Saiba como reconhecer sintomas que indicam alteração na saúde mental e como amenizá-los

Psicólogas apontam a importância do autoconhecimento para perceber sintomas anormais e da expressão para abrandar as manifestações

16:15 | Jun. 18, 2020

Por: Catalina Leite
A ansiedade é um sentimento comum para os seres humanos, mas existem casos em que ela extrapola a normalidade e vira um impeditivo para seguir o cotidiano (foto: banco de dados o povo)

Desde o início da pandemia de Covid-19, muito se falou sobre alterações na saúde mental como consequência das medidas de isolamento social. No entanto, nem sempre é fácil relacionar alguns sintomas físicos como desordens emocionais. De acordo com psicólogas ouvidas pelo O POVO, o primeiro passo é o autoconhecimento.

Como cada corpo é único, é preciso entender os próprios hábitos e realidades. “A gente precisa sempre olhar os dois lados. Eu posso simplesmente ter uma dor no estômago, mas não necessariamente ela é causada por uma ansiedade exagerada”, destaca a psicóloga Márcia Linhares. Portanto, antes de considerar qualquer manifestação como de origem emocional, é importante analisar aspectos como alimentação, exercícios físicos, qualidade do sono e fatores relacionados ao trabalho.

Por exemplo, é comum que professores sintam dores na garganta, afinal é o instrumento de trabalho deles. Então, o ideal seria primeiro ser consultado por um otorrinolaringologista. Caso o profissional averigue que não há nada de errado, é interessante começar a avaliar o estado emocional como uma causa, afirma Márcia.

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“Compare dentro do seu padrão, com o que você viveu e teve como trajetória de vida. Se essas alterações forem significativas, não comuns, fique atento”, sugere a psicóloga Ticiana de Sá. A especialista explica que a mente é a responsável por regular as funções corporais. Por isso, o corpo cria sintomas para “dar pistas” de que algo não está funcionando da melhor forma que poderia, inclusive emocionalmente.

Sintomas comuns

Dor muscular nos ombros e nas costas, dor no estômago, prisão de ventre, diarreia, queda de cabelo, bruxismo e até falta de ar. Esses são alguns dos sintomas relacionados à ansiedade mais comuns citados pelas psicólogas. “Esse período de isolamento social está mexendo muito com as pessoas e demandas como ansiedade têm chegado muito ao consultório”, comenta a psicoterapeuta Diva Barreto.

A ansiedade é um sentimento comum para os seres humanos, mas existem casos em que ela extrapola a normalidade e vira um impeditivo para seguir o cotidiano. “Esse isolamento afeta emocionalmente tanto pelo distanciamento, quanto pelo medo de adoecer. Tudo isso pode causar efeitos emocionais e psicológicos”, diz a especialista. Quando a ansiedade fica mais exacerbada, ela pode desencadear sintomas físicos, como dor de cabeça, sudorese e taquicardia - além dos citados anteriormente.

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Diva alerta para a própria falta de ar como indício de crises de ansiedade, neste período confundida com manifestações da Covid-19. Ela reforça que a falta de ar provocada pelo novo coronavírus geralmente está associada a outros sintomas, como febre, tosse, dor de cabeça e fadiga.

Para acalmar a falta de ar decorrente da ansiedade, Diva orienta a focar na respiração. Contando até dez, inspire. E então, expire, novamente contando até dez. Prossiga até conseguir controlar o ritmo da respiração.

No início de junho, O POVO contou a história de Júlio Rocha, 31, que precisou ficar em quarentena após ser testado positivo para Covid-19. Mesmo com sintomas leves o suficiente para ficar em casa, o cearense sentia faltas de ar “assustadoras”, consequência do momento de estresse e medo de contaminar os pais ou até morrer. Foi somente após consulta psicológica de urgência, pelo celular, que ele conseguiu se acalmar e superar o sintoma.

Como amenizar

O atendimento psicológico é sempre a primeira opção. Durante a pandemia, muitos projetos têm disponibilizado apoio psicológico gratuito e remoto, justamente para atender a demanda de saúde mental. Ainda, profissionais da área devidamente autorizados aderiram ao sistema de telemedicina.

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Por outro lado, é possível fazer outras atividades para equilibrar o emocional. A psicóloga Ticiana de Sá e a psicoterapeuta Diva sugerem criar um “diário do isolamento”. A ideia é ter um espaço, seja em um caderno ou no computador, para expressar sensações e pensamentos durante a quarentena. Assim, fica mais fácil analisar e acompanhar as próprias emoções. A mesma lógica se encaixa para manter o contato com amigos e parentes e compartilhar suas emoções - ser ouvido alivia e faz bem.

Ticiana ainda recomenda encontrar momentos para concentrar-se no próprio corpo e vivências. Pode ser um banho mais demorado, uma refeição diferente ou apenas fazer nada. De acordo com a psicóloga Márcia Linhares, as pressões do trabalho e a cobrança por mais produtividade impedem que as pessoas aproveitem para fazer nada. “Não é ler, nem usar o celular. É deitar e fazer nada, só pensar”, define.

Arte para expressar

Outras dicas como se alimentar bem e praticar exercícios físicos são citadas pelas psicólogas e apontadas como essenciais para manter uma saúde equilibrada. Além disso, elas indicam a expressão pela arte como ótima atividade terapêutica, capaz de auxiliar a pessoa a entender as próprias sensações.

Um exemplo é a ilustradora carioca Taíssa Maia. Ela e a família contraíram Covid-19 em maio e os avós precisaram ser internados. Infelizmente, a avó de Taíssa morreu por causa do novo coronavírus, integrando os mais de 8 mil óbitos registrados no estado do Rio de Janeiro até essa quarta-feira, 17. O dado é da Secretaria da Saúde do Rio de Janeiro.

Para lidar com a situação, a ilustradora desenvolveu um projeto artístico de quatro capítulos sobre a descoberta da contaminação, o processo de internação e de luto. “É o projeto mais pessoal que eu já fiz na minha vida, um relato dificílimo de contar, mas que me ajudou muito a digerir esse pesadelo todo, e o resultado final confortou a minha família”, compartilhou no Instagram.

 
 
 
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