ButanVac: hospital dos EUA diz que desenvolveu "vacina 100% brasileira"

Após reportagem da Folha de S. Paulo, o Instituto Butantan reconheceu que usou a tecnologia produzida nos EUA, mas considera que a vacina é brasileira porque é o "desenvolvedor da vacina" no País

23:46 | Mar. 26, 2021

Por: Leonardo Maia
João Doria apresentou ontem a ButanVac (foto: Reprodução/Twitter)

Após o Instituto Butantan anunciar que pediria autorização à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar testes clínicos com voluntários de sua nova vacina, o Hospital Mount Sinai, dos Estados Unidos, reivindicou a autoria do desenvolvimento do imunizante, de acordo com informações da Folha de S. Paulo.

Mais cedo, o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), considerou em suas redes sociais que a vacina era “100% brasileira” e produzida pelo Butantan. Ele não citou, no entanto, as parcerias com outras instituições internacionais, como com o hospital estadunidense. Isso também não aconteceu em entrevistas coletivas com jornalistas em São Paulo na quinta-feira.

Após reportagem da Folha que revelou a parceria com o Mount Sinai, o Butantan admitiu em novo comunicado que usa a tecnologia do Mount Sinai e que tem licença para fazê-lo. Além de ter desenvolvido a tecnologia, o hospital também foi responsável por conduzir ensaios pré-clínicos, feitos em animais em laboratório.

Parabéns a todos os cientistas e colaboradores do Butantan, o Instituto que trabalha há 120 anos a serviço da vida dos brasileiros. #ButanVac pic.twitter.com/quS8qcS6tP

— João Doria (@jdoriajr) March 26, 2021

Para a vacina, os ensaios clínicos da fase 1, que aguardam autorização da Anvisa no Brasil, já começaram na Tailândia e no Vietnã, com uma versão melhorada do imunizante. O Butantan considerou que as declarações do Mount Sinai foram “comunicado não oficial de um pesquisador de instituição norte-americana”.

A Folha ponderou, no entanto, que o pesquisador que entrevistou, Peter Palese, respondeu aos questionamentos em seu email corporativo, além de ser o detentor da patente do vetor e o responsável pelo desenvolvimento da vacina no hospital.

A vantagem do novo imunizante em relação aos outros já disponíveis, porém, é que todos os insumos necessários para fabricação da vacina são nacionais. As vacinas Coronavac/Sinovac e Oxford/Astrazeneca — as duas principais usadas no País — dependem da importação do ingrediente farmacêutico ativo (IFA).

“O desenvolvimento da vacina é feito completamente com tecnologia do Butantan. Entre as etapas feitas totalmente por técnicas desenvolvidas pelo instituto paulista, estão a multiplicação do vírus, condições de cultivo, ingredientes, adaptação aos ovos, conservação, purificação, inativação do vírus, escalonamento de doses, estudos clínicos e regulatórios, além do registro", considerou o Instituto em comunicado à Folha.

"No Brasil, o desenvolvedor da vacina é o Instituto Butantan. A vacina, portanto, é brasileira e dos brasileiros", finalizou o Butantan. O objetivo do Instituto é repassar 40 milhões de doses prontas até o fim deste ano. O desenvolvimento da Butanvac não irá alterar o cronograma da Coronavac.