Subnotificação: a cada 2,6 testes para coronavírus, um dá positivo no Brasil

Índice de testes positivos ajuda a dimensionar os casos ignorados pelo Poder Público no Brasil, que tem menores taxas de testagem que os demais países mais afetados pelo vírus

No Brasil, não são necessários nem três testes de coronavírus para encontrar o primeiro positivo. A taxa de 2,6 exames para cada confirmação mostra o abismo de testagem enfrentado por um país que virtualmente só checa se pessoas doentes têm diagnóstico positivo para Covid-19.

Entre os cinco países mais afetados pela pandemia, em números absolutos, o Brasil é com larga margem o que menos testa. O destaque no quesito é a Rússia, que, de acordo com o banco de dados do site de estatísticas "Worldometers" - baseado em números oficiais -, tem 23 negativos para cada positivo para coronavírus. A cifra mostra um quadro de testagem em massa, o que facilita o isolamento social e uma eventual reabertura do sociedade.

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Apesar de serem o país que mais testa no mundo, acumulando mais de 12 milhões de checagens, os Estados Unidos também estão abaixo da média considerada satisfatória de 10 testes por positivo. No país norte-americano, são mais de 1,5 milhão de confirmações, o que resulta numa taxa de 8,1 testagens para cada caso confirmado. 

A lista dos cinco países com mais casos de coronavírus fica completa com dois europeus, Reino Unido e Espanha. As nações têm taxas intermediárias, com 11,9 e 10,9 exames para cada positivo, também segundo o Worldometers. Todos os dados foram colhidos às 16 horas, para não gerar falsas simetrias.

Subnotificação de coronavírus no Ceará

Apesar de ser unidade federativa que em média mais testa a população, com 75.326 exames, o Ceará não está em condição favorável na taxa. Afinal, são 30.560 casos no Estado: ou seja, índice de 2,4 testes para cada positivo. Os números foram colhidos na plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Estado, às 17h30min.

Na prática, isso significa que os números altos de confirmações no Ceará não se justificam apenas pelo maior índice de testagem. Há, de fatos, mais casos no Estado. E, para além disso, a taxa indica que existem muito mais pessoas com coronavírus do que o assustador número de 30.560 aponta.

A indicação da taxa e do número de testes exemplifica a transparência do Estado no enfrentamento ao vírus, já que algumas unidades federativas preferem esconder o dado, para esconder que não têm realizado exames e assim, artificialmente, apresentam números relativamente baixos de confirmações.

Subnotificação da Covid-19: outros dados são relevantes

Comparar países de dimensões diferentes a partir do número absoluto de casos é, para dizer o mínimo, injusto. É isso que o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), usa para justificar o fato de o Brasil ser o terceiro com mais casos no Mundo.

Mas mesmo em números absolutos, a testagem do Brasil é destaque negativo. 

Estima-se que o Brasil seja a sexta maior população do mundo, atrás de China, Índia, Estados Unidos, Indonésia e Paquistão. No ranking de testes, apesar de ser um dos epicentros de transmissão do vírus, o País surge apenas como 14º a mais testar. São 735 mil exames, segundo números do Worldometers, para uma população de 209 milhões. Taxa de 3.500 testes para cada milhão de pessoas. 

O número se mostra inexpressivo em comparação a outros países. Em fato, o Brasil é apenas o 121º que mais testa proporcionalmente, segundo o Worldometers, entre 215 territórios. Claro que, proporcionalmente, é muito mais fácil que as Ilhas Faroe — que fez quase 9 mil testes e tem 48 mil de população —, teste em massa do que a China, com 1,4 bilhão de habitantes. Até por isso o dado de testes por positivo é um bom guia, porque mostra o quanto o coronavírus avançou num território.  

Entre países com mais de 10 milhões de habitantes, quem mais testa, proporcionalmente, é Portugal. Foram 674 mil exames, quase o mesmo número do Brasil, que tem a população 20 vezes maior. Caso a ex-colônia testasse tanto quanto o colonizador, já seriam 14 milhões de testes - em que se pese que o vírus foi detectado bem antes na Europa que na América do Sul, com portugueses iniciando testagem antes e já superando o ápice de infecção, ao contrário dos brasileiros.

O dado ajuda a explicar porque os 29 casos de Portugal são bem mais confiáveis que os 300 mil do Brasil. Mais testes, significa mais negativos e um controle mais realista da epidemia. 

No Brasil, o jogo segue sendo de uma caça às cegas, com dados defasados, dimensão desconhecida e um lastro de mortes que só cresce.  

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