Taxa de mortalidade materna por coronavírus é maior no Brasil do que em 8 países do mundo juntos
Números revelam que, dentro do período avaliado, Brasil tem registrado mais mortes maternas por 100 mil habitantes do que em países cujo índices gerais de óbitos por Covid-19 são superiores
21:35 | Mai. 27, 2020
Na véspera em que se comemora o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna, nesta quinta-feira, 28, um levantamento realizado pelo Instituto Santos Dumont (ISD) apontou que 20 mulheres grávidas ou puérperas morreram como casos suspeitos ou confirmados do novo coronavírus no Brasil, a Covid-19. O balanço, divulgado nesta quarta-feira, 27, leva em consideração dados entre os dias 21 de março e 23 de maio deste ano. A taxa de mortes maternas brasileiras, considerando suspeita ou a confirmação da doença, é maior do que a de 8 países do mundo juntos.
Números revelam que, dentro do período avaliado, Brasil tem taxa de mortalidade materna por 100 mil habitantes maior do que em países cujo índices gerais de óbitos por Covid-19 são superiores. O mapeamento realizado a partir de, entre outros, reportagens veiculadas e de boletins epidemiológicos divulgados pelas Secretarias de Saúde, discrimina ainda que essa taxa apresentada no Brasil é maior do que a dos Estados Unidos (EUA), Reino Unido, Peru, Polônia, Argélia, Espanha, México e Índia juntos.
Os casos brasileiros identificados pelo levantamento aconteceram em maior número no Norte e no Nordeste do País, sendo Amapá, Paraíba, Amazonas e Rio Grande do Norte os estados com os piores índices de mortes maternas com suspeita ou confirmação da Covid-19. Outros estados com óbitos identificados pela pesquisa foram Espírito Santo, Pará, Rio de Janeiro, Maranhão, Pernambuco, São Paulo e Bahia.
De acordo com Reginaldo Freitas Júnior, doutor em ciências médicas pela USP e diretor-geral do ISD, a pesquisa aponta um quadro preocupante, mas que já existia antes da pandemia. “Esse momento trouxe a tona problemas crônicos de assistência da maternidade no Brasil que já existiam, mais que se revelaram piores devido ao contexto em que estamos”, afirma o especialista.
Uma dessas problemáticas, segundo Reginaldo, é a falta de vinculação da mulher com o parto. O diretor pontua que muitas das mães, principalmente as que se encontram em situações de vulnerabilidade, não têm vínculo com hospitais e acabam realizando uma “peregrinação” nas maternidades, comprometendo a sua segurança e a do bebê em meio a pandemia.
Com a suspensão de algumas atividades, o pré-natal também estaria comprometido. Reginaldo afirma que alguns estados não classificaram o acompanhamento materno como sendo de urgência ou emergência, o que estaria trazendo riscos à gestação das mulheres, uma vez que elas encontram dificuldades de realizarem procedimento. “Essas mortes poderiam ser evitadas se existisse um acompanhamento”, pontua diretor.
Gestantes e os riscos do coronavírus
Reginaldo defende que autoridades sanitárias brasileiras “subestimaram” o risco de infecção da doença nas grávidas ao não colocá-las no grupo de risco da Covid-19. Apesar de esclarecer que gravidez não se trata de doença, o diretor afirma que nessa fase as mulheres apresentam alterações fisiológicas que podem aumentar a suscetibilidade de patologias, como as que são causadas por infecções respiratórias.
O doutor aponta que não é possível afirmar ainda que uma mulher gestante e infectada pela Covid-19 pode passar a doença para o bebê, no que seria um transmissão vertical, mas que um estudo publicado pelo instituto francês National de la Santé et de la Recherche Médicale já comprovou um caso de transmissão em que o vírus ultrapassou a placenta e infectou o bebê. O médico considera que essa pesquisa alerta para a importância de "olhar para as gestantes", e que traz um novo "peso" no que diz respeito aos riscos que mulheres gravidas correm em meio à pandemia.