Acidentes e alergias são consequências da temporada de ventos no Ceará; saiba os cuidados para o período

A temporada dos ventos no segundo semestre no Estado pode gerar ocorrências de pipas em redes de distribuição de energia e o agravamento das condições respiratórias em crises alérgicas. Cuidados reforçam o isolamento social e o não contato com alérgenos

14:02 | Jul. 20, 2020

Por: Marília Freitas
As mudanças das orientações do vento são comuns no Estado durante o segundo semestre (foto: Camila de Almeida)

A ventania acompanhada com chuva na última quinta-feira, 16, reforçaram o início da temporada de ventos no Ceará. O Estado, inclusive, poderá ser atingido por ventos alísios de até 60 km/h até a noite desta segunda-feira, 20, segundo comunicado emitido pela Marinha do Brasil através do Centro de Hidrografia da Marinha (CHM). O fenômeno pode resultar na piora clínica de quadros respiratórios e também em acidentes envolvendo as pipas, brincadeira recorrente durante o período de férias e favorável devido às condições da temporada de ventos.

Com as férias e o isolamento social, as ocorrências de pipas em redes de distribuição de energia são comuns. A Enel Distribuição Ceará contabilizou um total de 256 incidências na rede no primeiro semestre deste ano, cerca de 48% dos registros de 2019. A título de comparação, a empresa registrou 532 casos entre janeiro e dezembro do ano passado. No Ceará, o número de ocorrências cresceu 175% entre os meses de maio e junho deste ano. Os dados consideram as ocorrências registradas até o último dia 23 de junho.

As mudanças das orientações do vento podem fazer com que as pipas se enrosquem nos fios e aumentem o risco de descarga elétrica. Elementos condutores que constituem o objeto, como materiais metálicos e cerol, também podem desencadear acidentes. O uso da linha chilena possui poder de corte quatro vezes maior que o cerol tradicionalmente usado nas pipas, o que tem agravado as ocorrências. Na última sexta-feira, 17, um homem morreu após ser atingido no pescoço por linha de cerol na CE-040.

Já as condições alérgicas, como a rinite, também são outras ocorrências durante a temporada de ventanias. No Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), as principais queixas dos pacientes que buscam atendimento no segundo semestre do ano são de obstruções nasais, coceiras, sensações de desconforto no nariz e coriza. A alergista imunologista do Hias, Janaira Fernandes, explica que as correntes trazem alérgenos que tornam ainda mais grave a condição respiratória: poeira, pêlos de animais de estimação e até mesmo pólen de árvores estão entre os possíveis agentes.

"Basicamente, temos um período [no Ceará] em que chove e [outro] que não chove - no caso, o período de ventanias. Também imaginamos que a floração de árvores como o caju e a manga influenciam na piora dos sintomas devido ao pólen". Outros fatores que favorecem as doenças respiratórias da época são a acumulação de poeira em casa e o período de viroses.

Tanto adultos como crianças têm acometimento durante a temporada de ventos. Nos adultos, há uma piora do quadro alérgico e as condições em crianças podem ser confundidas com viroses ou com a Covid-19. No entanto, Janaira expõe que, devido ao isolamento social, a rinite causada por agentes infecciosos poderá ter uma baixa frequência neste ano. "Se as aulas não voltarem e as crianças continuarem isoladas, talvez possamos tirar um fator de confusão entre rinite viral e alérgica", diz.

A possibilidade de contágio do novo coronavírus também trouxe alterações no diagnóstico clínico das alergias. "O que temos observado é o quadro em crianças: são leves e sem sintomas como febre, diarreia e falta de ar. Sem dúvidas, o coronavírus entrará no diagnóstico de infecções".

Orientações reforçam o isolamento social e o não contato com alérgenos

O novo coronavírus junto à temporada dos ventos exigem cuidados especiais para os próximos meses. No momento de transição e de reabertura gradual de espaços públicos e privados, a dica é manter as medidas de proteção individual e coletiva como o isolamento social, além da necessidade de contactar autoridades em caso de descargas elétricas devido à ventania. A Marinha do Brasil também informa sobre os avisos de mau tempo e recomenda que as informações sejam consultadas no site da instituição antes da prática de esportes no mar e outras categorias de recreação. Confira algumas dicas para a quadra:

ATIVIDADES ENVOLVENDO A PIPA

- Não soltar pipas perto da rede elétrica devido a possíveis mudanças nas orientações do vento;

- Não encostar em qualquer objeto estranho que esteja pendurado à rede elétrica por risco de descarga elétrica;

- Não utilizar cerol devido a graves riscos: ele corta a camada de borracha que reveste os fios de alumínio ou de cobre, criando a situação de transferência de corrente elétrica. Além disso, o uso de cerol também pode provocar acidentes com motociclistas;

- Redobre a atenção com os balões. A brincadeira é considerada crime de acordo com a Lei nº 9.605, com pena prevista é de um a três anos de detenção ou multa, ou ambas as penas cumulativamente. Caso a rede de energia elétrica seja afetada pela queda de balões, a população pode ligar para 0800 285 0196.

ATIVIDADES CONTRA AS CRISES ALÉRGICAS

- Uso da máscara, mesmo em espaços abertos, com constante higienização das mãos e evitando aglomerações;

- Manter o tratamento com anti-alérgicos ou outros medicamentos sob orientação médica;

- Limpeza da casa com pano úmido, além de higienização semanal de aparelhos de ar-condicionado e ventiladores;

- Evitar objetos que acumulem poeira, como livros em estantes, brinquedos de pelúcia e cortinas;

- Se for praticar esporte, controle as crises alérgicas primeiro com o uso dos medicamentos - principalmente pacientes asmáticos;

- Mantenha distanciamento social durante a prática das atividades físicas, sempre com o uso de máscara devido ao possível contato com outros alérgenos ou outras viroses que podem desencadear em piora no quadro clínico da alergia;