Estudo da USP vai testar antiviral contra Covid-19 em voluntários no Ceará

Segundo o jornal O Globo, dentro de duas semanas, os testes devem começar em pacientes do Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ), em Fortaleza

14:05 | Jun. 04, 2020

Por: Redação O POVO
O hospital São José receberá os testes (foto: Aurelio Alves/O POVO)

Um estudo da Universidade de São Paulo (USP) analisa uma droga usada no tratamento de pessoas com Aids, o fumarato de tenofovir desoproxila, como possibilidade no combate à Covid-19. Segundo o jornal O Globo, dentro de duas semanas, a substância deve começar a ser testada em pacientes com coronavírus no Hospital São José de Doenças Infecciosas (HSJ), em Fortaleza.

A instituição do governo estadual do Ceará participa de estudos contra a Covid-19 e se interessou pelo tenofovir. O Estado registra 58.160 casos confirmados de Covid-19 e 3.671 mortes, segundo dados atualizados nesta quinta-feira, 4, às 9h30min, pela plataforma IntegraSUS

Os voluntários alvos do estudo devem ser aqueles diagnosticados com a Covid-19 de baixa e média gravidade. O antirretroviral foi testado com sucesso contra o Sars-CoV-2, em laboratório, pelos cientistas brasileiros.

O tenofovir não faz parte da lista de drogas selecionadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para testes em larga escala no mundo. Mas um grupo de cientistas de São Paulo descobriu que sua composição o torna um candidato em potencial para combater o Sars-CoV-2.

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O professor Eurico Arruda, titular de área de virologia da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto, explica que a substância tem a capacidade de se ligar num trecho específico de uma proteína importante para o coronavírus se multiplicar dentro de células humanas infectadas. Ele é um dos autores do estudo.

O trabalho começou quando o pesquisador Norberto Lopes, do Núcleo de Apoio a Pesquisa em Produtos Naturais e Sintéticos (NPPNS), da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP viu que a estrutura química do tenofovir o tornava promissor contra o coronavírus.

Lopes estuda há anos formas de simplificar e baratear síntese no Brasil de antirretrovirais usados no tratamento da Aids e conhece bem sua estrutura. Ele trabalhou no projeto em associação com Giuliano Clososki, também da Faculdade de Ciências Farmacêuticas.

Droga barra multiplicação do vírus

Arruda e Luis Lamberti da Silva, da Faculdade de Medicina, testaram a droga contra Sars-CoV-2 em cultura e verificaram que o tenofovir inibia a produção de vírus, por emperrar o mecanismo de multiplicação do coronavírus. Assim, sua replicação fica ineficiente e a infecção não vai adiante.

Em cultura de células, a droga conteve o causador da Covid-19, e o passo seguinte é descobrir se o sucesso no laboratório se repete em pacientes. Muitas substâncias fracassam nessa etapa.

De acordo com Arruda, após receber a autorização da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), os testes com pacientes devem ser iniciados dentro de duas semanas com o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

Grupo alvo dos testes

Os testes devem ser realizados com pacientes cujo quadro ainda não evoluiu para a chamada tempestade imunológica, quando o ataque descontrolado do sistema de defesa se torna mais grave do que a ação do coronavírus em si.

São pacientes de leve e média gravidade, mas que poderiam ter o avanço da doença revertido por medicamentos. O teste se dará tanto com o tenofovir sozinho quanto em combinação com outro antirretroviral chamado entricitabina. Os dois já são usados juntos no coquetel anti-Aids cujo nome comercial é truvada.

"Nenhuma dessas drogas de uso redirecionado é a solução para a Covid-19. Mas, potencialmente, podem ajudar muito os doentes num momento em que não existe tratamento específico, vacina, e o Brasil já passa do meio milhão de infectados", ressalta Arruda.