Pandemia agrava desigualdades na educação, alerta Unesco
Este quadro se agravou com a pandemia do novo coronavírus, que afetou mais de 90% da população estudantil mundial devido ao fechamento das escolas, segundo o informe. Enquanto filhos de famílias com recursos puderam continuar estudando em casa usando computadores portáteis, celulares e internet, milhões de estudantes ficaram completamente desconectados.
08:27 | Jun. 23, 2020
A pandemia do novo coronavírus, que já tinha causado problemas sem precedentes em sistemas escolares, afeta ainda mais o acesso à educação de estudantes pobres, jovens e alunos portadores de deficiência, adverte a Unesco em um relatório divulgado nesta terça-feira, 23.
Em um informe avassalador, a Unesco afirmou que 260 milhões de crianças não tiveram acesso à educação em 2018, embora as disparidades tenham aumentado com a pandemia do novo coronavírus.
As crianças das comunidades mais pobres, assim como as meninas, as portadoras de deficiência, os imigrantes e as minorias étnicas estavam em clara desvantagem educacional em muitos países, destaca a entidade sediada em Paris.
Em 2018, "258 milhões de crianças e jovens foram completamente excluídos da educação, sendo a pobreza o principal obstáculo para o acesso", ressaltou o informe. Isto representou 17% de todas as crianças em idade escolar, a maioria deles na Ásia meridional e central e na África subsaariana.
Este quadro se agravou com a pandemia do novo coronavírus, que afetou mais de 90% da população estudantil mundial devido ao fechamento das escolas, segundo o informe.
Enquanto filhos de famílias com recursos puderam continuar estudando em casa usando computadores portáteis, celulares e internet, milhões de estudantes ficaram completamente desconectados.
"As lições do passado - como o ebola - demonstraram que as crises sanitárias podem deixar muitos para trás, particularmente as meninas mais pobres, muitas das quais nunca voltarão à escola", escreveu a diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, no prólogo.
O informe apontou que nos países de renda média e baixa, os adolescentes dos lares 20% mais ricos tinham três vezes mais possibilidades de completar a primeira parte do ensino médio até os 15 anos do que os dos lares pobres. As crianças portadoras de deficiência tinham 19% menos probabilidades de alcançar um domínio mínimo de leitura em dez destes países.
Em 20 países pobres, principalmente na África subsaariana, quase nenhuma menina da zona rural completa o ensino médio, destacou a entidade.
Enquanto isso, nos países mais ricos, as crianças com até dez anos que receberam educação em um idioma diferente à sua língua materna tiveram uma pontuação 34% menor do que a dos falantes nativos nas provas de leitura.
Nos Estados Unidos, os estudantes LGBT+ tinham quase três vezes mais probabilidade de ficar em casa porque não se sentiam seguros.
"Infelizmente, os grupos desfavorecidos são postos à margem dos sistemas educacionais, através de decisões sutis que conduzem à exclusão dos planos de estudo, objetivos de aprendizado irrelevantes, estereótipos nos livros de texto, discriminação na dotação de recursos e avaliações, tolerância à violência e negligência das necessidades", destaca o informe.
Dois países africanos ainda proíbem meninas grávidas de irem à escola, 117 países permitem o casamento infantil e 20 ainda não ratificaram uma convenção internacional que proíbe o trabalho infantil. Trezentas e trinta e cinco milhões de meninas frequentaram escolas que não proporcionaram serviços de água, saneamento e higiene de que precisam para permanecer em aula enquanto menstruam.
Em vários países da Europa central e oriental, crianças romenas ou ciganas são segregadas nas escolas convencionais. E na Ásia, pessoas deslocadas como os rohinyas são ensinadas em sistemas separados.
"Muitos países ainda praticam a segregação educacional, o que reforça os estereótipos, a discriminação e a alienação", diz o informe.
"Apenas 41 países em todo o mundo reconheceram oficialmente a linguagem de sinais e em todo o mundo as escolas estavam mais ansiosas por obter acesso à internet do que a atender os estudantes portadores de deficiência", aponta o documento.
A Unesco instou os países a se concentrarem nas crianças desfavorecidas, quando as escolas voltarem a abrir depois do fechamento provocado pela pandemia do novo coronavírus.
"Para enfrentar os desafios do nosso tempo, é imperativo avançar para uma educação mais inclusiva", disse Azoulay. "Não agir atravancará o progresso das sociedades", reforçou.