Aplicativo do Ministério da Saúde receita cloroquina como tratamento precoce contra Covid-19 até para recém-nascidos
A indicação de uso do medicamento pode ser feita até a um recém-nascido com diarreia e febre, pois a idade não interfere na pontuação apresentada pela ferramentaAtualizada às 23 horas
O aplicativo TrateCOV, lançado pelo Ministério da Saúde (MS), para orientar médicos no tratamento contra a Covid-19, recomenda uso de antibióticos e cloroquina, ivermectina e outros medicamentos para náuseas, diarreia, fadiga e dor de cabeça como “tratamento precoce” da doença. O tratamento indicado pela ferramenta inclui a cloroquina que, conforme estudos, não funciona contra o novo coronavírus, no qual também ainda não há um tratamento precoce eficaz contra a doença.
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O TrateCOV fica localizado dentro de uma página do MS, onde médicos e enfermeiros podem inserir dados do paciente, como idade, peso, altura e comorbidades, além dos sintomas do paciente. Também há campos em que o profissional responde se o paciente saiu ou não de casa nas últimas duas semanas e para onde foi. No aplicativo, a indicação de uso de cloroquina e antibiótico pode ser feita até a um recém-nascido com diarreia e febre, pois a idade não interfere na pontuação apresentada pelo aplicativo.
O aplicativo foi lançado na semana passada pelo o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, quando estava na cidade de Manaus, Amazonas, em meio à alta de casos da doença na cidade. Conforme o Ministério da Saúde, o TrateCOV sugere o diagnóstico por meio de sistema de pontos que obedece “rigorosos critérios clínicos”. O teste com o produto é feito em Manaus, onde mais de 340 profissionais de saúde foram cadastrados no sistema. O ministério afirma que deseja expandir o uso a outras cidades. As informações são do jornal “O Estado de S. Paulo”.
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Simulação no TrateCOV
Em simulação no aplicativo, O POVO preencheu os campos para saber o tratamento indicado para os sintomas apresentados. Os sintomas apresentados na simulação foram fadiga, dor de garganta e diarreia, sintomas pouco comuns em pacientes com Covid-19, sem comorbidades e saída de casa nas últimas duas semanas 2 vezes ao supermercados.
Na simulação, os sintomas do paciente começaram há 2 dias, início dia 18 de janeiro. Apesar de não apresentar sintomas específicos da Covid-19, como queda de saturação ou falta de ar, o aplicativo indica um “escore de gravidade” 9. No aplicativo, o mínimo para haver um diagnóstico de Covid-19 é 6.
Com o resultado, a página indica o "tratamento precoce" contra a doença. Em caso do profissional da saúde optar pelo o tratamento precoce nessa simulação, a opção será:
No Twitter, internautas resolveram fazer simulações da nova ferramenta do Governo Federal.
Tb fiz minha simulação no app TrateCov, do Ministério da Saúde. Afirmei ter ido ao supermercado 2x e ñ ter comorbidades. Sintomas: fadiga e dor de cabeça há 1 dia. Sai com uma receita q inclui 2 antibióticos. É inacreditável. pic.twitter.com/bso3ELYEfB
— Mariana Varella (@marivarella) January 20, 2021
Experimentos com o TrateCov: disse pro aplicativo que tenho mialgia e lombalgia (dor no corpo e dor lombar), que nunca saio de casa e não tenho contato com ninguém. Recomendação? Meter cloroquina.
Ao divulgar o aplicativo na página da pasta, o Ministério da Saúde disse que desenvolveu o aplicativo para auxiliar os profissionais de saúde na coleta de sintomas e sinais de pacientes visando aprimorar e agilizar os diagnósticos da Covid-19, o Ministério da Saúde desenvolveu o aplicativo TrateCOV. Seja presencialmente ou por teleconsulta, a plataforma traz autonomia aos profissionais de saúde habilitados para encaminhar o atendimento e resposta adequados para o paciente de acordo com cada caso.
Ainda conforme a pasta, a plataforma traz ao médico cadastrado um ponto a ponto da doença, guiado por rigorosos critérios clínicos, que ajudam a diagnosticar os pacientes com mais rapidez. Depois disso, o TrateCOV sugere algumas opções terapêuticas disponíveis na literatura científica atualizada, sugerindo a prescrição de medicamentos. Assim, o diagnóstico sai mais rápido e o tratamento tem início precocemente, contribuindo na redução de internações e óbitos por Covid-19.
Especialistas
O Conselho Federal de Medicina (CFM) determinou uma análise do aplicativo. O trabalho será conduzido por conselheiros e assessores técnicos e jurídicos que avaliarão aspectos clínicos, jurídicos e éticos relacionados à ferramenta. Conforme o Conselho, independentemente do aplicativo citado, o CFM reitera que mantém o entendimento do seu Parecer 4/2020, no qual informa que “até o momento, não existem evidências robustas de alta qualidade que possibilitem a indicação de uma terapia farmacológica específica para a covid-19”.
"Conforme traz o texto, “desde o final de 2019 existem dezenas de medicamentos em testes, e muitos dos resultados desses estudos estão sendo divulgados diariamente. Muitos desses medicamentos têm sido promissores em testes em laboratório e através de observação clínica, mas nenhum ainda foi aprovado em ensaios clínicos com desenho cientificamente adequado, não podendo, portanto, serem recomendados com segurança. O CFM continua atento aos desdobramentos relacionados à pandemia de covid19, no Brasil e no mundo, agindo de modo isento, idôneo e transparente em favor da qualidade da assistência e dos direitos de médicos e de pacientes.”, disse a nota enviada ao O POVO.
Contradição
O Conselho Federal de Medicina (CFM) cita, conforme o Parecer 4/2020, que “até o momento, não existem evidências robustas de alta qualidade que possibilitem a indicação de uma terapia farmacológica específica para a covid-19”. No entanto, na conclusão do mesmo Parecer, a Instituição recomenda o uso da cloroquina no tratamento da doença.
O CFM diz que “com base nos conhecimentos existentes relativos ao tratamento de pacientes portadores de Covid-19 com cloroquina e hidroxicloroquina, o Conselho Federal de Medicina propõe considerar o uso em pacientes com sintomas leves no início do quadro clínico; o uso em pacientes com sintomas importantes, mas ainda não com necessidade de cuidados intensivos, com ou sem necessidade de internação e o uso compassivo em pacientes críticos recebendo cuidados intensivos”.