Covid-19: segunda onda no Ceará é improvável, mas não deve ser descartada
Nessa terça-feira, 18, o secretário estadual da Saúde (Sesa), Dr. Cabeto, disse que o Estado poderá não registrar uma segunda onda de coronavírusMais de 70 dias após o início da flexibilização das atividades econômicas do Ceará, os indicadores relativos à Covid-19 seguem estáveis. Nessa terça-feira, 18, o secretário estadual da Saúde (Sesa), Carlos Roberto Martins, o Dr. Cabeto, disse que o Estado poderá não registrar uma segunda onda de coronavírus. De toda forma, um novo aumento de casos não deve ser definitivamente descartado, segundo especialistas consultados pelo O POVO.
"Hoje, minha percepção é que nós não vamos ter uma segunda onda. Nós não temos qualquer indicador sobre isso", afirmou o secretário durante o seminário online "O Futuro da Saúde", realizado pelo Sindicato dos Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado do Ceará (Sindessec).
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Conforme Dr. Cabeto, inquéritos sorológicos realizados quinzenalmente mostram ainda que 13% a 14% de pessoas que moram nos diferentes bairros de Fortaleza, em média, tem anticorpos contra o coronavírus. Isso indica que o fenômeno da "imunidade de rebanho" - quando muitas pessoas estão imunes ao vírus e sua transmissão é dificultada - estaria próximo de ser alcançado na Capital.
"A minha impressão global é de que temos uma imunidade de rebanho perto do adequado e uma população que provavelmente vai ter pequenos surtos, mas não vamos ter a segunda onda como estava se achando anteriormente", reforçou o secretário.
O Ceará tem mais de 200 mil casos confirmados de Covid-19 e 8.206 mortes pela doença. Dados são do balanço divulgado em boletim na plataforma IntegraSUS, às 9h14min desta quarta-feira, 19.
Chance de nova onda é remota, mas não impossível
Para o epidemiologista Marcelo Gurgel, membro do grupo de trabalho de enfrentamento à Covid-19 da Universidade Estadual do Ceará (Uece), a probabilidade de um novo aumento de casos no Estado é pequena, contudo, não pode ser eliminada.
"É um vírus que não conhecemos por inteiro. O Ceará está em declínio consistente há várias semanas, mas uma segunda onda pode chegar a partir da abertura de voos, nacionais e internacionais. Penso que a possibilidade é remota, mas não se pode baixar a guarda", avalia Gurgel. Ele destaca que não há certezas sobre quanto tempo se prolonga a imunidade das pessoas infectadas.
O infectologista Guilherme Henn, presidente da Sociedade Cearense de Infectologia (SCI), também concorda que não há garantias de que o Ceará não vai registrar uma recrudescência dos casos. Ele afirma ainda que é difícil dizer se o Estado está perto de alcançar a imunidade de rebanho porque algumas pessoas que tiveram a doença não criam anticorpos.
"Na verdade, tem outro tipo de imunidade contra o vírus, baseada em células T (tipo de glóbulo branco responsável pela segunda parte da resposta imune), que não é detectável por exames comercialmente disponíveis", comenta. A estimativa para que se tenha essa imunidade coletiva contra a Covid-19 está entre 20% e 30% atualmente.
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Por que Ceará segue com indicadores estáveis?
Ainda que regiões como o Cariri precisem ter maior atenção, a taxa de incidência da Covid-19 por 100 mil habitantes no Ceará é baixa, conforme ressaltou o secretário Dr. Cabeto no seminário online. "Nas ultimas semanas, quando há aumento de casos, são menos complexos e de forma geral mantendo-se uma média baixa", disse.
De acordo com o infectologista Guilherme Henn, um dos motivos para esse cenário não ter se alterado apesar da reabertura da economia está na flexibilização "ordenada e cautelosa" estabelecida pelo governo. Outra justificativa está no fato de muitas pessoas já terem sido infectadas pelo coronavírus.
Recentemente, o Amazonas, no norte do País, voltou a registrar altas nos óbitos depois de reabrir as escolas em Manaus, de acordo com os apontamentos do consócio dos veículos da imprensa. O estado estava há semanas em situação de estabilidade.
"É bem possível que quando a gente abrir nossas escolas, tenhamos um aumento de casos. É muito difícil, no entanto, prever se a gente vai ter uma segunda onda significativa ou só pequenos aumentos dos casos e óbitos", considera Henn. Um possível retorno das escolas está previsto no Ceará para setembro, caso os indicadores epidemiológicos sejam favoráveis.
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Segundo o titular da Sesa, o Comitê Estadual de Enfrentamento à Pandemia do Coronavírus trabalha nos últimos estudos que devem definir os próximos passos da reabertura da economia no Ceará. "Sabemos das demandas das pessoas, mas o que aprendemos é que aqueles que fizeram o isolamento adequado tiveram a economia retomada mais rápido", ponderou o Dr. Cabeto.
Ele informou ainda que a capacidade de testagem do Estado será ampliada para 13 mil testes por dia com a inauguração na próxima segunda-feira, 24, da Unidade de Apoio à Testagem da Covid-19 da Fiocruz no Ceará, localizada no Eusébio.