Como funciona o processo de imunização após a vacina

Pessoas que receberem a primeira dose da vacina contra a Covid-19 não estarão imediatamente imunes à doença. Uso de máscaras e realização de distanciamento social ainda serão necessários por um bom tempo

16:45 | Jan. 18, 2021

Por: Lais Oliveira
A vacinação está prevista para começar nesta segunda-feira, 18, nas capitais do País. (foto: Reuters/Michael Weber/Imago Imagens/Direitos reservados)

Vacinas servem para treinar o sistema imunológico na resposta a um invasor que pode causar doenças. Quando o organismo humano recebe uma vacina, o corpo dá início a um processo de geração de memória imunológica, que vai proteger o vacinado contra futuros ataques. É por isso que aqueles que receberem a primeira dose da vacina contra a Covid-19 não estarão imediatamente imunes à doença.

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No Brasil, as duas vacinas aprovadas para uso emergencial — Coronavac e Oxford/AstraZeneca — precisam ser tomadas em duas doses para garantir sua eficácia máxima. A vacinação está prevista para começar nesta segunda-feira, 18, nas capitais do País.

“Tomada a segunda dose, depois de 14 dias em média, se considera uma pessoa imune. Isso porque o sistema imunológico precisa de um tempo para organizar a resposta e produzir células de memória que são efetivamente o que vai proteger o indivíduo”, adverte o imunologista Edson Teixeira, do Departamento de Patologia e Medicina Legal da Universidade Federal do Ceará (UFC).

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O primeiro desfecho esperado da vacina contra a Covid-19 é evitar o agravamento dos casos e uma consequente sobrecarga na rede pública de saúde. Mas para os vacinados vale o alerta: mesmo 14 dias após a segunda dose, ainda será necessário manter o uso da máscara e fazer distanciamento social.

A possibilidade de contrair uma infecção assintomática e transmitir a doença a alguém não imunizado não está totalmente descartada. “Por um bom tempo, até que a epidemiologia nos mostre que o contágio também é prevenido pelas vacinas, a gente vai ter de usar máscaras”, estima Edson, também coordenador do Laboratório Integrado de Biomoléculas (Libs/UFC).

Ligia Kerr, epidemiologista e professora do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da UFC, reforça que o alcance da imunidade de rebanho vai depender da disponibilidade das vacinas e das estratégias adotadas para sua distribuição. Ela reitera a necessidade de manter as medidas de proteção básicas.

“Você vai estar mais protegido [após ser vacinado], a probabilidade de adquirir a doença grave é pequena se tiver vacinado, mas você tem ao seu redor um monte de gente que não foi vacinado. Então você vai continuar exposto ao vírus”, alerta.

Para a professora, a vacina contra a Covid-19 deverá ser aplicada na população anualmente, a exemplo da vacina da gripe. “Alguns estudos mostram que os anticorpos para outros coronavírus causadores de resfriados comuns requerem vacinação anual. A queda registrada nos anticorpos contra o Sars-Cov-2 sugerem que isto possa acontecer com a vacinação contra a Covid-19 também”, completa.

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Na perspectiva da enfermeira infectologista Lúcia Duarte, será preciso vacinar entre 70% e 80% para barrar a transmissão do coronavírus. O plano de vacinação do Governo Federal prevê 49,6 pessoas imunizadas nas três primeiras etapas, que deverão durar quatro meses.

Com a aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), as vacinas entram agora na fase 4, onde será observada sua efetividade na vacinação em massa. Em todas as três fases clínicas anteriores, no entanto, existem seguranças protocolares garantidas, vale frisar.

De acordo com Lúcia, que também é coordenadora do GT de enfrentamento à pandemia de coronavírus na Universidade Estadual do Ceará (Uece), ainda é possível a ocorrência de efeitos adversos da vacina nessa fase atual, daí a relevância do monitoramento e da notificação de efeitos adversos.

“Mesmo tendo sido testada em um número razoável de pessoas ainda precisamos acompanhar se essas pessoas que vão utilizar terão algum sintoma, algum efeito colateral”, afirma.

O imunologista Edson Teixeira concorda. Ele avalia que quando se vacinam grandes quantidades de pessoas, com diferentes genéticas, comportamentos e história de imunização, eventos raros podem acontecer. Porém, a proteção oferecida pelo imunizante é “infinitamente maior do que a possibilidade do aparecimento desses casos raríssimos''.

Tira-dúvidas sobre a vacina

Porque as duas vacinas aprovadas no Brasil podem ser consideradas seguras?

As vacinas passam por três fases antes de serem liberadas. Um dos itens mais importantes a ser considerados é a segurança. Quando elas são liberadas para a fase 4, tem de haver segurança necessária para que os eventos adversos sejam leves e toleráveis, como é o caso da Coronavac e da Oxford/Astrazeneca.

Essas duas vacinas aprovadas usam metodologias que há sete décadas são utilizadas para fazer várias vacinas que utilizamos na rotina no mundo inteiro e são as que menos têm apresentado efeitos adversos.


Por que duas doses são necessárias?

Cada vacina tem um esquema que é verificado durante o protocolo do desenvolvimento ideal para se atingir a eficácia máxima. Ou seja, para cada antígeno (agente - vírus, bactéria, molécula, pedaço de molécula) que se utiliza há um esquema que garante ao final uma eficácia máxima.

Vacinas com vírus inativos, como a Coronavac, precisam de mais doses para estimular ao máximo o sistema imune a produzir a eficácia apresentada nos estudos.


Por que as vacinas foram desenvolvidas tão rápido?


Os arcabouços científicos para o desenvolvimento dos imunizantes existiam há anos. Além disso, dada a urgência mundial causada pela pandemia, houve uma troca imensa de informações entre laboratórios internacionais que cooperaram num esforço hercúleo para a chegada até uma vacina eficaz.


Podem ocorrer efeitos adversos graves nessa fase?

Ainda que pouco prováveis, esses eventos adversos podem ocorrer durante a fase 4 (vacinação em massa). Isso porque estão sendo vacinadas grandes quantidades de pessoas diferentes. Esses casos podem nem sequer aparecer porque os dados de segurança produzidos até a fase 3 de estudos clínicos, na qual milhares de pessoas são vacinadas, garantem que essa vacina possa ser liberada para uso emergencial

Porém, especialistas ressaltam que os benefícios dos imunizantes são muito maiores do que a chance de um eventual efeito colateral. Os efeitos colaterais esperados são de natureza leve, como dor no local da injeção, dor muscular e dor de cabeça, além de fadiga.

Além disso, a metodologia utilizada nas duas vacinas aprovadas no Brasil são seguras e conhecidas há sete décadas, sendo utilizadas em outras vacinas cotidianas.

Fontes: Lúcia Duarte (Uece), Edson Teixeira (UFC), Lígia Kerr (UFC e Manual Noticiando Vacinas da Agência Bori