Desospitalização de pacientes com Covid-19 otimiza liberação de leitos no Ceará
Na rede pública e na rede privada, iniciativas proporcionam acompanhamento domiciliar especializado para que pacientes do coronavírus terminem sua recuperação em casaIniciativas que permitem a desospitalização segura dos pacientes com Covid-19 colaboram também para otimizar a liberação de leitos nos sistemas de saúde do Ceará, especialmente em um cenário de pressão decorrente da segunda onda da pandemia.
Na rede pública, o Serviço de Assistência Domiciliar (SAD), da Secretaria de Saúde do Estado (Sesa), acompanha o paciente em casa com uma equipe de profissionais. Na iniciativa privada, o Sistema Hapvida oferece suporte médico residencial para garantir a recuperação total do paciente.
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Desde dezembro, 1.534 pessoas foram desospitalizados pelo Sistema Hapvida no Ceará. O fisioterapeuta Nonato Simões, 29, foi um deles. Após procurar atendimento emergencial da rede no dia 18 de março, ele passou 13 dias internado com coronavírus na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Depois de mais cinco dias na enfermaria, seu quadro estabilizado permitiu a ida para casa. Mas o tratamento não terminou por aí.
Já em sua residência, ele tem recebido suporte fisioterapêutico e atendimento médico via telefone. “A recuperação em casa fez toda a diferença por estar no conforto do lar, ter toda a atenção da família. Recebi toda a assistência”, elogia.
A estratégia da desospitalização é adotada com a devida autorização médica para os pacientes que apresentam melhora, mas ainda requisitam cuidados especiais. De acordo com o Hapvida, os clientes contam com suporte de aparelhos, como oxigênio, além de profissionais como fisioterapeuta e psicólogo, conforme a necessidade.
“Com equipes especializadas, temos conseguido dar continuidade ao tratamento desse paciente da Covid-19. Hoje isso tem feito toda a diferença dentro do nosso sistema para o resultado assistencial e para a disponibilidade de mais leitos”, garante Carlos Loja, diretor executivo da rede assistencial do Sistema Hapvida.
Luciane Amaral, diretora médica do Sistema Hapvida, acrescenta que o tempo de atendimento domiciliar prestado depende da gravidade do quadro. "Quanto maior a severidade da doença e a sequela motora, maior vai ser o tempo de reabilitação e maior seria o tempo de internação hospitalar caso não houvesse um programa de reabilitação domiciliar disponível”, atenta.
Desospitalização na rede pública
Outro beneficiado pela desospitalização, desta vez na rede de saúde pública, foi o funcionário público José Alves Pereira, 59. Em setembro de 2020, ele foi acometido com um quadro grave de infecção pelo coronavírus: 90% dos pulmões ficaram comprometidos. Foram 47 dias internado no Hospital São José (HSJ), na Capital.
A alta hospitalar veio em outubro, mas na sequência José começou uma longa jornada de reabilitação com os profissionais do Serviço de Assistência Domiciliar (SAD) do HSJ, anteriormente chamado Programa de Assistência Domiciliar (PAD). Ele passou 60 dias acamado, sem conseguir sequer andar. Atividades básicas como se alimentar ou tomar banho também dependiam da ajuda da família.
Com o auxílio especializado da equipe formada por profissionais de enfermagem, fisioterapia, assistência social e infectologia, aos poucos, José foi ganhando mais autonomia. A primeira grande vitória foi conseguir sentar à mesa com a família durante a ceia de Natal em dezembro.
“Agradeço muito a Deus e à equipe do PAD. Eles foram um porto seguro pra mim. Hoje posso dizer que minha recuperação tá em 80%, mas ainda tenho dificuldade para andar e minhas mãos não fecham normalmente. Ficaram sequelas”, relata.
José recebeu acompanhamento do SAD por cerca de 70 dias. Depois de passar uma temporada em Fortaleza para o tratamento optou por retornar à Pedra Branca, no Sertão Central, onde reside. Lá, continua repetindo diariamente os exercícios que aprendeu com os especialistas do programa.
Unidades da rede pública
Na rede pública de saúde do Estado, contam com serviços de assistência domiciliar, além do São José, Hospital Geral Waldemar Alcântara, o Hospital de Messejana, o Hospital Geral Dr. César Cals, o Hospital de Saúde Mental de Messejana e o Hospital Infantil Albert Sabin.
Em 2020, de abril a dezembro, foram 81 pacientes acompanhados pelo SAD no São José. Neste ano, estão sendo realizados 35 atendimentos pelo serviço, dos quais 20 são de pacientes que tiveram Covid-19.
Lea Queiroz, fisioterapeuta e coordenadora do SAD no hospital, acredita que a iniciativa proporciona uma desospitalização segura aos pacientes acometidos pelo coronavírus e por outras doenças infectocontagiosas.
“Ano passado todos os SADs [do Estado] pararam por causa da pandemia e nós fomos os únicos que continuamos. Tínhamos medo que nossos pacientes piorassem e voltassem ao hospital. Todos os SADs atendendo fazem uma diferença tremenda no apoio à família”, comenta.
Segundo Lea, para ser atendido pelo serviço o paciente precisa ter sido internado no hospital e necessita ter pelo menos um cuidador. Isso porque a equipe trabalha em parceria com a família, “treinando” os cuidadores para manter o ritmo de exercícios com os pacientes.
A frequência das visitas também muda conforme os casos, assim como o tempo de assistência média varia a depender do paciente. Alguns são liberados após 15 dias, outros com mais sequelas chegam a ser acompanhados durante três meses.
A geriatra Ursula Wille Campos, diretora do SAD do Hospital Geral Waldemar Alcântara (HGWA), conta que a maioria das solicitações pelo atendimento domiciliar na unidade de saúde tem sido voltada para pacientes que tiveram a doença pandêmica.
“No mês passado recebemos 64 encaminhamentos, 33 eram pacientes com Covid-19. Ampliamos nossa equipe para dar conta dessa demanda e está dando certo até o momento”, afirma. Hoje, a equipe do SAD do Waldemar Alcântara está atendendo 210 pessoas em domicílio. São contemplados pelo serviço na unidade pacientes que tiveram o coronavírus, pessoas com doenças neurológicas, neuromusculares e até alguns casos de traumas.
Ambulatório Pós-Covid-19
Outra ação da rede pública que dá suporte aos pacientes que estão se recuperando do coronavírus é o Ambulatório Pós-Covid-19. Aberto no Hospital São José (HSJ) em abril de 2020, o serviço funciona às quartas e quintas-feiras e atende cerca de 20 a 25 pessoas semanalmente.
Às sextas-feiras, o acompanhamento é voltado para colaboradores da unidade hospitalar. O local fez 488 atendimentos no ano passado. O Hospital de Messejana e o Hospital César Cals também possuem Ambulatórios Pós-Covid-19. Quinze dias depois da alta, o paciente retorna para fazer novos exames e avaliações.
“Tem paciente que fica meses em acompanhamento domiciliar porque é acamado, por exemplo, enquanto outros só estão finalizando a reabilitação e já podem vir para consulta [presencial] no ambulatório”, explica a infectologista Melissa Medeiros, do HSJ.
Para ela, a iniciativa que se alia à SAD é importante porque permite liberar um paciente que não necessita mais de “da vigilância dentro do hospital, mas precisa continuar seu tratamento.”