Conselho Federal de Medicina diz que medidas restritivas podem reduzir pressão no sistema de saúde

Autarquia federal ainda defendeu que "a vacinação contra a Covid-19 de todos os brasileiros, no menor espaço de tempo, é o caminho mais seguro" para evitar o contágio pelo coronavírus

22:15 | Mar. 10, 2021

Por: Lais Oliveira
Fortaleza segue em lockdown até o dia 18 de março. (foto: FABIO LIMA)

O Conselho Federal de Medicina (CFM) afirmou em nota publicada na última quinta-feira, 4, "que os governos devem considerar que a adoção de medidas restritivas de caráter local pode reduzir, momentaneamente, a pressão da demanda sobre o sistema de saúde, como tentativa de evitar o colapso". Posição veio após o Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF) publicar nota contra o lockdown no dia 1º de março. 

O POVO apurou que um dia após a manifestação do CRM-DF, um ofício do Conselho Federal chegou a ser enviado às unidades regionais orientando os conselhos estaduais "a não publicarem posicionamento em relação aos temas 'lockdown' e 'tratamento precoce', até que haja discussão e deliberação conjunta entre CFM e CRMs."

Contudo, até esta quarta-feira, 10, a nota contrária ao lockdown do CRM-DF permanecia no site oficial e nas redes sociais do órgão. A postura foi adotada após o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), decretar lockdown para conter o avanço da Covid-19.

Helvécio Neves Feitosa, presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará (Cremec), esclarece que recomendações como essa do CFM são comuns tratando-se de temas de abrangência nacional. Segundo ele, a medida da instância federal visa criar uma uniformidade no posicionamento da categoria. 

"Nós entendemos que o lockdown deve ser definido pelos setores da saúde que estão à frente da pandemia, que têm mais competência para isso", reitera. Enfrentando uma escalada de novos casos e altas taxas de internações, Fortaleza está em lockdown até o dia 18 de março

Autoridades sanitárias têm defendido o isolamento mais radical desde o começo da pandemia para barrar a transmissão do coronavírus. No Brasil, estados de todas as cinco regiões adotaram medidas restritivas para tentar barrar os efeitos da segunda onda da pandemia, que tem alta em mortes, casos e internações no País.

Na nota emitida na última semana, o Conselho Federal reforçou que o isolamento mais rígido pode evitar o colapso nos sistemas de saúde locais, porém, reconheceu que a medida também tem potencial de "gerar consequências graves e de efeito duradouro para a sociedade, como o fechamento de empresas, desemprego e surgimento de doenças mentais em adultos, jovens e crianças."

"A adoção de medidas restritivas de caráter local deve ser precedida de análise criteriosa de indicadores epidemiológicos, capacidade da rede de atendimento e impactos sociais e econômicos, devendo ser de curta duração e considerar as realidades específicas", disse o Conselho.

O documento ainda enfatiza que "a vacinação contra a Covid-19 de todos os brasileiros, no menor espaço de tempo, é o caminho mais seguro de se evitar que o contágio pelo coronavírus continue a causar adoecimento e mortes." O CFM finaliza agradecendo a todos os médicos e profissionais da saúde que permanecem "na linha de frente na defesa da vida."

A reportagem contatou o CRM-DF para saber se haveria uma mudança no posicionamento da unidade após a deliberação do Conselho Federal. No entanto, até a publicação desta matéria, não houve retorno. 

 

Leia a nota do Conselho Federal de Medicina na íntegra: 

NOTA À POPULAÇÃO
CFM se posiciona sobre medidas contra a Covid-19

Diante do aumento do número de casos de contaminação e óbitos decorrentes da pandemia de Covid-19, bem como da importância fundamental da proteção da saúde e da vida, o Conselho Federal de Medicina (CFM) ressalta que:

1) É fundamental que o brasileiro, no seu cotidiano, adote medidas como uso de máscaras, a higienização frequente das mãos, o distanciamento social e a proteção de olhos e mucosas, bem como os cuidados com os grupos vulneráveis, sendo estas reconhecidas, até o momento, como os meios eficazes de prevenir o aparecimento de novos casos de Covid-19. Para o CFM, observar essas regras protege a sua vida, de sua família e daqueles que você ama;

2) Além de providenciarem a infraestrutura adequada para os atendimentos, a fim de garantir a ampla assistência, os governos devem considerar que a adoção de medidas restritivas de caráter local pode reduzir, momentaneamente, a pressão da demanda sobre o sistema de saúde, como tentativa de evitar o colapso. Por outro lado, podem também gerar consequências graves e de efeito duradouro para a sociedade, como o fechamento de empresas, desemprego e surgimento de doenças mentais em adultos, jovens e crianças;

3) A adoção de medidas restritivas de caráter local deve ser precedida de análise criteriosa de indicadores epidemiológicos, capacidade da rede de atendimento e impactos sociais e econômicos, devendo ser de curta duração e considerar as realidades específicas;

4) O CFM enfatiza que a vacinação contra a covid-19 de todos os brasileiros, no menor espaço de tempo, é o caminho mais seguro de se evitar que o contágio pelo coronavírus continue a causar adoecimento e mortes. As vacinas representam a esperança de superação da pandemia e o CFM apoia incondicionalmente que elas sejam disponibilizadas para toda a população.

5) Finalmente, o CFM reforça o reconhecimento e agradecimento a todos os médicos e profissionais da saúde, que mesmo diante do perigo e do enorme desgaste físico e emocional, permanecem firmes na linha de frente na defesa da vida.

Brasília, 4 de março de 2021.

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA