Fisioterapeuta registra em fotos a rotina de combate ao coronavírus no Hospital Universitário Walter Cantídio
Pelas lentes da câmera, a fisioterapeuta Marília Quinderé acompanha as emoções da rotina médica e da luta dos pacientes para vencer a pandemiaEm meio a momentos tão difíceis vivenciados dentro do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) no combate à pandemia do novo coronavírus, a fisioterapeuta Marília Quinderé passou a registrar, por meio de fotografias, a rotina do novo cotidiano do hospital. Entre relatos de tristeza, sofrimento e dor, os profissionais também registram, através de suas lentes, a alegria, o alívio e a superação de vencer essa batalha.
A ideia, conta Marília, partiu da vontade de registrar esse momento histórico de pandemia da Covid-19. “Como referência, eu tenho acompanhado o trabalho de fotojornalistas e fotógrafos documentais no Brasil e no Mundo, que têm feito um trabalho belíssimo de cobertura desse período. Então, resolvi que também poderia contribuir nesse sentido, trazendo uma visão da pandemia de dentro do hospital, na linha de frente.”
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Para realizar as fotografias, Marília entrou com um pedido de autorização à direção do hospital. “Formalizei um pedido à gestão do hospital e fui prontamente liberada para a realização das imagens, respeitando, obviamente, todos os princípios éticos”. Marília destaca que todos os profissionais e pacientes fotografados autorizaram o uso da imagem.
Há quatro anos trabalhando no HUWC, a fisioterapeuta relembra momentos marcantes da jornada entre trabalho e fotografias. Como exemplo, Marília comenta sobre as chamadas de vídeo feitas na UTI. “Esses momentos são sempre especiais. Essas ligações são uma oportunidade que o paciente tem de falar e rever a família. Muitos deles estiveram intubados e conseguiram vencer. Há poucas semanas, fizemos uma chamada de vídeo em que o filho internado pôde conversar com o pai. Fotografei esse momento de grande emoção”.
“Somente quem está na linha de frente de combate a uma epidemia de proporção global entende o misto de sensações que tem nos atravessado ao longo desses meses. Poder fazer parte desse momento histórico como fisioterapeuta, atuando na UTI especial para Covid, e como fotógrafa que registra e dá visibilidade ao trabalho valoroso dos colegas, profissionais da saúde, me traz muita satisfação. Uma dupla satisfação, na verdade”, conta.
Sobre as fotos estarem em preto e branco, Marília explica: "Optei pelo preto e branco para retirar a distração das cores, já que nossos aventais são bem coloridos, e para enfatizar as emoções e os sentimentos por trás de cada imagem. Também percebi que outros colegas, profissionais da saúde, que estão fotografando nos seus respectivos hospitais universitários também optaram pelo preto e branco e segui essa inspiração".
Dentre as tantas histórias que passam diante das lentes de Marília, uma a marcou profundamente. “Um paciente me contou que estava cumprindo o isolamento social de forma rígida, porque sua esposa era asmática. Mas, no Dia das Mães, passou no supermercado e foi para a casa da sua mãe, comemorar com ela. Dias depois, ambos apresentaram sintomas de Covid e foram encaminhados para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). A mãe permaneceu por lá e ele foi transferido para o HUWC. Lá, ele soube da morte de sua mãe. Ele me contou sua história de forma serena, porém com um sentimento de culpa muito grande. Dias depois, chamaram-me para fotografar a sua alta. Foi um momento de grande emoção”, relata.
As fotos já possuem um destino especial. De acordo com o superintendente do Complexo Hospitalar da UFC/Ebserh, Carlos Augusto Alencar Júnior, algumas imagens serão eternizadas em paredes e portas do hospital e farão parte de uma exposição em um momento pós-pandemia.