Casos infantis de Covid-19 em Fortaleza; entenda a situação atual e tire dúvidas

Conforme dados da plataforma Integrasus, nesta quinta-feira, 4, os leitos de enfermaria infantil para a Covid-19 em Fortaleza estão com 75,7% de ocupação

Com sintomas mais leves ou ausentes, crianças e adolescentes não figuram entre os grupos de risco da Covid-19. Entretanto, com o movimento de volta às aulas concomitante a um processo de aumento dos casos da doença, as preocupações relacionadas a esse público crescem.

Em Fortaleza, os leitos públicos de UTI infantil para a Covid-19 estão concentrados no Hospital Infantil Albert Sabin (Hias). Já os leitos de enfermaria Covid-19 estão no Hospital Infantil Filantrópico Sopai. Segundo o pediatra e diretor técnico da unidade, Fabrício Menezes, a taxa de positividade para o coronavírus entre crianças e adolescentes internados vem crescendo progressivamente.

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“A gente tem percebido claramente um aumento da quantidade de crianças e um aumento da positividade das crianças internadas”, afirma. Em quatro meses a positividade dos testes no Sopai quadruplicou. Em outubro de 2020, 309 pacientes foram testados e 24 deram positivo - o equivalente a 7,7%. Até o dia 28 de janeiro, de 220 pacientes, 77 (35%) testaram positivos.

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Para ele, que também coordena a UTI Covid do Hias, a queda do isolamento social, a volta das aulas e “comportamentos inadequados dos adultos” estão entre os fatores que podem explicar essa alta. “A sequência da segunda onda está caminhando. Europa, Estados Unidos, Manaus... e aí Ceará, São Paulo e Rio de Janeiro, como na primeira.”

“Pacientes graves em pediatria são uma pequena porcentagem, mas uma pequena porcentagem de muita gente é um número considerável. A gente tem que vigiar muito de perto a disponibilidade de leitos de UTI pediátrica”, aponta Fabrício. Na unidade, que tem 60 leitos de enfermaria usados como retaguarda pelo Município para casos de Covid-19, dez leitos de UTI devem ser inaugurados durante a segunda quinzena de fevereiro.

Conforme dados da plataforma Integrasus, nesta quinta-feira, 4, os leitos de enfermaria infantil para a Covid-19 em Fortaleza estão com 75,7% de ocupação. Já os de UTI infantil estão com 82,1%. No Ceará, as taxas são de 67,4% em enfermaria e 79,3% em tratamento intensivo.

 

Bate-pronto 

O POVO - Nas últimas semanas, temos observado uma maior ocupação das unidades de saúde dedicadas a casos pediátricos da Covid-19 em Fortaleza. Como a senhora tem observado isso? O que pode explicar esse cenário?
Bárbara Montenegro - A gente teve sim um aumento dos casos, principalmente no Hospital Infantil Albert Sabin e no Sopai. Essa alta ainda não se refletiu na rede particular; lá praticamente não temos casos de crianças internadas nas UTIs com confirmação de Covid-19. A nossa percepção é de que o cenário está assim porque o Hias e o Sopai atendem já muitos pacientes crônicos internados com comorbidades e atendem muitos encaminhamentos de outras unidades públicas.

Outro ponto é que nesse momento já há um aumento anual de viroses e infecções respiratórias em crianças. A diferença é que agora os sintomas são compatíveis também com Covid. Mas, de um modo geral, as crianças saudáveis e sem histórico de internações desenvolvem quadros muito leves e ainda há uma baixa positividade dos testes de PCR para crianças.

OP - E, nesse sentido, a Covid-19 pode ser confundida com essas doenças ou vice-versa?
Bárbara - Os sintomas são muito semelhantes, então é possível se confundir e os diagnósticos precisam ser mais apurados. Do mesmo modo que existe a pesquisa do coronavírus, existe a pesquisa de outros vírus (H1N1, por exemplo). Não são todos os laboratórios que fazem, mas com certeza é algo que vamos passar a pedir mais nesse ano; tanto o teste da Covid quanto esses outros.

OP - As novas variantes são uma preocupação no sentido de mais casos ou casos mais graves entre as crianças?
Bárbara - Não temos esse dado certo ainda. O que sabemos é da maior transmissibilidade em adultos, o que pode ser que aconteça também em crianças. Termos mais casos, mas não casos mais graves. Mas só o tempo pode nos responder com certeza. Hoje, ainda não temos casos pediátricos confirmados com nova cepa, mas temos casos sendo investigados. 

OP - A volta às aulas presenciais é uma questão para muitas famílias. Qual a recomendação da senhora em relação a esse tema?
Bárbara - Não existe decisão fácil e 100% segura. No final, quem pode decidir são os pais e cuidadores. O que a gente pode é fornecer alguns dados para essa tomada de decisão. Crianças que têm alguma doença prévia e que se internam muito, não devem voltar ainda; devem esperar a vacina chegar até eles. Aquelas saudáveis e, principalmente, as maiores de 4 anos deveriam voltar com as devidas proteções. Mas cada caso é um caso, é preciso pensar se ela mora com pessoas de grupo de risco, se os pais estão saindo de casa, se a criança está atrasando no desenvolvimento e aprendizagem por falta dos estímulos.

OP - Por enquanto, as crianças não podem ser vacinadas contra a Covid-19, certo?
Bárbara - Certo e não é por acaso ou descaso. Isso se deve aos estudos que indicam baixíssima gravidade nas crianças. Viu-se a necessidade maior de testar em adultos e idosos, que têm mais riscos. Se as crianças tivessem tantos casos graves, os pesquisadores já teriam testado nelas.

OP - Diante disso, quais os principais cuidados que devemos trabalhar com as crianças?
Bárbara - É preciso pensar tanto nos cuidados cotidianos quanto nos específicos para escola. As crianças devem ter orientação permanente para lavar as mãos, usar álcool gel e, especialmente as maiores, usar máscaras.

No caso de voltar às aulas, levar o lanche ou os utensílios de alimentação de casa; quando voltar, sempre tomar banho assim que chegar em casa e estar atento às condições das escolas. A gente tem que bater na tecla dessas medidas: número reduzido de crianças nas salas, higienização diária das carteiras, recreios separados das séries, não ter bebedouro coletivo, horários de entrada e saída separados e, claro, condições para os professores (máscara e face shield). Além de orientação semanal para reforçar esses cuidados.

Bárbara Montenegro é intensivista pediátrica, atuando tanto na rede pública quanto na rede particular de Fortaleza. Tem formação em Pediatria e terapia intensiva pela Universidade de São Paulo (USP)

 

Por que crianças seriam menos propensas à Covid-19?

Embora a resposta para a maior resistência das crianças ao Sars-Cov-2 não seja um consenso entre pesquisadores, alguns estudos trazem indícios de que uma combinação de características no sistema imunológico infantil pode ser uma das explicações.

Em entrevista à revista Nature, Donna Farber, imunologista da Universidade de Columbia, em Nova York conta que em um estudo com 32 adultos e 47 crianças de até 18 anos, ela e colegas descobriram que as crianças produziam principalmente anticorpos direcionados à proteína spike, que o vírus usa para entrar nas células. Os adultos geraram anticorpos semelhantes, mas também desenvolveram anticorpos contra a proteína do nucleocapsídeo, que normalmente é liberada em quantidades significativas apenas quando um vírus está disseminado no corpo.

As crianças também são o principal reservatório de vírus sazonais que causam o resfriado comum. Alguns pesquisadores sugerem que os anticorpos para esses patógenos podem conferir alguma proteção contra o Sars-CoV-2, mas as evidências são mistas. Outros cientistas indicam evidências de que, quando as crianças são expostas ao vírus, elas recebem uma dose menor do que os adultos, porque seus narizes contém menos receptores ACE2, que o vírus usa para ter acesso às células.

 

Os números da pandemia

Segundo dados da plataforma IntegraSUS, atualizados às 18h10min dessa quarta-feira, 3, em todo o Ceará 23.739 pessoas entre 0 e 14 anos tiveram infecção confirmada pelo coronavírus. Na Capital, foram 3.854 crianças e adolescentes desde o início da pandemia.

Em relação aos óbitos, 42 foram registrados nessa faixa etária por complicações da Covid-19. Destes, sete foram em Fortaleza.

Ao todo, 378.198 cearenses foram diagnosticados com Covid-19 e 10.556 morreram em decorrência da doença.

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