Saiba como funciona e entenda as contraindicações do medicamento capaz de reduzir mortes por Covid-19

Os corticoides, classe à qual pertence a dexametasona, são utilizados para tratamento de pacientes graves desde maio no Ceará

Uma pesquisa da Universidade de Oxford divulgada nessa terça-feira,16, revelou que a dexametasona, corticoide barato e de uso amplo, demonstrou eficácia em casos graves de Covid-19. Houve diminuição da taxa de mortalidade de pacientes entubados em um terço. O POVO ouviu especialistas que explicaram como o remédio funciona e alertaram porquê o corticoide não deve ser utilizado sem prescrição médica, fora do hospital.

O infectologista Keny Colares, médico do Hospital São José e pesquisador do Grupo de Pesquisa em Virologia da Universidade de Fortaleza (Unifor), afirma que o uso de corticoides, não necessariamente a dexametasona, tem sido recomendado pelo protocolo de tratamento da Secretaria Estadual de Saúde do Estado (Sesa) desde maio para pacientes graves da Covid-19.

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Ou seja, a prescrição é apenas para quem começa a apresentar um processo severo de inflamação respiratória, depois do quinto ou sétimo dia da doença. O médico lembra ainda que o uso de corticoides está associado com antibióticos e anticoagulantes. "O estudo [de Oxford] veio confirmar as opções que tínhamos feito na hora de oferecer o melhor tratamento em um momento onde existia tão pouca informação", avalia o infectologista.

A pesquisa da Oxford não mostrou benefícios em pacientes que não precisaram de suporte de oxigênio, isto é, em casos leves. A droga foi administrada em 2.104 pessoas diagnosticados com Covid-19, selecionadas aleatoriamente, por via oral ou intravenosa. Eles foram comparados a 4.321 pacientes tratados convencionalmente.

Conforme Colares, o uso do medicamento em pacientes com complicações mais graves se deve ao fato de o corticoide interferir diretamente no sistema imune. Quando nosso organismo está ameaçado, o sistema imunológico age liberando substâncias que atingem outras, funcionando como uma espécie de "cascata". Na maioria das vezes, isso é para ativar o sistema de defesa e controlar o "inimigo".

Porém, em algumas situações, não apenas na Covid-19, esse processo ocorre de maneira exagerada. Assim, em vez de controlar a doença, acaba desestabilizando o funcionamento do organismo. "Usar medicações que interferem no sistema imune no começo de uma infecção pode ser perigoso porque você pode impedir o sistema de defesa de fazer a tarefa dele", completa Colares.

Alerta sobre o uso indiscriminado

De acordo com a professora Miriam Monteiro, do curso de Farmácia da Universidade Federal do Ceará (UFC), o uso de corticosteroides, como a dexametasona, precisa ser visto com cuidado. Isso porque a substância tem potencial de complicar quadros prévios de pacientes com hipertensão ou diabetes.

Monteiro também é pesquisadora do Grupo de Prevenção ao Uso Indevido de Medicamentos (GPUIM) da UFC e pondera que medicamentos com estudos em curso não devem ser interpretados como milagrosos. "Poderá ajudar, mas não se pode fazer disso uma panaceia e dizer que todos os problemas da Covid-19 serão resolvidos. É um medicamento de fácil acesso e as pessoas podem ter problemas pelo uso indiscriminado", adverte.

Tire suas dúvidas sobre a dexametasona

O que é a dexametasona?

A dexametasona é um corticosteroide, também chamado de corticoide, classe importante de anti-inflamatórios que atuam na imunossupressão [inibição da ação do sistema imunológico].

Que tipos de doenças os corticoides podem tratar?

Os corticoides são usados para tratar doenças ligadas ao sistema imunológico, como atrite reumatoide e lúpus, em ambas o sistema de defesa ataca o próprio corpo. Há também usos em situações de pacientes com infecções, como sepse e meningite.

Como os corticoides funcionam para a Covid-19?

O processo da inflamação envolve substâncias denominadas "mediadores inflamatórios". Essas substâncias, produzidas pelo organismo, levam a um conjunto de sintomas e sinais que caracterizam uma inflamação, que pode ter nível de gravidade baixo ou alto, como é o caso da Covid-19. O processo inflamatório mais danoso ocorre nos pulmões.

Essa inflamação é em decorrência do que tem se chamado de "tormenta ou tempestade de citocina", causada pelos mediadores inflamatórios. Quando essa tormenta de citocinas acontece, o paciente entra em dificuldade respiratória porque ocorre um quadro pulmonar que leva à falência respiratória e à coagulopatia, quando o sangue começa a coagular.

Em resumo, acontece uma reação inflamatória grave do corpo por uma resposta exagerada na luta contra o vírus. É na inibição desse processo que atuam os corticosteroides, por sua ação imunossupressora.

Ainda não há, contudo, informações completas sobre o motivo de algumas pessoas chegarem ao quadro mais grave da Covid-19, e outras não, conforme o infectologista Keny Colares.

Quais são os efeitos colaterais?

Por serem medicações que atuam no sistema imune, os corticoides podem aumentar riscos de infecções bacterianas. Além disso, o medicamento descontrola a diabetes, a pressão arterial e pode leva até mesmo a alterações psiquiátricas. Os corticosteroides também provocam alterações hormonais. Por tudo isso, a automedicação é amplamente desaconselhada.

Outras substâncias em estudo

De acordo com a a professora Miriam Monteiro, da UFC, novas substâncias com estudos em andamento podem vir a ser promessas "muito mais eficientes do que a dexametasona", no tratamento do coronavírus. Ela cita os medicamentos tocilizumab e anakinra, este último ainda não aprovado no Brasil.


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