Entenda o que é Síndrome de Guillain-Barré, doença observada em alguns infectados por Covid-19

A doença autoimune é rara e não necessariamente aumentará junto com a Covid-19; até o momento, ela só está sendo mais observada pelo alto número de casos mundiais

O mundo já registra 4.696.849 casos confirmados de Covid-19, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), atualizados às 4h56min desta terça-feira, 19. Assim, a pandemia do novo coronavírus mobiliza profissionais de saúde e pesquisadores de 188 países e regiões que, com a quantidade de casos a analisar, conseguem identificar mais facilmente manifestações raras, geralmente despercebidas em doenças controladas.

Uma dessas é a Síndrome de Guillain-Barré, doença autoimune que ataca os nervos. Ela foi relacionada à Covid-19 pela primeira vez em uma idosa chinesa de 61 anos, no dia 23 de janeiro deste ano, que estava em Wuhan durante o surto de Sars-Cov-2. Ela sentia “fraqueza aguda nas duas pernas e fadiga severa”, que progrediram em apenas um dia, descrevem médicos chineses em artigo publicado no dia 1º de abril na revista científica The Lancet Neurology

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Já no dia 17 de abril, médicos italianos publicaram artigo no periódico científico New England Journal of Medicine, descrevendo a Síndrome de Guillain-Barré em cinco pacientes positivos para Covid-19. Eles foram atendidos em três hospitais diferentes da Itália, que admitiram cerca de mil a 1,2 mil pessoas com o novo coronavírus dos dias 28 de fevereiro a 21 de março.

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Apesar dos casos descritos, é importante ressaltar que isso não significa uma relação direta entre o aumento da síndrome e a Covid-19. O neurologista infantil André Luiz Pessoa reforça que até gripes comuns podem provocar a doença rara, mas não estão realmente interligados. “O Sars-Cov-2 muito provavelmente não aumenta a Guillain-Barré. Temos muitos artigos [descritivos] publicados, mas isso não diz muito”, afirma.

O que é e o que causa?

A maioria dos casos ocorre após infecções agudas causadas por vírus, bactérias e até parasitas. O neurologista André Luiz Pessoa menciona a relação que a síndrome teve com as arboviroses zika vírus e chikungunya, pelas quais registrou-se, sim, aumento da doença autoimune. Ainda assim, é considerada pelo Ministério da Saúde como uma doença rara, já que a incidência anual é de 1-4 casos por 100 mil habitantes.

A síndrome é uma espécie de resposta imunológica confusa a agentes infecciosos. “Você pega uma virose, por exemplo, e o teu sistema imunológico vai defender [o corpo]. Mas ele acaba confundindo o vírus com o anticorpo, que geralmente parece com a proteína do nervo periférico”, explica o neurologista. Por isso, além de afetar o vírus, o sistema também ataca o próprio indivíduo ao atingir a bainha de mielina que reveste os nervos periféricos (que conectam a cabeça ao cérebro e a medula espinhal ao resto do corpo).

A bainha de mielina é uma camada de gordura que envolve e protege o corpo dos nervos. Quando ela é destruída, no caso da Guillain-Barré, desenvolvem-se sintomas de fraqueza muscular e coceira, queimação ou dormência que costumeiramente começam nas pernas e vão subindo.

Essa fraqueza pode atingir o tronco, braços, pescoço e afetar músculos da face, provocando perdas motoras e até paralisia. Inclusive, quando os músculos da respiração e da face são afetados, os pacientes necessitam de ventilação mecânica para o tratamento da insuficiência respiratória. “Esse quadro pode ser muito grave, porque além da fraqueza você tem insuficiência respiratória, dificuldade para deglutir, pode ter alterações da pressão arterial e outras complicações neurológicas”, alerta André.

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Tratamento

A doença autoimune costuma evoluir rapidamente e, após o pico, regredir devagar. Conforme o neurologista, a Guillain-Barré geralmente precisa entrar em estabilidade dentro de 30 dias. Após esse período, a doença é provavelmente crônica e deixará sequelas.

O tratamento envolve ou o uso de imunoglobulina ou plasmaférese, uma técnica que permite filtrar o plasma do sangue do paciente. Além disso, a fisioterapia é fundamental para a recuperação das partes respiratórias, de postura e fala.

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