Hospital São José inicia tratamento de pacientes com Covid-19 com antirretrovirais usados contra Aids

Pelo menos 250 pacientes com sintomas leves e moderados serão testados a partir deste mês de outubro

22:39 | Out. 15, 2020

Por: Mirla Nobre
Levantamento aponta aumento no número de casos na pandemia em 1.217 cidades (foto: Divulgação/Peter Ilicciev/FioCruz)

Na corrida pela vacina contra o novo coronavírus, cientistas de todo o mundo estão realizando pesquisas para tratar pacientes com a doença. Nesta quinta-feira, 15, o Governo do Ceará, por meio do Hospital São José (HSJ) e da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), informou avanços na pesquisa de antirretrovirais utilizado no tratamento contra HIV/Aids para serem aplicados no tratamento da Covid-19. Com os avanços positivos dos primeiros resultados laboratoriais, o HSJ irá recrutar, ainda neste mês de outubro, pacientes com coronavírus em atendimento no Hospital São José para fazer o uso do medicamento no tratamento da doença.

Nesta fase de recrutamento, serão escolhidos 240 pacientes com sintomas leves e moderados da Covid-19 presentes no HSJ para começar o tratamento. A pesquisa tem aprovação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).

Segundo o professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), membro da Academia Brasileira de Ciências e um dos médicos que encabeça o estudo, Aldo Ângelo Lima, a pesquisa envolve dois antirretrovirais que têm efeito aditivo não só contra o vírus do HIV, mas também contra o Sars-Cov-2. “Essa perspectiva foi encontrada em estudo in vitro na USP e, depois desse dado, iniciamos o processo para fazer a pesquisa clínica de validação”, explica.

Conforme infectologista do Hospital São José, Érico Arruda, a pesquisa é um passo importante para tentar achar outras maneiras de tratar a Covid-19. “Para os pacientes com casos mais graves é possível uma melhora a partir de intervenções com alguns medicamentos, mas em pacientes com casos mais leves ainda não temos intervenções para que eles não evoluam para casos mais graves da doença. É nesse campo que a pesquisa vai atuar. É oferecer a pacientes menos graves medicações já utilizadas para o tratamento contra o HIV para verificar se há algum benefício para reduzir tempo de doença ou complicações”, informa.

A unidade hospitalar abrange um campo de aplicação com pacientes de Covid-19, é o que informa o infectologista do HSJ, que, também destaca a experiência da unidade em lidar com antirretroviral para tratar pacientes. “Temos um Know-how com isso, conhecemos o medicamento e já administramos para várias pessoas. Isso traz o HSJ para essa ponta de lança”, reforça.

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Os primeiros resultados da pesquisa mostra a cooperação do trabalho das universidades participantes, Hospital São José e Sesa, é o que destaca o professor Aldo Ângelo, no qual informa que neste momento de desafios é também um momento para transladar todo o perfil de conhecimento científico. "O objetivo maior da intervenção clínica é bloquear a evolução do vírus". pontua.

Pesquisa

A pesquisa tem parceria com o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), da rede estadual, a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto (USP). O trabalho é coordenado pelo pesquisador Aldo Ângelo Moreira Lima, tendo como colaboradores os professores Roberto da Justa, Érico Arruda e Melissa Medeiros.

As substâncias utilizadas na pesquisa integram o grupo de medicamentos “coquetel” antirretroviral utilizado contra infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Os testes em laboratório efetuados pela equipe de pesquisadores das Faculdades de Medicina e de Ciências Farmacêuticas da USP demonstraram a eficácia dos fármacos em inibir a multiplicação das partículas virais em condições experimentais in vitro, sem apresentar toxicidade para as células.