Fiocruz encontra material genético do coronavírus em esgotos, mas ressalta que não há evidências sobre transmissão
De acordo com a Fiocruz, os resultados iniciais evidenciam a eficácia da metodologia na ampliação da vigilância de propagação do novo coronavírus
12:09 | Mai. 18, 2020
Primeiros resultados de estudo sobre a presença de material genético do novo coronavírus no sistema de esgotos do Rio de Janeiro é divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz. Foi possível detectar material genético do novo coronavírus em amostras de esgotos em cinco dos 12 pontos de coleta: três poços de visita (PVs) de troncos coletores do bairro de Icaraí e nas entradas da ETE Icaraí e ETE Camboinhas. Os dados foram publicados na seção ‘Fast Track’ da revista científica Memórias do Instituto Oswaldo Cruz.
Para isso, os pesquisadores da Fiocruz utilizaram o método de ultracentrifugação, tradicionalmente empregado para concentração de vírus em esgotos. O método foi associado também a técnica de RT-PCR em tempo real, indicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). As amostras coletadas na segunda e terceira semanas estão em fase processamento.
De acordo com a virologista Marize Miagostovich, chefe do Laboratório de Virologia Comparada e Ambiental do IOC/Fiocruz e responsável pela pesquisa, até o momento não há evidência científicas que apontem a possibilidade de transmissão do novo coronavírus por rota fecal-oral, como acontece com outras doenças de transmissão hídrica, causadas por vírus , bactérias e protozoários. A principal forma de transmissão da Covid-19 acontece pela via respiratória, através de gotículas respiratórias geradas pela tosse ou espirros.
Em parceria com a prefeitura de Niterói, no Rio de Janeiro, a pesquisa visa acompanhar o comportamento da disseminação do novo coronavírus durante a pandemia da Covid-19. O projeto utiliza análise de amostras de esgotos como instrumento de vigilância, que permite identificar regiões com presença de casos da doenças, mesmo aquelas que ainda não foram notificados no sistema de saúde.
Segundo a Fiocruz, o monitoramento ambiental está alinhado com estudos científicos internacionais, que têm demonstrado a importância da vigilância baseada em esgotos para a detecção precoce de novos casos da doença.
As primeiras coletas foram realizadas em 15 de abril e estão sendo feitas em esgoto bruto em 12 pontos georreferenciados e estrategicamente distribuídos pela cidade de Niterói, incluindo estações de tratamento de esgotos (ETEs), pontos de descarte de efluente hospitalar e rede coletora de esgotos.
“O monitoramento da circulação do novo coronavírus durante a epidemia subsidiará informações para a vigilância em saúde, permitindo otimizar o uso dos recursos disponíveis e fortalecer medidas de profilaxia na área”, comenta a pesquisadora Marize Miagostovich.
Ela destaca que a investigação sistemática do material genético do vírus na rede de esgoto pode fornecer um retrato da presença de casos positivos em determinada localidade, incluindo assintomáticos e subnotificados no sistema de saúde.