Mesmo na pandemia, ingressos para festas de Réveillon são vendidos online
Eventos particulares por todo o Brasil continuam a vender ingressos online para festas de Ano Novo. Alguns deles, entretanto, não pontuam sobre medidas de segurança para o novo coronavírus
16:09 | Nov. 25, 2020
Faltando pouco mais de um mês para o fim de 2020, é perceptível que a pandemia não acabará após a comemoração do fim do ano. Mesmo sob análise, festas tradicionais como o Réveillon de Fortaleza ainda não foram divulgadas oficialmente e podem até não acontecer. Entretanto, eventos particulares em todo o Brasil continuam a vender ingressos online, e alguns não pontuam sobre medidas de segurança para o novo coronavírus.
O POVO acessou três sites de vendas online de ingressos para shows e eventos presenciais ligados ao entretenimento, como shows e espetáculos brasileiros - incluso o estado do Ceará. Um deles adiou todos os eventos disponíveis para prazo indeterminado e não tinha eventos marcados para Fortaleza ou para o Estado.
O segundo site também não tinha eventos marcados para a Capital ou para outras regiões do Ceará. Já o terceiro tem shows marcados a partir de março de 2021 para a região Nordeste. O quarto site, Sympla, entretanto, segue revendendo ingressos para festas online, mas também para eventos presenciais. Vale lembrar que cada um dos estados e dos municípios têm particularidades em seus decretos de isolamento social. No caso do Ceará, há seis semanas o documento segue sem modificações ou renovações.
Um dos eventos no Ceará custa R$ 30 o ingresso individual e promete seguir as normas e medidas sanitárias contra o novo coronavírus, além do limite de público para evento a ser realizado ao ar livre. Porém, outro evento também na Região Nordeste - em Alagoas - revende ingressos a mais de R$ 3 mil e não dá detalhes sobre medidas de segurança do novo coronavírus.
No Estado, seguem as operações de mobilização para suspensão de eventos ou do funcionamento de estabelecimentos que vem ocasionando aglomerações. Uma das mais recentes foi no Marina Park, no início deste mês. O evento "Marina Al Mare" teve fotos e vídeos de aglomerações e não respeito às medidas de distanciamento social e o hotel chegou a ser interditado pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) por sete dias.
O POVO entrou em contato com a Sympla, que explicou que "é de responsabilidade de cada organizador de evento estar em conformidade com os protocolos de eventos e flexibilização de sua região". Veja a nota na íntegra:
"A Sympla esclarece que é de responsabilidade de cada organizador de evento estar em conformidade com os protocolos de eventos e flexibilização de sua região. A Sympla é uma plataforma aberta para distribuição de ingressos. O organizador do evento é o responsável pelo cadastro, divulgação e execução do evento, ou seja, a Sympla não possui ingerência nenhuma na realização de eventos.
Ainda assim, desde o início da pandemia da Covid-19, a Sympla vem se mantendo como uma fonte de informação segura e confiável, adotando diversas medidas para incentivar os organizadores a seguir os protocolos exigidos em suas regiões e, assim, garantir uma retomada cautelosa, responsável e sempre em cumprimento completo com todos os protocolos de proteção, estabelecidos pelos órgãos responsáveis.
As iniciativas incluem desde a divulgação atualizada sobre as regulamentações sobre a retomada dos eventos (https://blog.sympla.com.br/retomada-de-eventos-conheca-os-decretos/), até reuniões virtuais com produtores para esclarecimento de dúvidas. Reforçamos que cumprimos e incentivamos que todos os organizadores cumpram as regulamentações emanadas pelas autoridades governamentais".
Jovens são mais propensos a participarem das festas e há perda do medo da pandemia envolvida
A enfermeira epidemiológica Daniele Queiroz avalia o cenário das festas e eventos de fim de ano como preocupante. Para a especialista, há uma falsa impressão de que estaremos livres da doença em 2021. "Tudo parece distante, pois o ano passou muito rápido e acaba parecendo que o Réveillon está mais distante", pontua. "Mas sob o cenário epidemiológico, ainda não é seguro estar em festas que aglomeram pessoas".
De acordo com última atualização do IntegraSUS, o Ceará tem 59,92% de ocupação em Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) por Covid-19 e Fortaleza acumula 67,77%. O índice, apesar de assustar, é melhor do que há meses quando o Ceará já registrou números próximos de 80%. "Há um equilíbrio: com o aumento da ocupação, há um aumento proporcional no número de leitos destinados à doença", pontua Daniele.
Entretanto, a continuidade de eventos presenciais que geram aglomerações como as festas podem mudar o cenário. "Estamos vendo as ocorrências maiores entre adolescentes adultos e jovens. Embora essa seja a faixa etária que não evolua para casos graves, eles funcionam como fonte de contaminação para demais familiares e amigos", ressalta a professora do curso de Medicina da Unichristus.
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O retorno de atividades econômicas e a falta de fiscalizações efetivas também corrobora para a pandemia. Os fatores unidos à falta de distanciamento, falta de higienização ou negação da pandemia são ideais para perpetuar o novo coronavírus na população.
Daniele aponta para fases do comportamento humano presentes em outras pandemias: há um primeiro momento de negação da doença ou que ela está longe, como quando a pandemia começou internacionalmente. Após a primeira fase, vem o momento de alerta sobre a patologia no País ou próxima por contaminação em familiares ou amigos.
O momento é então seguido pela sensação do luto ou do acometimento do vírus. Após a queda de casos e controle da doença, há uma sensação de melhora que pode trazer a mobilização de perda do medo do vírus e a presença do ser em eventos com aglomerações - sejam elas com conhecidos como festas familiares ou com amigos, como em festas com público desconhecido.
A psicóloga Sabrina Matos pontua vários pontos sobre o comportamento humano que podem estar ligados à presença nesses eventos em específico: o isolamento em casa por meses prorrogados traz uma ânsia de vontade de um "novo normal", quando na verdade estamos tentando lidar com a perda de um mundo que não volta mais: sem o uso de máscaras obrigatórias ou sem medidas de distanciamento, por exemplo.
"O problema também é que estamos vivendo em um tempo onde a lógica do coletivo vai se esvaindo", pontua a analista. Ainda, pode estar relacionada a um efeito manada: se outras pessoas vão até o local, por quê não ir?
Ainda sim, é importante evitar aglomerações e seguir as medidas de distanciamento social, locomovendo-se para locais que obedeçam ou sigam os protocolos. Evitar tais eventos também ainda é uma opção. "Certamente no próximo ano teremos um momento mais feliz, com vacina e com o controle da doença. É isso que temos que vislumbrar", pontua Daniele.
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