Casos de coronavírus avançam quase duas vezes mais rápido no Interior do Ceará, afirma Comitê Científico

O Comitê Científico do Consórcio Nordeste vê com "extrema preocupação" qualquer iniciativa de relaxamento social em todo Brasil, e orienta ações de enfrentamento a pandemia

Novos casos da Covid-19 crescem duas vezes mais rápido no interior cearense do que na região metropolitana de Fortaleza, segundo boletim do Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste. Os municípios com maiores picos de crescimento dos casos, em 29 de junho, eram Crato, Granja, Groaíras, Maracanaú e Mombaça, conforme destaca o documento, divulgado na quinta-feira, 2.

O Comitê Científico aponta outro dado que gera preocupação: um grande número de cidades do interior do Ceará, incluindo a segunda maior cidade do estado, Sobral, cruzou a marca de mais de 3 mil casos por cem mil habitantes. De acordo com o Comitê, esse número supera em 50% a marca de infectados por cem mil habitantes registrada pela cidade de Nova Iorque, considerada um dos maiores focos de infecção pelo coronavírus em todo o mundo.

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Até o dia 22 de junho, o fator de reprodução (RT) de Fortaleza estava em 0,76. O número oscilou pouco desde o fim de maio, quando registrou 0,78. Essa taxa, que se refere à capacidade de transmissão do vírus de uma pessoa infectada para outra suscetível, permaneceu abaixo de um desde o fim do lockdown em Fortaleza, no dia 31 de maio, de acordo com os modelos apresentados pelo Comitê. Quando o valor está abaixo de um, significa que um infectado pode transmitir a infecção para menos de uma pessoa.

“Como resultado de um lockdown efetivo, a cidade de Fortaleza experimentou uma queda significativa de casos e óbitos desde o último boletim emitido por este comitê [em 1º de junho]”, ressalta o documento. Em paralelo a isso, o Estado viu a pandemia se agravar em municípios do Interior. A cidade de Juazeiro do Norte, por exemplo, enfrentou um crescimento de 123% dos casos de coronavírus. Com o avanço do surto, as cidades de Sobral, Tianguá, Juazeiro do Norte, Iguatu, Crato, Barbalha e Brejo Santo continuam em lockdown.

Também no interior do Ceará, registra-se alta taxa do fator de reprodução da Covid-19, a exemplo do valor observado pelo Comitê em Sobral (1,64), Quixadá (1,81), Morada Nova (1,73) e Viçosa do Ceará (1,68), em 27 de junho. Conforme o grupo, todos estes fatores contribuíram para o avanço de novos casos de coronavírus no interior cearense, em velocidade quase duas vezes mais rápida do que na região metropolitana de Fortaleza. “Isso indica que Fortaleza também corre o risco de sofrer um efeito bumerangue de grande monta nas próximas semanas”, frisa.

Considerando as informações apontadas pelo boletim, o Comitê Científico orienta ações de enfrentamento ao avanço da pandemia. Entre elas, há a recomendação para que todas as rodovias que ligam Fortaleza ao interior do estado do Ceará sejam alvo de barreiras.

Também orienta o possível bloqueio intermitente de tráfego de carros particulares e total de ônibus intermunicipais para reduzir a interiorização da pandemia. Tráfego de transporte de carga essencial e transporte de pacientes são exceções. “Além disso, o comitê recomenda o estabelecimento de um programa estadual de Brigadas Emergenciais de Saúde com objetivo de quebrar as altas taxas de reprodução de casos no interior do estado”, finaliza a nota.

Sobre o Comitê Científico do Consórcio Nordeste

Os governadores que integram o Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste decidiram pautar as decisões de combate à pandemia mundial de coronavírus a partir do conhecimento científico e criou o Comitê Científico do Consórcio Nordeste.

O grupo é formado por cientistas, pesquisadores e médicos representantes dos nove estado, sob a coordenação do neurocientista Miguel Nicolelis e do físico e ex-ministro de Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende. Juntos, os integrantes sugerem estratégias para controle da Pandemia de Covid-19.

Participam do comitê os seguintes cientistas e pesquisadores: Roberto Badaró (BA), Maurício Lima Barreto (BA), Adélia Carvalho de Melo Pinheiro (BA), Antônio Silva Lima Neto (CE), Marcos Pacheco (MA), Priscilla Karen de Oliveira Sá (PB), Luiz Cláudio Arraes de Alencar (PE), Sinval Brandão Filho (PE), José Noronha (PI) e Marco Aurélio Góes (SE).

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