Ceará fecha áreas de lazer de condomínio, reativa leitos e recomenda não viajar

Novas ações foram anunciadas em coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira, 21, após agravamento do cenário da pandemia no Ceará

11:40 | Jan. 21, 2021

Por: Redação O POVO
Comitê que delibera sobre medidas de enfrentamento à Covid-19 se reuniu hoje, 21. (foto: Reprodução/Facebook)

O Ceará terá áreas de lazer fechadas em condomínios de praia e haverá ampliação na rede assistencial com cerca de 100 novos leitos de UTI para Covid-19 após aumento da demanda, segundo anunciou em entrevista coletiva, na manhã desta quinta-feira, 21, o governador Camilo Santana (PT). O governador também informou que o novo decreto estadual vai recomendar a não realização de viagens intermunicipais.

Além da proibição do uso de áreas comuns de lazer nos condomínios de praia, haverá recomendação de protocolos nos condomínios urbanos. "Nossa intenção é não tomar nenhuma medida que afete a economia do Estado, mas vamos avaliar semana a semana", disse o governador. Ele informou também que irá intensificar a fiscalização em bares, restaurantes e punir estabelecimentos reincidentes.

"Esse aumento de casos não vinha refletindo na demanda assistencial, na demanda das Upas [Unidades de Pronto Atendimento] e nos óbitos. Porém, nas últimas semanas houve aumento na demanda assistencial, principalmente na Capital. Isso acende um alerta", explicou o governador.

O governador destacou também a necessidade de evitar aglomerações e de utilizar máscara. "Exatamente para diminuir o fluxo de contaminação vamos recomendar que a população não viaje nos transportes intermunicipais", emendou.

Apesar de comemorar o início da vacinação contra Covid-19 no Estado, Camilo ponderou que ainda não há previsão para chegada de novas doses da vacina. Daí a importância de manter os cuidados básicos de prevenção ao coronavírus.

Ainda de acordo com o chefe de Executivo estadual, hoje será realizada uma reunião com o setor da área de transporte público "para trabalhar uma fiscalização e alternativas para reduzir também o problema da aglomeração em transportes públicos, principalmente aqui em Fortaleza".

O prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), também garantiu que locais que registram aglomeração de forma recorrente terão mais fiscalizações. "Nossos agentes de fiscalização e policiamento irão nos locais onde reiteradamente as pessoas têm quebrado o protocolo e ameaçado a saúde da população", assinalou. 

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Aumento de leitos

Conforme o titular da Saúde, Dr. Cabeto, a projeção de ampliação em duas semanas gira em torno de 100 leitos novos de UTI, "bem acima da necessidade hoje projetada", segundo garantiu, para que se tenha "bastante segurança". Isso inclui também aos insumos como materiais anestésicos, analgésicos, EPIs. 

"Os hospitais regionais do interior estão tendo reativação dos leitos de campanha. Alguns deles, estamos aumentando de 10 a 20 de leitos de UTI e a mesma quantidade de enfermaria em cada hospital regional", completou. Ele citou entre as unidades contempladas o Hospital Leonardo Da Vinci e o Instituto Doutor José Frota (IJF).

Segundo Cabeto, o Ceará decidiu no passado não retirar hospitais de campanha montados no HSJ, HGF e Hospital de Messejana, "exatamente para compreender como a pandemia ia evoluir." No HGF e no Hospital de Messejana, há duas semanas os leitos de campanha voltaram a receber pacientes com Covid-19.

Aumento de casos em crianças

O Dr. Cabeto comentou também sobre um aumento de infecções pelo coronavírus em crianças, bem como de internações graves. A demanda maior foi registrada no Hospital Infantil Albert Sabin (Hias). "Nos últimos sete dias houve uma mudança no número de internações que anteriormente não estava acontecendo. Estamos com o dobro do atendimento em Covid-19 no Albert Sabin", disse.

O apoio ao atendimento infantil está sendo ampliado em parceria com o Hospital Infantil Filantrópico (Sopai), de acordo com o secretário. Segundo o titular da pasta de saúde, esse aumento será investigado mais detalhadamente. Uma reunião com a diretoria do Albert Sabin deve ocorrer ainda hoje para acompanhar a evolução desses casos. 

A secretária de Saúde de Fortaleza, Ana Estela Fernandes, disse que a alta taxa de ocupação nos leitos infantis tem gerado alerta. "Tudo o que tá acontecendo hoje são cenários que nos colocam em alerta e que precisam ser estudados", acrescentou. 

Preocupação com o cenário

A reunião do Comitê Estadual de Enfrentamento à Covid-19, que delibera sobre os decretos sanitários e é realizada às sextas-feiras, foi antecipada para esta quinta-feira, 21, diante da situação de agravamento da pandemia. Ainda na quarta-feira, 20, Camilo expressou preocupação com a situação.

Conforme O POVO mostrou nesta quinta, o número de atendimentos por Síndrome Gripal em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) mais do que dobrou comparando os meses de outubro, mês de início da segunda onda, e os 19 dias de janeiro.

A Capital cearense é classificada em nível altíssimo de incidência de casos (o mais extremo), com 209,7 registros por 100 mil habitantes a cada dia. Contudo, a segunda onda já é registrada em todas as regiões do Estado, em níveis diferenciados. Os dados são da plataforma IntegraSUS, da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa).

Considerando o aumento de casos, ontem, 20, o Hospital Geral de Fortaleza (HGF) suspendeu os estágios acadêmicos da unidade (com exceção das residências médica e multiprofissional) por período indeterminado. A medida busca restringir a circulação interna de pessoas na unidade.

Segundo o professor José Soares de Andrade Júnior, do Departamento de Física da Universidade Federal do Ceará (UFC), cientista-chefe da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) e integrante do Comitê Estadual de Enfrentamento à Covid-19, há circulação viral comunitária na Capital.

Ele informa ainda que já há aumento de casos em outras regiões. "Todas as macrorregiões têm um padrão de aumento relativo de casos. Algumas maior, como Cariri, e em outras menor, como Sobral. Cada uma tem populações distintas e densidades populacionais distintas", acrescenta.



A médica epidemiologista Lígia Kerr, professora e pesquisadora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da UFC, defende que medidas de restrição mais rígidas devem ser tomadas para evitar agravamento do cenário, bem como aumento da fiscalização.

"Nós provavelmente, em algum momento, vamos ter de fechar alguma coisa. Não temos medidas farmacêuticas ainda. Se não fechar, podemos atingir os níveis da primeira onda. Com uma mortalidade menor porque tem atingido mais jovens, por enquanto", alerta Lígia, integrante do Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste.

 

com informações da repórter Ana Rute Ramires