Cerca de 45% dos atendimentos psicológicos da Rede ConVida estão relacionados à ansiedade

Em um mês de atuação, a Rede ConVida atendeu 600 pessoas, a maioria entre 21 e 42 anos. Quadro de psicólogos voluntários quadruplicou

A pandemia de Covid-19 tem trazido diversos impactos no cotidiano, entre eles dificuldades emocionais e abalos psicológicos. Foi pensando nesses aspectos que, há um mês, foi criada a Rede de Acolhimento Emocional ConVida. Desde o dia 8 de maio, 600 pessoas foram acolhidas pelo serviço e o quadro de voluntários quadruplicou. Inicialmente com 16 profissionais, hoje a Rede disponibiliza 71 psicólogos atendendo em três turnos de segunda a sexta-feira.

De acordo com a Secretaria Regional I, que articulou a formação do grupo, a Rede recebeu ligações de pelo menos 73 bairros de Fortaleza, além de contatos vindos de 28 cidades do Interior e de outros estados do Nordeste. Os atendimentos são realizados por meio de ligações telefônicas ou via WhatsApp. “A ação não remete a tratamento psicológico, embora ajude a desmistificar o que é a Psicologia, mas sim a um acolhimento emocional, estimulado pelos impactos gerados pela Covid-19”, explica Lucivane Martins, psicóloga que faz a triagem e busca novos profissionais para a Rede. Ela garante que todos os acolhidos têm sua privacidade e confidencialidade resguardadas.

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Entre os atendidos, 266 pessoas (cerca de 45% do total) relataram principalmente questões ligadas à ansiedade. “O que percebemos é que a faixa etária dessas pessoas foi entre 21 e 42 anos. Nessa faixa etária, as pessoas estão no campo de trabalho e já têm famílias construídas ou em construção”, enumera Lucivane. “Nesse momento, a quebra de rotina, o desemprego, as incertezas e os medos em relação ao futuro fazem com que as pessoas paralisem e não consigam encontrar uma solução no presente.” Por isso, a conversa com os psicólogos da Rede buscam trazer o pensamento para o presente e para as possibilidades de reconstrução do cotidiano.

Veja os profissionais e horários de atendimento da Rede ConVida, também disponível aqui:

Tabela de atendimento da Rede ConVida pela manhã
Tabela de atendimento da Rede ConVida pela manhã (Foto: Divulgação)

Tabela de atendimento da Rede ConVida pela tarde
Tabela de atendimento da Rede ConVida pela tarde (Foto: Divulgação)

Tabela de atendimento da Rede ConVida pela noite
Tabela de atendimento da Rede ConVida pela noite (Foto: Divulgação)

Ao mesmo tempo, mais de 83% dos atendidos não fazem acompanhamento psicológico, o que indica a importância do acolhimento. “Na maioria do atendimentos, percebo que as pessoas não conhecem o papel do psicólogo e nesse momento de crise esse papel é fundamental”, afirma Andressa Andrade, voluntária na Rede. “Esse projeto é uma porta de entrada, especialmente para a população mais vulnerável, que muitas vezes não tem acesso e vê a Psicologia como algo restrito a algumas classes”, pontua.

O autônomo Júlio Rocha, 31, foi diagnosticado com Covid-19 há duas semanas e, junto dos sintomas da doença, começou a ter sinais de ansiedade. “Eu moro com minha mãe e fiquei em isolamento total no meu quarto. Nesse momento, todo mundo está abalado, mas assim no isolamento fui ficando desesperado e, pesquisando na internet, encontrei a Rede ConVida”, relata. “Na noite que liguei estava com muita falta de ar, apesar de o nível de oxigenação estar normal. A psicóloga me explicou que poderia ser também ansiedade, pude conversar sinceramente com ela e ainda me ensinou um exercício de respiração. Foi um grande alívio”, agradece.

Veja trecho da entrevista com o Júlio, atendido pela Rede ConVida:

Outras queixas frequentes são de angústia, separação no relacionamento afetivo durante a pandemia, hipocondria, estresse, impaciência, luto, insônia, oscilações de humor e sensação de impotência. A professora Rosânia Araújo, 51, conta que buscou o serviço assim que soube da existência da Rede. “Isso uma semana depois de ter perdido um tio que foi como um pai para mim. Ela faleceu pelo coronavírus e no mesmo período meu sobrinho estava internado na UTI por essa doença também”, relata. “Eu estava em um desespero muito grande e ainda vendo pessoas próximas adoecendo ou perdendo parentes.”

Veja trecho da entrevista com a professora Rosânia Araújo, atendida em um momento de luto:

Para ela, o atendimento foi “um momento de desabafo” e “uma luz”. “Além disso, estava com medo de pegar a doença ou de que meu esposo, filho ou mãe também pegasse.” Desde então, Rosânia já indicou o contato para amigas e parentes. Cada acolhida tem duração de 30 minutos e para participar é necessário ser maior de 18 anos. Todos os profissionais participantes são autorizados pelo Conselho Regional de Psicologia para realização de atendimento a distância.

Serviço

Rede de Acolhimento Emocional ConVida
Para mais informações: (85) 99200 9320
O acolhido deve ser maior de 18 anos

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