu também, perto lá de casa. Tenho esperança que volte (as missas), [porque] do jeito que está, é muito pouquinho e a igreja não quer abrir", ressaltou ela.
O mototaxista Benedito Bezerra relembra também os momentos antes da pandemia. "Caiu 100%, não dá nem pra comparar. Era corrida direto em dia como esse, dia 13. Mês que vem então nem se fala, a gente sente muito. Não dá nem para expressar", explica ele.
A Fé em Fátima
O centro de tudo, entretanto, é Nossa Senhora de Fátima. A santa é uma das invocações atribuídas à Virgem Maria e que teve a sua origem nas aparições recebidas por três pastorinhos no lugar da Cova da Iria, em Fátima, Portugal. Seus devotos se espalham por diversos países.
Devotos de Nossa Senhora de Fátima
Não importa onde estiver, todos os anos Valnícia Azevedo comparece à missa no Santuário e reza três terços em homenagem à santa. Tudo para honrar as graças já alcançadas e as promessas intercedidas por Nossa Senhora de Fátima. "Eu sinto muita falta, não sei porquê não abriu.[O sino da Igreja toca] Olha que coisa linda! A gente vem para cá e fica aqui na porta", disse ela, que foi ao local, mesmo sem missas presenciais. Há sete anos, todos os dias 13, ela comparece ao local e, neste mês, espera que a reabertura acontece e as atividades na Igreja voltem.
"Eu até me emociono em falar de Nossa Senhora de Fátima e já alcancei muitas graças. Faz oito anos que frequento essa Igreja. Todo dia 13 eu estou aqui", lembra com carinho Edilson Trajano. A história com o local começou por acaso ao voltar do trabalho e resolver entrar. Desde então, repete todos os dias 13 na Igreja.
Ele conta que a pandemia foi circulando aos poucos sua vivência: não usava máscara e não se cuidava. Hoje, ele relembra que percebeu a gravidade da pandemia e cobra de amigos e familiares o uso da máscara. Com a esposa e a irmã contaminadas com Covid-19, um delas internada, ele foi ao Santuário ciente que não haveria missa para pedir graças pelas duas.
"Quem não sente [falta da missa]? Eu vejo nos olhos das pessoas. Eu vinha no ônibus e umas três pessoas desceram dizendo 'não tem missa' ", comentou. Após ser vacinado, a esperança dele é outras pessoas possam receber também a imunização e a situação melhore.