Estudantes de Comunicação da UFC se mobilizam contra proposta de aulas remotas e pedem suspensão do semestre letivo

Grupo formado por estudantes de Jornalismo e Publicidade e Propaganda criou perfis em redes sociais para chamar atenção de outros universitários, militantes da Educação e gestores

"Ninguém a menos". É assim que estudantes de Comunicação da Universidade Federal do Ceará (UFC) se apresentam nas redes sociais em perfis criados na última semana para chamar atenção do público a uma demanda: a suspensão do semestre letivo 2020.1. O grupo é tanto do curso de Jornalismo quanto de Publicidade e Propaganda.

Eles têm se organizado na internet - espaço escolhido conscientemente por saberem do alcance - para tentar explicar o motivo de não quererem as aulas remotas da Proposta Pedagógica de Emergência (PPE), divulgado pela UFC. O plano traz mecanismos para a retomada gradual das atividades acadêmicas e a conclusão do semestre 2020.1.

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"Não concordo com as aulas remotas simplesmente porque elas não são aulas. Eu estudo Jornalismo na UFC desde 2018 e as aulas do curso sempre tiveram uma característica em comum: a criação de um vínculo entre estudantes, docentes, espaço geográfico e contexto diário", introduz Mateus Brisa, estudante e bolsista na instituição. Segundo o jovem, o ensino remoto proposto pela Pré-Reitoria de Graduação tenta adaptar as aulas presenciais ao ambiente digital, o que na sua opinião é "praticamente impossível".

Impossível porque, conforme Mateus, que tem conduzido pesquisas em seu curso sobre como anda estrutura dos colegas nesses tempos de pandemia, uma quantidade significativa de estudantes da UFC não têm um bom acesso à internet. "Nem um local de estudos e concentração em suas casas, um suporte psicológico adequado", acrescenta. As especificidades enquanto estudante de Jornalismo também existem: grande parte do ensino do curso é prático, demanda atividades presenciais - como entrevistas com fontes -, equipamentos e plataformas digitais específicos.

A proposta da UFC traz uma série de orientações para cada uma das três situações observadas atualmente na universidade, em meio ao contexto de pandemia da Covid-19: turmas que estão praticando atividades remotas; turmas que interromperam as atividades remotas; e turmas que não realizaram atividades remotas.

A também PPE inclui propostas de calendário de reposição para cada tipo de situação. No caso das turmas cujas atividades encontram-se paralisadas e naquelas que foram interrompidas, a reposição deverá começar somente a partir de julho, uma vez que o mês de junho está sendo destinado às atividades de formação e de planejamento docente e discente.

Existe também a proposta de distribuição de pacotes de internet para alunos em vulnerabilidade social. No entanto, alguns estudantes estão desconfiados  e têm dúvidas: como ficam universitários que não têm computadores, notebooks ou celulares? 

Leia mais: UFC não tem planejamento para atividades presenciais em 2020 

Cândido Albuquerque já havia dado entrevista ao O POVO sobre o assunto e disse que grande parte da universidade terá conclusão do semestre 2020.1 de forma remota com "prejuízos mínimos" até julho. A instituição havia feito uma pesquisa online sobre a situação da comunidade universitária durante a pandemia e seu acesso à internet.

O reitor disse sobre alcance da pesquisa: "Na comunidade universitária, todos de alguma forma têm acesso. Talvez o aluno não tenha acesso à internet para fazer atividades remotas, mas a consulta foi feita por e-mail. Quem não tem acesso a email?".

Raíssa Pacheco, estudante de Publicidade e Propaganda, está na fase de produção de seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e também se sente prejudicada com a proposta de aulas remotas. "Comecei a quarentena sem computador. Precisei usar celular da minha irmã algumas vezes. Nos encontros universitários precisei dar meus pulos para participar, mas muitos alunos foram excluídos", relata a jovem. Ela até conseguiu um computador emprestado - antes já tinha começado a escrever à mão -, mas reconhece que para o TCC as demandas são ainda maiores. "Além do impedimento instrumental tem o psicológico. Tenho familiares que pegaram Covid-19, que faleceram. Também tem uma situação financeira muito complicada", desabafa Raíssa.

Tanto para ela quanto para Mateus a proposta da UFC deixa de lado partes importantes para o aprendizado de uma pessoa: equilíbrio psicológico e emocional. "Estamos vivenciando coletivamente um momento novo e desconhecido na história. As pessoas estão ansiosas, curiosas, se questionando, chorando, sofrendo com luto. Não tem como a Prograd (Pró-Reitoria de Graduação) simplesmente deixar isso de lado e fingir que estamos em situação de normalidade, porque não estamos", pontua Mateus Brisa. Outro estudante que também relatou ao O POVO insatisfação com a proposta foi Yago Oliveira. Ele, que cursa Publicidade e Propaganda, precisa dos laboratórios da universidade para fazer os trabalhos práticos. "Outro ponto é que existem pessoas que estão em áreas que não têm internet ou rede e mesmo que recebam o chip (pacotes de internet), não vão ter acesso às aulas de forma plena", conta.

Para Yago, o formulário aplicado pela UFC não consegue ser eficaz pois 30% - 10 mil alunos responderam o formulário e representam, nas palavras do reitor, 30% do corpo acadêmico estudantil - não é "nem um pouquinho do que a UFC representa". "Todos os estudantes que não puderam responder ficaram de fora e decisões estão sendo tomadas a partir de um formulário que não condiz com a realidade da UFC. É isso que nos leva a nos organizar", argumenta Yago. No Instagram, grupo reativou o Balbúrdia UFC, protagonista de outra mobilização

O POVO solicitou entrevista com o reitor Cândido Albuquerque para esta sexta, mas a assessoria afirmou que "não seria possível atendar a demanda desta vez" e informou apenas que, "sobre o assunto", o reitor publicou uma nota no sistema de comunicação utilizado na Universidade (SIGAA). Confira abaixo a íntegra do documento, intitulado "Desconfie de quem prega o ódio em nome da paz!".

"Caros professores, servidores técnico-administrativos e alunos,

A Covid-19 pegou todos nós de surpresa. O mundo, na verdade, foi apanhado de surpresa e ninguém teve tempo para se preparar. As nossas vidas foram subitamente alteradas. Fomos submetidos ao isolamento social e tivemos de nos reinventar para superar os obstáculos.

Na nossa UFC não foi diferente. E como foi gratificante ver a nossa Universidade se superar, manter o calendário e desenvolver, em muitas unidades, atividades remotas com sucesso, além de realizar os maiores Encontros Universitários da história.

Com isso, criamos um paradigma: teremos, de agora em diante, uma versão virtual dos Encontros como forma de difundir para além dos nossos campi as produções do nosso qualificadíssimo corpo discente. Nos superamos!

Capacitamos a nossa comunidade para o futuro, hoje muito próximo.

A UFC não aceitou simplesmente parar e agora colhe os frutos do seu esforço, enquanto outras universidades correm para minimizar os prejuízos. Lutamos, principalmente, para diminuir o impacto do fenômeno da evasão e proteger a nossa comunidade discente, mantendo-a mobilizada.

Agora é chegada a hora de retomar as nossas atividades presenciais, de forma gradual e segura. Para tanto, além dos muitos cursos já realizados e em andamento, fizemos uma pesquisa para melhor conhecer as necessidades da nossa comunidade e, mais que isso, nos permitir desenvolver uma sólida ação de inclusão.

A PROGRAD, sob a coordenação da pró-reitora, professora Ana Paula, construiu um Plano Pedagógico Emergencial, após amplo debate com a comunidade acadêmica, de modo a orientar as unidades considerando todos os cenários possíveis.

As demais Pró-Reitorias, de igual modo, desenvolveram estudos e tomaram providências visando a garantir um retorno seguro às atividades presenciais.

As nossas residências universitárias estão sendo dotadas de equipamentos modernos que permitem aos nossos alunos o pleno acesso ao mundo virtual e às atividades pedagógicas. De igual modo, outros espaços da universidade estão sendo preparados. E mais, milhares de pacotes de dados de internet estão sendo adquiridos para que seja promovida a maior ação de inclusão digital da UFC.

A UFC Infra vem adotando medidas para melhorar as ações de combate ao novo coronavírus, de modo a garantir a toda comunidade um retorno gradual e seguro. O Comitê de Enfrentamento à Crise, da mesma forma, tem desenvolvido estudos e orientações à Administração Superior.

Estamos fazendo a nossa parte. Inclusive porque temos duas convicções: não sabemos quando será possível o retorno total às atividades presenciais e, ainda, porque o mundo e as nossas práticas não voltarão a ser iguais à realidade pré-pandemia.

Precisamos, cada um, com responsabilidade, fazer a sua parte.

A Universidade não pode parar e precisamos proteger, principalmente, a nossa comunidade discente.

Todas as medidas possíveis foram ou estão sendo adotadas: um plano de retorno bem estruturado, medidas de inclusão, acessibilidade, treinamento da comunidade para o mundo virtual, segurança etc.

Precisamos mostrar aos conservadores e defensores do atraso que unidos somos mais fortes e que sairemos dessa crise melhores e mais capacitados.

Parabéns à comunidade acadêmica da UFC pela demonstração de força e capacidade de superação.

Nos veremos PRESENCIALMENTE em breve.
Recebam o meu abraço e a minha admiração.

Prof. Cândido Bittencourt de Albuquerque.
Reitor da UFC"

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