O que os pais precisam saber sobre crianças, coronavírus e cuidado na volta às aulas
Tire algumas dúvidas sobre riscos, prevenção e convivência nesta volta às aulasAs aulas presenciais nas escolas particulares de Fortaleza devem retomar daqui a duas semanas, a partir do dia 20 de julho. Entretanto, ainda podem haver dúvidas para pais e responsáveis sobre a segurança de crianças e adolescentes no retorno às atividades presenciais. O POVO ouviu especialistas para discutir os principais riscos e saber sobre como se preparar para esse momento.
Apesar de terem a tendência de desenvolver quadros mais leves da Covid-19, as crianças não estão imunes ao coronavírus e assim, como em qualquer pessoa, estão sujeitas à infecção. O Ceará tem 2.024 casos confirmados da Covid-19 de crianças até 4 anos, com 15 óbitos. Na faixa etária entre 5 e 9 anos, o número é de 1.492 confirmações, contabilizando quatro mortes.
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Enquanto isso, são 2.018 casos confirmados da doença entre crianças de 10 a 14 anos. Além disso, são pelo menos 2.699 adolescentes e jovens entre 15 e 19 anos que testaram positivo para o coronavírus no Estado. Os dados são da plataforma IntegraSUS da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), atualizados às 11h27min desta segunda-feira, 6 . O Ceará tem mais de 122 mil casos de Covid-19, com 6.462 mortes e 97 mil recuperados.
Saiba tudo sobre os sintomas do coronavírus em crianças, sua transmissibilidade, ensino do uso correto de máscara e medidas de prevenção para voltar à rotina nas escolas em segurança:
As crianças são mais resistentes ao coronavírus?
Ninguém é resistente ao coronavírus, até porque não existe vacina até o momento que produza os anticorpos para criar uma defesa contra a Covid-19. Crianças, jovens e adultos podem ser infectados. A diferença, conforme explica o infectologista Ivo Castelo Branco, do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), é que “a consequência da infecção na criança é menos sintomática do que nos indivíduos mais velhos”, que têm comorbidades, como diabetes, pressão alta e problemas cardiovasculares. “A consequência é que é diferente, mas a possibilidade de se infectar é igual”, afirma o especialista também Coordenador do Núcleo de Medicina Tropical da Universidade Federal do Ceará (UFC).
De acordo com Castelo Branco, a ideia de que as pessoas mais novas não podem chegar a formas graves da Covid-19 é errada. “A gente sabe que elas [crianças] podem ter numa proporção menor que em adultos. Até 20% dos casos em pessoas adultas podem chegar a formas graves. Nas crianças, é menos de 1%”, completa. Ele reforça que existem casos de óbitos também entre crianças e adolescentes.
Quais são os sintomas da Covid-19 geralmente apresentados pelas crianças?
A maioria das crianças têm poucos sintomas ou são assintomáticas. Quando eles se apresentam, se assemelham aos sinais iniciais da doença percebidos em adultos, como febre, dor no corpo, dor de cabeça e vermelhidão no corpo.
Um estudo publicado ainda em maio no periódico científico Frontiers in Pediatrics indica também que sintomas gastrointestinais, como diarreia, podem ser os primeiros indícios de Covid-19 em crianças.
Os pais devem ficar atentos. “As crianças menores não sabem se queixar disso, mas ficam chorosas, deixam de brincar, de comer”, alerta o infectologista Ivo Castelo Branco. Como a maioria dos casos é leve, é possível de obter tratamento em casa por meio de teleatendimento. O médico deverá orientar se for necessário ir ao hospital para aferir o nível de saturação.
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Crianças transmitem a Covid-19?
Dados recentes têm mostrado que as crianças parecem não desempenhar um papel importante na cadeia de transmissão. É o que esclarece o médico pediatra Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). “São dados preliminares, obviamente, da Austrália e de países nórdicos, mas são tranquilizantes no sentido da volta às aulas”, sugere alertando que tudo ainda estar a ser confirmado e o esquema de retorno à escola exige cuidados minuciosos.
A transmissão da Covid-19 se dá, principalmente, por meio da tosse e do espirro de pessoas infectadas. As gotículas com o Sars-Cov-2 se espalham pelo ar e por superfícies diversas. Com os sintomas respiratórios, a transmissão ocorre mais facilmente. Sem sintomas, como é ocorre comumente em crianças, se transmite menos.
“Em compensação, elas não não têm a disciplina de não pôr a mão no chão, em superfícies, de lavar a mão, não passar a mão na boca, não se abraçar... Nas crianças, a transmissão pode ocorre dessa forma”, pontua Ivo Castelo Branco, do HUWC.
A transmissão nos pequenos ocorreria, portanto, mais facilmente pela dificuldade de se cumprir essa etiqueta do distanciamento social e das medidas de prevenção indispensáveis. Isso possibilitaria ainda a veiculação do vírus entre as pessoas mais velhas que entram em contato com as crianças, como pais e avós, expondo maior parte da população ao risco da infecção.
Quais são os grupos de risco entre as crianças?
Se existem doenças pré-existentes, a chance de ter complicações da Covid-19 é maior. Crianças com câncer, algum problema hematológico, anemia falciforme, diabetes, obesidade, cardiopatias congênitas, doença renal crônica, asma, com algum tipo de imunodeficiência podem ser consideradas como estando no grupo de risco, da mesma forma que adultos na mesma situação.
“Assim como nos adultos, se a doença tá equilibrada, ele tende a evoluir melhor do que em crianças que têm aquela mesma patologia, mas não tem a doença controlada”, lembra Castelo Branco.
Crianças devem usar máscaras?
Quanto menor a criança mais difícil será fazê-la entender sobre a necessidade do uso de máscara e a forma correta de usá-la. Entre 7 e 12 anos, existe uma compreensão melhor. Abaixo de dois anos, o equipamento não é indicado pelo risco de sufocamento e inviabilidade de usar adequadamente.
Para os especialistas, ensinar sobre o modo de utilizar a máscara requer paciência e exemplo, começando pelos pais ou responsáveis. O uso do equipamento continua sendo obrigatório em todo o Ceará. A exceção é apenas para crianças menores de dois anos e quem tenha dificuldade de usar por alguma enfermidade, atestada por um médico.
Quais cuidados as escolas precisam adotar para a retomada das aulas?
A volta às aulas só será cabível se for possível cumprir com todas as determinações de prevenção à Covid-19 como distanciamento social, uso de máscaras, higienização constante com álcool em gel e ambientes que permitam a circulação do ar, avaliam os especialistas ouvidos pelo O POVO.
“Mas isso no tipo de escolas que temos, com salas fechadas e quantidade grande de alunos por turma, é mais difícil. É difícil controlar as crianças, mesmo com menos sintomas e transmitindo menos elas podem causar a veiculação de uma forma que não podemos controlar”, considera o infectologista Ivo Castelo Branco.
Em nota, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) sugere que “a volta às aulas deva ser gradual, de forma cautelosa, incluindo todas as precauções possíveis para minimizar a disseminação da infecção pelo Sars-Cov-2 nas escolas”.
Entre as medidas recomendadas pela instituição para os colégios estão: barrar a circulação de crianças e profissionais da educação doentes, a oferta de diversos locais para lavagem de mãos, água e sabão, álcool em gel, a higienização frequente dos recintos e das superfícies nos locais de ensino, a propiciação de ambientes arejados, com aberturas de janelas, e a criação de horários alternativos para evitar aglomerações na entrada e saída de alunos. No mais, para a SBP, o ensino à distância, sempre que possível, deve ser estimulado.
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O pediatra Renato Kfouri acrescenta ainda que a volta da pré-escola e de creches deve ser adiada pela dificuldade ainda maior de controlar o ambiente e as crianças mais novas. “Uma questão que se discute é a opção de os pais de não mandarem seus filhos [para a escola]. É um direito deles, acho que a opção de aula virtual deve ser oferecida neste momento”, opina o médico.