Férias em tempos de pandemia é possível? Especialistas dão dicas de como aproveitar o recesso

As restrições impostas pela pandemia nos colocam em condições diferentes de aproveitamento das férias, mas ainda permitem formas de descanso e a oportunidade de renovar vínculos familiares

O descanso é necessário, mesmo em tempos de isolamento social. Tirar férias do trabalho e curtir a família é importante para criar vínculos e manter a saúde da mente, segundo afirmam especialistas. Se aproveitado com organização e tempo de qualidade, o período de recesso ainda pode ajudar pais e responsáveis a desenvolver a autonomia e a sensação de segurança dos filhos.

As restrições impostas pela pandemia nos colocam em condições diferentes de aproveitamento das férias. O que antes era considerado um momento de lazer, decorrente de uma quebra da rotina e da busca por alternativas de satisfazer projetos pessoais, pode se tornar um exercício de praticar o que é possível. Ou seja, “como entender as férias nesse momento de pandemia?”, questiona o psiquiatra Úrico Gadelha.

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Segundo o psiquiatra, membro do Coletivo Rebento, existem uma série de medidas que afastam as pessoas das suas rotinas, mas que, por outro lado, não as liberam para curtir o ócio. “É um ócio compulsório, com sabor de clausura. Até o que gosta de fazer e está ao seu alcance fica permeado pelo fantasma de que está fazendo aquilo porque quer ou porque está sendo obrigado por não ter outra coisa [para fazer]”, ele pondera.

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Com a quarentena, muitos adotaram o sistema de trabalho home office, as crianças passaram a cumprir atividades escolares de forma remota, e parte da sociedade precisou reinventar o próprio lar para atender as expectativas do “novo normal”. Por causa disso, a concepção do que é férias fica diluída e se perde, segundo explica o psiquiatra Úrico Gadelha.

“Férias é sair de uma rotina obrigatória, para ter o tempo livre, se organizar e se dedicar a atividades alternativas, em favor do seu ócio. Quem estava na sua atividade normal, antes dessa pandemia explodir, estaria comprando seus pacotes para ir a serra de Baturité”, exemplifica. De acordo com Gadelha, essas atividades alternativas costumam ser em prol da diversão, sem necessidade de seguir determinações externas.

Como se adaptar as férias em situação de quarentena?

As mudanças suscitadas pelo isolamento social, revelam a necessidade de organização e percepção de si e da sua rotina em meio a pandemia, segundo esclarece o psicólogo Márcio Gondim. Nesse ambiente, em que muitas pessoas compartilham o espaço de descanso e lazer com aquele de práticas laborais, o exercício de planejamento e organização se torna ainda mais necessário.

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“É um grande desafio, porque não foi uma escolha pessoal, foi imposto. E pode ficar muito confuso, porque a sua casa, que era sobretudo um ambiente de repouso, virou um outro espaço”, comenta Márcio. Para lidar com essa realidade, é importante o exercício da percepção, de como redimensionar aquele ambiente, através do planejamento; ou reservando um tempo para si.

Marcio Gondim acrescenta que, nesse processo, as pessoas podem se adaptar e refletir como a vida no cenário atual pode ter sentido. Com isso, podem encontrar formas de recriar o lazer e o entretenimento, de forma a preservar a sua própria saúde mental. “Algumas pessoas aprendem a cozinhar, outras se dedicam a ler ou escrever. No modo de isolamento social, a criatividade é muito importante”, pontua.

Essa dimensão lúdica também é citada pelo psiquiatra Úrico Gadelha. Ele acrescenta que, para aproveitar as férias, deve-se construir uma nova rotina. “É buscar alternativas e reorganizar a dimensão lúdica do que fazer. Tem pessoas que estão fazendo cursos online ou aprendendo a cozinhar”, exemplifica. Segundo Gadelha, são atividades lúdicas, criativas, que possam gerar gratidão.

Como transformar o lar em um ambiente lúdico e de lazer criativo?

A primeira coisa para transformar o lar em um ambiente de lazer, é reinventar o espaço disponível, segundo explica a psicóloga e doutora em educação, Ticiana Santiago de Sá. Para isso, não é necessário recursos caros ou tecnológicos, a criatividade é suficiente. Uma rede pode virar um balanço, a casa pode virar uma galeria de arte, a família pode se reunir para contar histórias, ou os pais podem resgatar brincadeiras de infância com os filhos.

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“A ideia é que a gente use o que tem de mais precioso, que é a capacidade de criação, quando você cria, você cuida da sua saúde mental, renova vínculos familiares e dá o suporte para as crianças. Estar junto, brincar junto, é algo que dá o sentimento de segurança e pertencimento, de que essas coisas vão melhorar”, destaca Ticiana. A criação também é uma forma de renovar a sociedade e de se colocar contra o pragmatismo, afirma.

Outra dica da psicóloga para que as férias em família sejam bem aproveitadas, é a rotina organizada, com tempo de qualidade para o lazer. A família pode fazer atribuição de trabalhos, separando as tarefas domésticas entre seus pares, por exemplo. E podem aproveitar esse momento para reinventá-las: “Brincar de bola de sabão, na hora que for lavar a entrada, é uma atividade, cozinhar juntos é outra”, comenta.

Como cuidar da saúde mental?

De acordo com a psicóloga Ticiana, atividades de relaxamento podem ser alternativas de cuidados com a saúde mental. Banhos demorados e exercícios que envolvam respiração, são exemplos de práticas que podem ajudar o corpo a se recompor. “A água tem um efeito terapêutico muito bom, ela é tranquilizadora, como se estivesse limpando e reoxigenando”, detalha. Já a respiração mais profunda e pausada, ela acrescenta, tem um efeito autorregulador importante.

Segundo Ticiana, atividades artísticas e simbólicas também podem ser utilizadas: “Tem funcionado muito o diário de pandemia, que é uma forma de expurgar e fazer uma catarse de tudo que está acontecendo. E ao escrever, ou pintar, você também elabora, como se conseguisse se desvencilhar e criar outros sentidos sobre isso”. Atividades físicas são outras formas de manter a saúde do corpo e da mente, recomendadas pela psicóloga.

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