Poluição do ar em Fortaleza registra queda de até 50% durante isolamento, aponta pesquisa
Os dados foram coletados pela prefeitura, em parceria com a Universidade Federal do Ceará, antes e durante a restrição da circulação
16:14 | Mai. 19, 2020
A qualidade do ar em Fortaleza melhorou significativamente após a adoção das medidas de isolamento social decorrentes da pandemia do novo coronavírus. A afirmação foi constatada em pesquisa da Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), em parceria com a Universidade Federal do Ceará (UFC), com dados coletados entre os dias 1º de fevereiro e 21 de março (antes do isolamento) e 22 de março e 22 de abril (durante o isolamento).
Dentre seis poluentes estudados, quatro tiveram redução significativa. A maior queda, de 50,6%, foi registrada com as Partículas Inaláveis (PM2), poluentes emitidos a partir de veículos, processos industriais e queimadas em geral. Essas substâncias podem causar aumento de insuficiências respiratórias pela deposição nos pulmões, de acordo com Fundação Estadual de Proteção Ambiental Henrique Luiz Roessler.
Para Rivelino Cavalcante, professor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da UFC e integrante da pesquisa, a análise e divulgação desses dados será muito importante para a adoção de políticas públicas mais a frente. Ele apontou que por se tratar de uma área litorânea e com muito vento, há uma superstição de que Fortaleza tem uma qualidade boa do ar, mas os dados evidenciam o contrário.
O dados para a pesquisa foram coletados pela Seuma a partir da Estação de Monitoramento da Qualidade do Ar (EMQAr), instalada no bairro Cajazeiras, na Capital. Os parâmetros foram avaliados em região próxima a corredores de grande fluxo veicular na cidade, como BR-116, Paulino Rocha e Oliveira Paiva, por exemplo.
O menor fluxo de veículos automotores foi um dos principais responsáveis pela redução da poluição do ar. Óxidos de Nitrogênio (NOx) e Monóxido de Carbono (CO), emitidos predominantemente por veículos em grandes centros urbanos, foram os gases que registraram a maior diminuição após as restrições de circulação: 42,8% e 35,1% respectivamente.
Artur Bruno, titular da Secretária de Meio Ambiente do Ceará (Sema), concorda que a redução da poluição e a melhora de outros indicadores ambientais durante a pandemia será um alerta para que a sociedade, incluindo o setor público, repense suas ações em relação à exploração do meio ambiente. "É preciso um crescimento econômico, mas com a preocupação em garantir um ritmo para que os recursos naturais possam se restabelecer", defendeu.
O secretário disse que uma das medidas que a pasta estadual está empenhada em realizar é a ampliação do número de Unidades de Conservação (UCs) no Estado. O número, de acordo com ele, deve saltar de 25 para 30 até o fim da gestão atual, em 2022. Ele argumentou ainda que a sociedade deve radicalizar a preservação do recursos, adotando soluções ecológicas, como a energia eólica, solar e por meio de biocombustíveis.
O governo estadual detém um equipamento automático para medição da qualidade do ar na região do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), mas ele não está funcionando durante o período de isolamento por falta de manutenção. Em nota enviada pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), o processo de licitação para a contratação de empresa de manutenção do equipamento foi suspenso em decorrência do isolamento social e será retomado posteriormente.
A Semace defendeu que segue monitorando a qualidade do ar por um modelo alternativo, baseado nas informações de automonitoramento fornecidas pelas 20 empresas da região, sendo seis de grande e 14 de médio portes. As informações enviadas pelo setor privado para a autarquia estadual é uma exigência à renovação das licenças ambientais.