Com casos no Ceará, nova variante do coronavírus pode causar reinfecção, aponta estudo
Pesquisadores da Universidade de Oxford e da Usp apontam que o surgimento e a rápida disseminação da nova variante podem explicar a segunda onda de emergência em Manaus
00:30 | Mar. 03, 2021
A variante brasileira do coronavírus que emergiu no fim de 2020, associada aos casos em Manaus, pode ser até 2,2 mais infecciosa que a tradicional cepa, além de driblar o sistema imunológico de pacientes que já tiveram a doença, levando a uma reinfecção. Segundo pesquisa feita por pesquisadores da Universidade de Oxford e Universidade de São Paulo, ainda sem revisão acadêmica, em um grupo de pessoas que já possuem anticorpos contra o vírus da linhagem original do Sars-Cov-2, entre 25% a 61% pacientes tiveram uma nova infecção.
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O estudo é baseado na análise do material genético de 184 amostras de vírus colhidas entre novembro e janeiro. Com o cruzamento de dados genômicas do vírus e os números da epidemia, a pesquisa sugere que a variante do vírus é mais transmissível e pode causar reinfecção. A pesquisa foi anunciada na última sexta-feira, 26, e é liderada pelo cientista português Nuno Faria, da Universidade de Oxford, em colaboração com Ester Sabino, do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP).
No trabalho, os pesquisadores apontam que o surgimento e a rápida disseminação da nova variante podem explicar a segunda onda de emergência em Manaus, que levou à sobrecarga do sistema de saúde. Segundo eles, a P.1, como é chamada a nova cepa, emergiu no início de novembro, mais de um mês antes de ser inicialmente detectada, e em apenas sete semanas se tornou dominante na região. "Na verdade, houve muito mais casos do que no pico anterior, que havia sido no final de abril", disse o Dr. Faria ao jornal The New York Times.
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"A análise do relógio molecular mostra que P.1 emergência ocorreu por volta do início de novembro de 2020 e foi precedida por um período de mais rápido evolução molecular. Usando um modelo dinâmico de duas categorias que integra genômica e dados de mortalidade, estimamos que P.1 pode ser 1,4-2,2 vezes mais transmissível e capaz de evitar 25-61% da imunidade protetora provocada por infecção anterior com linhagens não P.1", afirma o texto.
Os pesquisadores apontam também que estudos para avaliar a eficácia da vacina em resposta ao P.1 são urgentemente necessários. Os estudiosos afirmam ainda que até uma ampla parte da população ser vacinada, intervenções não farmacêuticas e as medidas sanitárias, como uso de máscara e distanciamento social, devem continuar a desempenhar um papel importante na redução do surgimento de novas variantes.
O P.1 está se espalhando pelo resto do Brasil e já foi encontrado em outros 24 países e tem preocupado cientistas. Liderado por pesquisadores brasileiros de instituições como USP e Unicamp, uma outra pesquisa sugere que a nova variante pode escapar dos anticorpos produzidos pela Coronavac, vacina da farmacêutica Sinovac fabricada pelo Instituto Butantan, principal imunizante usado na campanha de vacinação contra a Covid-19 no País. O artigo foi publicado nesta segunda-feira, 1º, na página de pré-prints, artigos ainda não revisados por outros cientistas, da revista científica The Lancet.
Outro estudo apresentado por pesquisadores da Fiocruz mostrou que os pacientes infectados pela variante brasileira P.1 têm uma carga viral dez vezes maior do que adultos infectados por outras variantes do vírus.
No Ceará
No Estado, o número de pacientes com a nova variante está aumentando. Segundo secretário da Saúde do Estado, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Dr. Cabeto, a análise do sequenciamento de novos casos suspeitos da variante de Manaus do novo coronavírus está praticamente concluída e o número deve aumentar.
Em menos de uma semana, foram contabilizados mais 51 casos suspeitos da nova variante. Até o último dia 24, 190 casos suspeitos de infecção pelo nova forma do vírus estavam sendo analisados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Ceará e no Amazonas, por meio de sequenciamento total. Mais 51 foram informados nesta segunda-feira, 1º, totalizando 241.
Esse casos estão sendo monitorados pela Secretaria da Saúde (Sesa) e as amostras foram enviadas para análise. Até o momento, apenas três casos foram confirmados e há 13 mortes sendo investigadas para a variante.
O estudo brasileiro começa a analisar dados concretos e coincidem com o que tem sido identificado nas linhas de frente. "Essa mutação pode estar interferindo no perfil que estamos vendo, de um nível de contágio muito maior, de uma população mais jovem com formas mais graves da doença e com tempo de entrada na fase inflamatória um pouco mais demorado", explica o titular da pasta.