Pessoas com sequelas neurológicas da Covid-19 podem ter tratamento gratuito; veja como

Pacientes precisam ser encaminhados por médicos da rede pública ou privada com diagnóstico sorológico confirmado da doença

17:14 | Abr. 08, 2021

Por: Mirla Nobre
Mesmo com o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em locais fechados, a máscara contribui para impedir viroses e outras doenças (foto: Ricardo Wolffenbuttel/Governo de SC)

O Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), por meio do Serviço de Neurologia, está oferecendo atendimento gratuito para pessoas que tiveram sequelas neurológicas em virtude da Covid-19. Entre as manifestações, estão dificuldades na fala e na memória, dores de cabeça persistentes, limitações motoras e sonolência. Para ter acesso ao serviço, é preciso ter diagnóstico sorológico confirmado para a doença e encaminhamento médico pela rede pública ou privada de saúde.

Pessoas que se recuperaram da doença podem apresentar variedade de problemas neurológicos. É o que explica o chefe do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do HUWC, Pedro Braga, em que esclarece que após a doença o paciente pode ficar semanas com dor de cabeça persistente, principalmente para aqueles que já têm histórico prévio de enxaquecas.

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O especialista informa que os sintomas também podem chegar a serem mais graves. “O paciente pode ter uma inflamação no cérebro, que é chamado de encefalite, ou na medula, que a gente chama de melite, acometimento de nervos e raízes gerando fraquezas muscular, com alterações de sensibilidade”, informa. O médico também destaca que são cada vez mais frequentes casos de pessoas que têm Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou durante a infecção pelo vírus ou após.

A enfermeira da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac) Gabrielle Mendes Gott, de 35 anos, foi acompanhada no ambulatório e observou melhora das sequelas da doença. Quando foi diagnosticada com Covid-19, em março de 2020, ela apresentou alterações cognitivas e no sono como consequência do vírus. “Antes, dificilmente esquecia de alguma coisa. Hoje, a memória falha em certos casos. Além disso, antes da covid, eu era muito elétrica, ‘ligada no 220V’. Dormia cerca de 6 horas por noite, no máximo. Agora, por causa da fadiga, já cheguei a dormir 15 horas por dia”, relata.

Gabrielle foi encaminhada pelo Serviço de Pneumologia do HUWC para o Ambulatório de Neurocovid do Hospital. “O acompanhamento aqui (no Hospital Universitário) é de excelência, individualizado e contínuo, inclusive fazendo uso do celular para saber como eu estou. É um olhar diferenciado para o pós-covid. A minha qualidade de vida está melhorando aos poucos. Nós, profissionais de saúde, cuidamos dos outros, mas é muito gratificante quando cuidam de nós também”, destaca.

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Pesquisa

O atendimento no Ambulatório de Neurocovid do HUWC, vinculado à Universidade Federal do Ceará (UFC), também pretende desenvolver pesquisa de acometimento neurológico pela Covid-19. De acordo com o pesquisador e neurologista, Danilo Nunes, o objetivo dos estudos é descrever as alterações neurológicas e cognitivas e em quem estão aparecendo, sejam pacientes com menores ou maiores complicações.

“Sabemos que, além da parte neurológica, este período de pouca interação social e de restrição de locomoção pelo qual estamos passando gera também alterações psiquiátricas. Então, são comuns os quadros de depressão e ansiedade, que podem estar sendo agravados ou mesmo desencadeados durante a pandemia e simular alterações cognitivas no paciente pós-Covid. Esse acompanhamento em ambulatório ajuda a gente a dividir esses grupos, ou seja, pacientes que estão passando por um problema de ansiedade e tristeza daqueles que, realmente, apresentam um comprometimento neurológico devido à Covid-19”, esclarece Danilo.

No ambulatório, os pacientes são submetidos a avaliações neurológicas e cognitivas e à análise laboratorial para coleta de material genético. “Queremos saber quais genes favorecem o risco dessas pessoas terem determinada complicação. Estamos com casos de alteração de olfato persistente; outros de alteração de memória, mesmo em pacientes jovens; alteração do sono; e até de doença de Parkinson, que iniciam após a Covid-19”, detalha o pesquisador.

Atualmente, o ambulatório atende cerca de 100 pessoas, sempre às sextas-feiras. Os médicos interessados em encaminhar pacientes para o Ambulatório de Neurocovid devem entrar em contato pelos números (85) 9 8962-4217 ou (85) 9 8972-2902 para agendar a primeira avaliação. O serviço é gratuito.

Serviço

Ambulatório de Neurocovid do HUWC

Onde: Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) - Rua Pastor Samuel Munguba, 1290 - Rodolfo Teófilo
Quando: às sextas-feiras
Contatos: (85) 9 8962-4217/ 9 8221-8916 ou 9 8972-2902