Profissionais de saúde de dois hospitais do Ceará relatam atraso salarial
Secretaria da Saúde diz que não pagam diretamente aos profissionais, que recebem por meio de cooperativa
12:58 | Mai. 19, 2020
Profissionais de saúde que trabalham diretamente nas alas reservadas para pacientes de Covid-19 no Hospital Geral de Fortaleza (HGF) afirmam que não receberam salário deste mês de maio, que deveria ter sido pago até o último dia 10. Seria o primeiro pagamento desde a lotação exclusiva para combate à doença na unidade da rede da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).
Um dos profissionais do HGF, que terá sua identidade preservada, contou que os enfermeiros realocados para a ala Covid-19 foram informados que teriam aumento salarial com a mudança. "Todos os enfermeiros que não trabalham na emergência Covid já receberam salário, mas nós não recebemos", relata. "Fomos informados que o Estado não repassou o dinheiro, e por isso não recebemos".
Outra fonte informa que a falta de dinheiro já está afetando a rotina dos trabalhadores e que alguns relatam não poder pagar combustível para ir trabalhar. "A gente tá se arriscando, deixando familiares em casa. Alguns (profissionais) já se contaminaram trabalhando nessa área. O sentimento é de desgaste físico e mental", desabafa. "Temos nossos compromissos".
A Sesa explicou que "foram contratadas novas cooperativas para pagamento das equipes multiprofissionais", mas não citou quais. "Diante do processo de contratação dessas novas cooperativas, o pagamento referente à competência de 21 de março a 20 de abril de 2020 necessitou de uma nova data para ser realizado. O pagamento terá um calendário extraordinário com início previsto para esta semana", diz a pasta.
Em nota, o HGF afirma que "mantém o compromisso de garantir o pagamento dos seus colaboradores cooperados até o décimo quinto dia útil do mês, prazo necessário para realização de todo o processo de fechamento da folha junto às cooperativas". Hoje são 19 de maio.
A reportagem chegou a ligar durante a manhã para o setor financeiro do HGF e foi informada de que a "pessoa responsável" pelo setor não poderia atender. Outras ligações foram feitas durante a manhã, mas sem sucesso. Houve ainda tentativa de contato com a Cooperativa de Trabalho dos Profissionais de Saúde do Estado do Ceará (Coosaúde), que seria responsável pelo intermédio entre os profissionais e o Estado, mas as ligações também não foram atendidas.
Hospital Leonardo Da Vinci
Não é, no entanto, a primeira vez que profissionais que estão no combate à Covid-19 relatam o problema. A situação é parecida no Hospital Leonardo Da Vinci, montado apenas para o atendimento dos pacientes do novo coronavírus. De acordo com fontes ouvidas pelo O POVO, nenhum profissional da saúde foi pago desde o começo do funcionamento da unidade, que completa dois meses no próximo dia 23.
A Sesa chegou a informar que o pagamento das cooperativas começou no último dia 13 e que os salários dos profissionais de saúde cooperados deveriam ser regularizados até essa segunda-feira, 18. A situação, no entanto, ainda não foi regularizada e a pasta reconheceu, por meio de nota enviada neste dia 19, que os salários dos profissionais de saúde cooperados ainda "estão sendo regularizados". Por telefone, a assessoria de imprensa da pasta informou que o pagamento dos profissionais do Hospital Leonardo Da Vinci foi repassado para a cooperativa na última semana e que parte dos profissionais já havia sido paga.
A reportagem também questionou à Sesa sobre o número de profissionais afetados pelo atraso nas duas unidades e se há outros hospitais no Estado com profissionais em situação similar. Não houve resposta para essas questões.