Infectologista dá dicas de como celebrar Ano Novo de forma segura e alerta: "Embora a gente queira dar tchau para 2020, 2021 é uma continuação"

O ideal é comemorar em pequenos grupos, de preferência com quem você já convive e tem contato. Pessoas com mais de 60 anos e/ou que têm baixa imunidade devem evitar esses locais

13:05 | Dez. 28, 2020

Por: Gabriela Feitosa

Embora todo mundo esteja ansioso para se despedir de 2020, é importante relembrar que o risco de infecção, complicação e morte pelo coronavírus continua em 2021. É o que alerta Melissa Medeiros, infectologista do Núcleo de Oncologia e Hematologia do Ceará (Nohc) e Hospital São José (HSJ). Ao O POVO, a especialista deu dicas de como celebrar o Ano Novo de forma segura e reforçou: é preciso evitar ir às praias nesse período. "O problema é que não é só ir para a praia. As pessoas vão aglomerar. O vento com velocidade maior faz com que o vírus seja transmitido a distâncias menores", explica Melissa.

Portanto, apesar de já ser tradição pular as sete ondas, o ideal é celebrar a virada de ano em ambientes abertos, com poucas pessoas (de preferência com quem você já convive e tem contato). "Pensar na proteção do outro também", acrescenta a infectologista. E pensar no outro pode ser uma ótima meta para o ano que chega.

Com o aumento de casos no Brasil, as reuniões de fim de ano perigam se tornar pesadelos nos próximos meses. Melissa indica que pessoas acima de 60 anos e/ou que têm baixa imunidade, sofrem com alguma doença crônica ou estão em qualquer condição que aumente o risco de complicações caso sejam infectadas, fiquem distantes desses encontros.

O uso de máscara, álcool em gel e distanciamento de ao menos dois metros continuam sendo recomendados por especialistas. No entanto, de acordo com a infectologista, muitas pessoas se sentem seguras em certos locais e retiram suas máscaras. A atitude pode ser um risco tanto para ela quanto para os outros. "Só retirar a máscara quando for se alimentar. Quando for fazer seu prato ficar distante. O ideal é que uma pessoa sirva todo mundo", exemplifica.

A última dica é uma boa saída, já que os utensílios circulam por menos mãos (só não vale sobrecarregar as mulheres da casa). "Importante a gente saber que algumas pessoas estão se reinfectando. A imunidade é temporária", alerta Melissa.

Já sobre o ambiente ideal, Melissa conta que locais abertos e grandes ajudam a garantir que o distanciamento seja seguido. "O ideal é que você comemore em pequenos grupos, poucos grupos. Organizar nos próprios prédios, celebração a distância", comenta. Para os jovens, Melissa pede ainda mais atenção.

Segundo ela, o público tem sido responsável por parte das transmissões e não estão isentos de um quadro mais grave da doença, apesar de as complicações serem mais intensas em pessoas idosas ou com outras fragilidades. "O ideal era a gente pular as celebrações. Embora a gente queira dar tchau a 2020, 2021 é uma continuação. Temos que tentar nos resguardar", encerra.

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Crescente alta de casos preocupa coletivo de médicos cearenses

Os médicos do coletivo cearense Rebento, que desde início da pandemia vêm fortalecendo o debate sobre prevenção, tratamento e cuidados com a Covid-19, compartilharam uma minicartilha alertando os perigos das aglomerações nesse fim de ano, além de preocupação geral com a alta do número de casos de coronavírus.

A avaliação dos membros do coletivo apontam como "extremamente preocupantes os níveis crescentes dos indicadores epidemiológicos, com novos casos e suspeitas se multiplicando nos círculos familiares e profissionais, entre outros".

Os médicos e médicas do coletivo alertam que é preciso haver uma comunicação mais direta, presente e enfática do Poder Público, quanto a termos entrado em um novo momento de alto risco para todos e todas. A preocupação é que, diante da ausência de comunicação mais ostensiva sobre o tema, ainda não esteja explícito para as pessoas o grave risco que todos correm.

O coletivo cearense é formado por médicos e médicas de diversas especialidades, incluindo infectologistas, pneumologistas e epidemiologistas. Confira o material:

> Pessoas não "acordaram": riscos estão sendo subestimados

Os elevados riscos do atual momento estão sendo subestimados pela sociedade, na opinião do coletivo, seja por falta de informação clara, explícita e enfática quanto ao grave cenário atual em Fortaleza e no Ceará, seja por falta de suporte econômico e social do governo para que mais pessoas possam ficar em casa.

> Cresce a preocupação com o contágio familiar

Nas últimas semanas, além de dois grandes eventos que chamaram as pessoas a sair de casa, que foram as eleições em 1º e 2º turno em Fortaleza e Caucaia, a imprensa mostrou em inúmeras matérias praias, praças e ruas lotadas. Mais recentemente, o comércio ganhou impulso com a proximidade das compras de Natal, com novas matérias sobre o Centro de Fortaleza com grande movimentação popular.

Também aumentaram visivelmente, nos plantões em hospitais, os atendimentos em que vários membros de uma mesma família contraíram Covid-19. A avaliação é de que está crescendo, na prática, a transmissão familiar, por jovens que estão trabalhando presencialmente ou participando de festas e outros eventos sociais e acabam contaminando, em almoços de domingo ou outras visitas, pais e avós que estavam guardando o devido isolamento.

> O que fazer? Comunicar é preciso e urgente

Os médicos e médicas do Coletivo Rebento sugerem a imediata realização de uma grande campanha de comunicação, em nível estadual e municipal, com alerta enfático sobre os riscos reais do atual momento, a necessidade de que quem puder fique em casa e que as famílias isolem, de fato, seus integrantes idosos e/ou que apresentem comorbidades que elevam o risco de quadros graves de Covid-19. Também é urgente evitar visitas a pais e avós, bem como festas de natal e ano novo, mesmo com "poucas pessoas", caso estas residam em domicílios diferentes.

A comunicação clara e explícita por parte do governo para que mais pessoas compreendam os riscos do atual momento, é uma medida urgente. Voltar a comunicar o "fique em casa", "lave as mãos", "evite aglomerações", "não se exponha a risco", acrescentando instruções como "evite visitas a parentes idosos", "evite sair para compras de Natal".

Também é preciso que mais pessoas tenham acesso aos testes RT-PCR para detecção do coronavírus e da batalha para que as vacinas sejam disponibilizadas a todos e todas o quanto antes. "O momento é de reforçar os cuidados e a conscientização sobre a corresponsabilidade, o dever que a pandemia cobra de cada um, para a proteção da vida de todos", comenta o coletivo na cartilha.

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