Feriadão com aglomerações no Ceará preocupa pela possibilidade de novos surtos da Covid-19

A dimensão dos riscos e o impacto das aglomerações flagradas no Ceará durante o feriadão serão percebidas em breve, de acordo com especialistas

Após o fim de semana e o feriado com multidão se aglomerando em praias, restaurantes, entre outros locais públicos e privados do Ceará, especialistas demonstram preocupação com o aumento de surtos da Covid-19. O Estado, atualmente, está em redução importante dos casos de coronavírus, com resultados positivos na contenção do avanço da doença. Até 29 de agosto, a taxa de transmissão era de 0.67, indicando que cada caso confirmado está transmitindo, em média, para menos de uma pessoa. Entretanto, com o descumprimento das medidas sanitárias e de prevenção, não se descarta o agravamento da crise epidêmica.

Novos casos da Covid-19 continuam a ocorrer no Ceará, considerando o caráter endêmico da pandemia, comenta o epidemiologista Luciano Pamplona. Entretanto, quando a população se comporta contra as medidas de prevenção, sem utilizar máscaras ou respeitar o distanciamento, o que se arrisca é a possibilidade de novos surtos. Já o impacto desse tipo de atitude só vai ser percebido daqui a 14 ou 21 dias “quando as pessoas começarem a adoecer e a testar [positivo para a infecção com o novo coronavírus]”, ele acrescenta.

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“O fato é que a gente teve uma aglomeração inesperada. A gente estava bem até agora, e vamos ter que acompanhar um pouco para ver isso. É provável que tenha aumento de casos em alguns locais, alguns surtos, mas, felizmente, a transmissão está muito baixa. Então, vai diminuir o risco de uma segunda onda”, reconhece o epidemiologista, que é também professor do Departamento de Saúde Comunitária da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Efeito bumerangue

Durante o feriadão, o que se observou foram aglomerações com uso inadequado de equipamentos de proteção, em diversas regiões do Estado. No caso dos flagrantes nas praias de e locais públicos de Jijoca de Jericoacoara, Luciano Pamplona pondera que, por ser um ponto turístico que recebe pessoas de diversas cidades do Estado e do País, as aglomerações observadas podem ter um outro tipo impacto, também significativo.

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“O risco que a gente corre é ter pessoas de locais onde a transmissão estava mais intensa, levando o vírus para aquela região”, explica o epidemiologista, levando em consideração o chamado efeito bumerangue. Ou seja, a possibilidade de pessoas trazerem de volta a alta circulação do vírus para uma região onde a transmissão foi reduzida. Por isso, ele ressalta, deve-se cumprir as orientações das autoridades sanitárias.

Segundo o epidemiologista, a partir do momento em que se observa uma redução importante no número de casos, é essencial a atuação de uma vigilância sensível para detectar os novos surtos, sobretudo no início dos sintomas, para que seja feito o isolamento precoce das pessoas infectadas, e, assim, a contenção do avanço do vírus. Com isso, também deve-se reforçar a fiscalização, ele complementa. “O brasileiro, infelizmente, só funciona assim, com fiscalização e, muitas vezes, punição”, finaliza.

O POVO tentou contato com a prefeitura de Jijoca de Jericoacoara, para posicionamento sobre as aglomerações e descumprimento das medidas de proteção na cidade. Entretanto, não houve retorno por ligação, nem resposta aos e-mails enviados.

Responsabilidade individual e coletiva

O infectologista e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), Keny Colares, concorda que as aglomerações observadas em Fortaleza, Jericoacoara e em outras praias do Estado possam impactar na pandemia, tendo em vista que faz parte da “receita” para o aumento de casos da doença. Junto a isso está o uso inadequado dos equipamentos de proteção, e a circulação de pessoas entre as regiões onde ainda há número significativo de pessoas suscetíveis à infecção.

“E a gente não sabe até que ponto podemos adoecer uma segunda vez”, salienta Keny Colares. “É uma discussão cada vez mais quente, e o aumento de casos é o que a gente imagina que pode ou vai acontecer aqui”. A depender das consequências observadas para a situação da pandemia no Estado, o infectologista pondera que medidas mais rigorosas possam ser aplicadas nos processos de flexibilização. Em algumas regiões, a reabertura das atividades econômicas ainda são restritas, levando em conta a circulação ativa do novo coronavírus.

“Na medida que o governo estadual veja que tem algumas regiões sem cumprir o combinado, ele pode mudar os planos ou intervir de alguma forma, se aquela determinada região demonstrar que não existe maturidade ou organização suficiente [para a abertura das atividades]”, avalia. De acordo com Keny, a liberdade e a responsabilidade devem estar em conjunto, visto que as ações individuais em uma pandemia repercutem no coletivo.

Esse alerta está de acordo com o discurso que o próprio governador do Ceará, Camilo Santana, tem reforçado desde o início do plano de retomada das atividades econômicas no Estado. Segundo o gestor, pode, sim, haver repercussões do descumprimento dos decretos sobre a flexibilização. “É inadmissível o que temos visto aqui e em vários locais do País. Por mais que equipes de fiscalização tentem agir, se não houver a colaboração das pessoas, fica tudo mais difícil”, disse Camilo em publicação no Facebook, no último domingo, 6.

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