Ampliação do uso da cloroquina pode provocar mortes em casa, diz Mandetta

Ex-ministro diz último mês da gestão de Teich foi "perdido", e que Pais só viveu 1/3 da crise

09:37 | Mai. 18, 2020

Por: Redação O POVO

A ampliação do uso de cloroquina para pacientes com quadro leve de Covid-19 pode elevar a pressão por vagas em centros de terapia intensiva e provocar mortes em casa por arritmia. É o que afirma o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo. A mudança de protocolo é defendida pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e foi recusada pelo também ex-ministro Nelson Teich

Mandetta pondera que resultados iniciais de estudos que recebeu ainda no governo já indicavam riscos no uso do medicamento. “Começaram a testar pelos [quadros] graves que estão nos hospitais. Do que sei dos estudos que me informaram e não concluíram, 33% dos pacientes em hospital, monitorados com eletrocardiograma contínuo, tiveram que suspender o uso da cloroquina porque deu arritmia que poderia levar a parada [cardíaca].”

Para o ex-ministro, os idosos tendem a apresentar as maiores complicações, o que pode gerar mais pressão ainda nos sistemas de saúde. "Se todos os velhinhos tiverem arritmia, vão lotar o CTI, porque tem muito mais casos de arritmia que complicação de Covid. E vou ter que arrumar CTI para isso, e pode ser que morra muita gente em casa com arritmia", avalia.

Esse risco foi que teria levado Mandetta a adotar a orientação de usar a cloroquina apenas para os casos graves em hospital. Fora do hospital, o uso do medicamento fica sob conta e risco do médico assistente.

"Um ministério ausente"

Sobre a rápida passagem de Nelson Teich no Ministério da Saúde, Mandetta analisa que "este último mês foi perdido, sem nenhuma ação positiva por parte do ministério." 

Pressão para retomada econômica

A pressão de Bolsonaro pela cloroquina seria, na visão de Mandetta, uma tentativa de estimular o retorno das pessoas ao trabalho. Ele considera, porém, que o País atravessou até o momento apenas 1/3 da crise e deverá ter pelo menos mais 12 semanas “duras” adiante.

O ex-ministro pontua que a situação mais complexa hoje esteja no Pará. “É um estado que provavelmente vem agora com um número muito alto de casos, dobrando muito rápido e com sistema de saúde que vai ter que se desdobrar", projeta.