Celebrações religiosas online ganham força após decreto de distanciamento social

Para líderes religiosos, a flexibilização não permite um momento de confraternização e adoração livre. Igrejas e templos optaram por manter a suspensão de parte das atividades presenciais

 

Com a pandemia do novo coronavírus, as comunidades religiosas precisaram se adaptar. Desde o decreto de isolamento social, as atividades que costumavam ocorrer presencialmente em igrejas, casas, templos e salões, migraram para o espaço virtual. Apesar da quarentena ter dificultado parte dos serviços religiosos, líderes apontam benefícios das reuniões e celebrações online para o alcance de fiéis e a promoção de mensagens de conforto e esperança.

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Antônio Gonçalves Sobrinho é superintendente de circuito das Testemunhas de Jeová. Antes da quarentena, ele saia juntamente com a esposa para visitar as congregações e ir a casa das pessoas, proferir mensagens bíblicas e de encorajamento. No entanto, com o advento da pandemia e o decreto de isolamento social, as atividades tiveram que ser adaptadas. Sobretudo as pregações de casa em casa, que são a marca das Testemunhas de Jeová.

“A pandemia afetou nosso trabalho de pregação. Com a lei do isolamento social, a gente suspendeu o testemunho público e passou a usar o testemunho por telefone. Hoje, junto com minha esposa, faço ligações para números aleatórios, transmitindo uma mensagem da bíblia pelo telefone”, relata. Outra adaptação foram os eventos da comunidade, que passaram a ocorrer também virtualmente.

A celebração da morte de Cristo, como é chamada a tradição que relembra a última noite de Jesus com os discípulos, foi realizada por videoconferêcia no último mês de abril. Em agosto, a comunidade realiza o congresso “Não Perca a Alegria”, com expectativa de atrair públicos diversos. Só no último ano, de acordo com a comunidade, os congressos das Testemunhas de Jeová, que ocorrem em todo o mundo, tiveram mais de 14 milhões de pessoas. O número é superior aos mais de 8,6 milhões de fiéis que a comunidade tem em cenário mundial.

“Visto que o programa deste ano está sendo on-line, em centenas de idiomas, esperamos que esse seja o congresso das Testemunhas de Jeová mais assistido até hoje”, destaca a comunidade em nota. O programa está sendo postado no site oficial das Testemunhas de Jeová, em seis partes. Cada uma correspondendo a uma sessão da manhã ou da tarde do programa que duraria três dias. Nos dias 22 e 29 de agosto, serão postadas as duas últimas sessões.

Transmissões de cultos e missas online

 

Na última semana, a Caminhada com Maria, procissão católica em celebração ao Dia de Nossa Senhora da Assunção, padroeira de Fortaleza, foi realizada pela primeira vez online.A decisão foi do arcebispo da Capital, dom José Antônio Aparecido Tosi Marques, visando salvaguardar os fiéis da contaminação com o novo coronavírus.

Além dos grandes eventos da comunidade católica, os serviços religiosos da Arquidiocese precisaram ser adaptados para o contexto da pandemia, de forma a alcançar os fiéis, conforme esclarece o padre Watson Façanha, do Secretariado de Pastoral da Arquidiocese de Fortaleza.

“Não teríamos como atender as orientações do governo, de flexibilização de 20% [de pessoas] para cada celebração”, frisa o padre. “Nosso povo é muito religioso e não temos estrutura enquanto igreja de fazer essa acepção, de quem participa e quem não participa. Então, se optou pela suspensão das missas presenciais”.

No entanto, para o arcebispo Dom José Antônio, era importante que os padres encontrassem formas criativas para a participação religiosa dos fiéis nas celebrações litúrgicas. “Muitas pessoas reduzem a vida de fé do povo católico à celebração da Santa Missa. Mas existem diversos outros meios para a gente poder se aproximar e continuar vivendo intensamente a nossa fé”, afirma o padre Watson.

Durante a quarentena, a Arquidiocese segue fazendo transmissões de missas online, a portas fechadas, com equipes menores e atenção às pessoas dos grupos de risco. Essa medida é para evitar que os sacerdotes sejam expostos à contaminação. Conforme o padre, as atividades que antes era realizadas presencialmente, foram adaptadas, até mesmo a devolução de dízimos, que passou a ser realizada por depósitos e outros meios remotos.

O padre, no entanto, lembra que atividades virtuais não substituem o presencial. “Não tem coisa melhor no mundo do que estar dentro do abraço, estar ali presencialmente. Nada melhor que espairecer, sair de casa, trocar ideias. O virtual não substitui a riqueza do presencial, mas ele veio para ficar”, reconhece.

Apesar da flexibilização permitir um contingenciamento de pessoas nas igrejas, desde junho, a Igreja Batista Central (IBC) de Fortaleza decidiu não retomar os cultos presenciais nos templos, porque entende que as restrições não permitem um ambiente favorável de confraternização e de adoração, com a liberdade que o espaço doméstico possibilita.

“A igreja não é um prédio, um lugar, não está limitada a um dia e horário específico. Eu vivo a igreja a partir da minha casa. Não estou impedido de adorar a Deus, de celebrar e viver, porque eu faço isso no dia a dia. Então, é assim que a gente tem vivido a igreja desde o dia 17 de março de 2020, de casa em casa”, frisa o pastor-executivo da IBC, Aristides Ulhôa.

Por outro lado, aproveitando o contexto de flexibilização, a Igreja Batista Central voltou a realizar encontros em pequenos grupos. “As pessoas que não fazem parte do grupo de risco, que já se sentem à vontade para se reunir, estão fazendo encontros de casa em casa. A igreja tem essa prática há 30 anos. Além de se reunir publicamente em um grande culto de celebração de domingo, ela se reúne nas casas. Essa é uma cultura da igreja de Jesus desde o seu fundamento”, afirma o pastor da IBC.

Ele acrescenta que, com todos os desafios, a pandemia também trouxe a oportunidade de agregar ainda mais às plataformas virtuais da igreja, que já eram ferramentas utilizadas pela IBC desde antes da pandemia. Além de ter oportunizado a prática do evangelismo e compartilhamento de mensagens de conforto e esperança, tão necessárias nesses tempos de crise e incertezas.

“É nos relacionamentos do cotidiano que você pode influenciar e ser ponte para levar o amor de Jesus. Por esse motivo é que a pandemia, de certa forma, oportunizou conexões”, comenta o pastor Aristides. “Eu prego Jesus por onde eu vou, com a minha atitude de amor e de preocupação com o próximo”, frisa. Segundo ele, diferentemente dos eventos, onde essas mensagens seriam transmitidas de forma institucional, a igreja alcança muito mais com o testemunho pessoal.

Espíritas permanecem com atividades online

 

O presidente da Federação Espírita do Estado do Ceará (Feec), Luciano Klein, destaca que apesar dos desconfortos causados pelo momento de pandemia, a comunidade espírita tem conseguido realizar as atividades presenciais em alguma das casas espíritas. No entanto, considerando a necessidade do isolamento social, optou-se por manter a maioria dos serviços por meio das plataformas digitais.

“Nós estamos seguindo as orientações do governo do Estado em relação ao isolamento social e a preservação da saúde do próximo”, frisa Luciano. “Obviamente que temos dificuldade em algumas reuniões nas próprias casas espíritas, em que se exige um encontro presencial. E, naturalmente, alguns tipos de reuniões específicas e trabalhos de promoção social diminuíram”, esclarece.

Apesar dessas dificuldades, a comunidade espírita tem conseguido se reinventar, com a realização de palestras e outras atividades de promoção social, que são possíveis de ocorrer online, destaca o presidente da Feec.

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