Estudantes sem internet recebem suporte dos professores via ligação em São Gonçalo do Amarante
De acordo com a Secretaria Municipal da Educação, as atividades remotas de ensino alcançam 95% dos mais de 11.500 alunos da rede pública municipalQuando a pandemia interrompeu as aulas na escola, Antônio Narcísio Rodrigues Santos, 13 anos, teve de se adaptar para continuar a estudar. Ele não tem acesso à internet onde mora, no distrito de Taiba, em São Gonçalo do Amarante, a 69 km de Fortaleza. Para alcançar melhor alunos como Narcísio, os professores da Cidade passaram a realizar também acompanhamento por telefone.
Somente pelo celular da prima, que é sua vizinha, o estudante consegue receber os exercícios enviados pelos professores no grupo da turma no WhatsApp e participar das webconferências, além das atividades impressas entregues na escola em dias marcados.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
"É complicado, porque nas aulas presenciais eu poderia tirar dúvidas. Por não ter internet, eu não tinha total acesso às aulas e aos conteúdos que os professores mandavam", conta o estudante ao O POVO.
De acordo com a Secretaria Municipal da Educação de São Gonçalo do Amarante, as atividades remotas alcançam 95% dos mais de 11.500 alunos da rede pública municipal, que inclui educação infantil até 9° ano em 54 escolas. Desses, 85% têm internet, enquanto outros 15% estão sendo acompanhados por meio do telefone e recebendo tarefas escolares em casa ou indo buscar na escola.
A professora Neila Moraes leciona Língua Portuguesa e Religião na Escola de Educação Básica (EEB) Professora Alba Herculano Araújo, onde Narcísio estuda. Ela explica que as ligações são direcionadas mais aos alunos sem internet para saber sobre o andamento das atividades e tirar dúvidas. Na maior parte do tempo, é no grupo de WhatsApp de cada turma que a comunicação entre o corpo docente e os estudantes ocorre.
Ainda assim, as dificuldades de contato em alguns casos acontecem. "Mesmo ligando, tive de ir na casa de alguns. Mas não obtive retorno. Porém, a maioria foi excelente, além do meu esperado. É tudo muito novo para todos nós, e eles foram maravilhosos, cumprindo direitinho seu papel com a tarefas remotas", afirma Neila.
LEIA TAMBÉM | Confira medidas previstas no protocolo de retorno das aulas presenciais em escolas
Para a estudante Maciellen Almeida dos Santos, 12 anos, que também residente na Taiba, a internet móvel tem sido a única saída para não perder conteúdo. Aluna do 7° ano, Maciellen vem recebendo as atividades online desde março. De acordo ela, os professores enviam o exercício por foto ou em PDF, com o prazo de entrega.
"As explicações são um pouco mais difíceis de entender porque os professores nos mandam referências de videos e sites, mas não é a mesma coisa", relata. Além das atividades online, a escola entregou aos alunos dois blocos de tarefas impressas.
Ainda segundo a professora Neila, um dos obstáculos do ensino remoto tem sido atender a uma demanda grande de alunos utilizando o celular particular. "Atendíamos alunos e pais até tarde da noite. Outra dificuldade era a participação. Na sala de aula, todo dia temos uma certa resistência de alguns estudantes e com a distância essa resistência aumenta muito", comenta.
Secretaria de educação pretende fazer implementações
De acordo com o secretário municipal da Educação de São Gonçalo do Amarante, Guerreiro Neto, no ensino remoto, os telefones são a possibilidade de comunicação entre professores, coordenadores, pais e responsáveis". Assim, a escola orienta diretamente e oferece um "acompanhamento personalizado" em caso de dificuldades dos estudantes.
O secretário explica também que uma parcela dos alunos não foi possível de contatar até o momento (5%). "Com a pandemia, muita gente que tinha emprego no complexo do Pecém, teve a vaga suspensa ou encerrada e os pais voltaram para sua família. É um percentual que não dá uma devolutiva, mas continuamos buscando", garante.
Apesar de reconhecer que a aula remota não substitui o contato presencial, o secretário considera que o retorno tem sido satisfatório, com retorno de 99% das atividades didáticas. O objetivo é fazer implementações para continuar o ensino remoto no segundo semestre, considerando que não há definição sobre o retorno presencial.
LEIA TAMBÉM | Camilo Santana diz que retorno das escolas será última fase de abertura das atividades no Ceará
Entre as ações projetadas estão a implantação de uma plataforma de ensino única para os professores e até um possível retorno presencial dos servidores em agosto para que o prédio escolar funcione como suporte de planejamento didático, com esquema de rodízio e tomando as medidas de proteção. Há também a previsão de volta das atividades de Educação de Jovens e Adultos (EJA).
O município formou um Comitê Municipal Intersetorial, com participação de setores da Saúde e da Educação, para construir um plano de retomada. "Estamos construindo um protocolo de retorno presencial às aulas, mas não tem data porque vai depender de uma conjuntura de como o vírus está se comportando", finaliza o secretário. Até as 8h58min desta quarta-feira, 8, São Gonçalo do Amarante contabilizava 1.731 casos confirmados da Covid-19 e 41 óbitos, segundo a plataforma IntegraSUS.