"Kit Covid" leva pacientes à fila de transplante de fígado, afirmam médicos

Alta dosagem e interação medicamentosa lesionam gravemente os dutos biliares e pacientes precisam de transplante de fígado. Em São e Porto Alegre, três pacientes morreram antes de conseguir a cirurgia

Atualizada às 09h03min

O uso do chamado "kit Covid" levou cinco pacientes à fila do transplante de fígado em São Paulo e está sendo apontado como causa de ao menos três mortes por hepatite causada por remédios. O kit reúne medicamentos sem eficácia contra a Covid-19, mas continua sendo prescrito por alguns médicos e propagandeado por autoridades. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Hemorragias, insuficiência renal e arritmias são algumas das consequências que estão sendo observadas por profissionais de saúde entre pessoas que fizeram uso desse grupo de medicações, que incluem hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina e anticoagulantes. O aumento no número de pacientes que chegam ao pronto-socorro com algum efeito relacionado ao uso desses remédios coincide com a segunda onda da pandemia no Brasil.

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Em São Paulo, cinco pacientes que entraram na fila de transplante de fígado tiveram, nas semanas anteriores, diagnóstico de Covid-19 e receberam a prescrição do chamado “tratamento precoce”. Quatro foram atendidos no Hospital das Clínicas da USP e o outro no HC da Unicamp. Segundo os médicos, os pacientes chegam com pele amarelada e com histórico de uso de ivermectina e antibióticos.

"Quando fazemos os exames no fígado, vemos lesões compatíveis com hepatite medicamentosa. Vemos que esses remédios destruíram os dutos biliares, que é por onde a bile passa para ser eliminada no intestino”, diz Luiz Carneiro D’Albuquerque, chefe de transplantes de órgãos abdominais do HC-USP e professor da universidade. Com a destruição dos dutos, as substâncias tóxicas então ficam livres para circular pelo corpo e provoca infecções.

No HC da USP, dois pacientes tiveram doença aguda e morreram antes do transplante do órgão. Além deles, um óbito por doença hepática aguda foi registrado em uma unidade particular de Porto Alegre. O paciente foi levado para a emergência, onde começou a convulsionar. Exames revelaram que ele desenvolveu encefalopatia hepática, condição em que o cérebro é deteriorado por toxinas que o fígado não conseguiu filtrar.

“É uma combinação de altas dosagens com a interação de vários medicamentos. A substância desencadeia um processo em que a célula ataca outros células, levando a fibroses, que causam a destruição dos dutos biliares”, diz Ilka Boin, professora da Unidade de Transplantes Hepáticos do Hospital das Clínicas da Unicamp, onde um paciente aguarda transplante. A médica resssalta que as lesões não são compatíveis com as causadas pelo coronavírus.

"Não imaginavam que isso ia acontecer"

Um homem de 57 anos, que não quis ser identificado e que aguarda na fila de transplantes, conta ter  feito acompanhamento médico quando foi diagnosticado com Covid-19. "Acho que não imaginavam que isso poderia ocorrer comigo, alguém que não tinha nenhuma doença crônica”, relata, destacando que viu estudos preliminares que mostravam benefícios da droga.  

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