Mulheres e indígenas estão entre os mais socialmente afetados pela Covid-19 na América Latina, diz relatório da ONU
Em um relatório para analisar os traços da pandemia na região, a agência das Organizações das Nações Unidas (ONU) disse que a desigualdade em questões como acesso à água, saneamento, sistema de saúde e moradia também pode traduzir-se em maiores taxas de infecção e morte entre a população mais vulnerávelA desigualdade enfrentada por mulheres, indígenas e descendentes de africanos, além de trabalhadores informais e migrantes, fará deles os grupos mais afetados pelo impacto socioeconômico do coronavírus na América Latina. Quem afirma isto é a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) nesta terça-feira, 12. As informações são do G1 a partir de pesquisa da Reuters.
Em um relatório para analisar os traços da pandemia na região, a agência das Organizações das Nações Unidas (ONU) disse que a desigualdade em questões como acesso à água, saneamento, sistema de saúde e moradia também pode traduzir-se em maiores taxas de infecção e morte entre a população mais vulnerável.
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"Os diferentes impactos socioeconômicos refletem a matriz da desigualdade social na região", afirma o relatório. Essas desigualdades sociais, de gênero, étnico-raciais e migratórias, entre outras, "acumulam, aprimoram e interagem entre si, causando múltiplas discriminações".
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De acordo com o relatório da ONU, "as mulheres encontram-se em uma situação particularmente vulnerável" devido a condições de trabalho são mais precárias, com maiores taxas de informalidade. Portanto "elas estão mais expostas ao risco de desemprego".
Entre elas, as trabalhadoras domésticas (11,4% das mulheres empregadas) estão em uma situação mais complexa, com acesso limitado à seguridade social. Muitas dessas mulheres são migrantes, indígenas ou afrodescendentes, segundo a agência.
Mas, em geral, para as mulheres, o panorama torna-se mais complexo com as medidas de confinamento adotadas para conter infecções, o fechamento de escolas e a perspectiva de que elas querem cuidar de possíveis pessoas infectadas em casa.
"A carga do trabalho doméstico não remunerado assumido por mulheres, adolescentes e meninas, bem como os casos de violência contra elas, aumentam significativamente", alertou a Cepal.
Segundo uma contagem da Reuters baseada em dados oficiais, a América Latina tem mais de 369 mil infecções e já ultrapassou 20 mil mortes pelo novo coronavírus.
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Violência doméstica durante pandemia
Segundo dados da Defensoria Pública do Estado do Ceará, durante período de isolamento social, cerca de 90% dos casos de violência contra a mulher atendidos pelo órgão aconteceram na casa da vítima. O número demonstra que durante a quarentena, a violência doméstica está ainda mais acentuada, já que agora as vítimas estão passando mais tempo em casa com seus potenciais agressores.
Em entrevista à rádio O POVO/CBN na manhã desta quarta, 13, a superintendente Geral do Instituto Maria da Penha, Conceição de Maria, categorizou a violência doméstica como uma "pandemia dentro da pandemia (de Covid-19)". "Ela está presente em todos os países do mundo. A gente vê relatos que a violência aumentou na China, na Itália. Infelizmente, para um grande percentual de mulheres, estar em casa nesse momento representa um tormento por estar na presença de seu agressor", afirmou a superintendente.
Conforme Conceição, o Instituto tem acompanhado as denúncias e feito contato com os estados brasileiros a fim de monitorar cenário. Manter as delegacias especializadas em alerta é importante para enfrentar as violências, assim como dar alternativas para que as vítimas denunciem de casa, como os Boletins de Ocorrência (B.O) eletrônicos.
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Garantir que essas mulheres tenham informações, principalmente pelo contexto de isolamento, é também tarefa do Instituto Maria da Penha, segundo a superintendente. De acordo com Conceição, o aumento dos casos de violência doméstica tem fundamento em diversos fatores: "Esse convívio entre as famílias por muito tempo gera mais conflito, o uso exacerbado de álcool ou droga, problemas financeiros", exemplifica. Ela acrescenta, no entanto, que o álcool, droga ou crise financeira "não transformam ninguém em agressor". "Essa atitude agressora já existia e está sendo potencializada por essas questões", reforça.
Em relação às ações para amenizar esse cenário, Conceição de Maria ressaltou algumas que estão sendo realizadas pelo Instituto Maria da Penha, mesmo que ele não realize atendimentos. "Nós trabalhamos com projetos pedagógicos, aulas, cursos, palestras, iniciativas para empoderamento da mulher através da informação. São projetos de prevenção à violência. Hoje, nós estamos informando como que faz o atendimento, como a mulher pode acessar os instrumentos e monitorando, fazendo esse controle social", explica a superintendente.
Há também como denunciar as agressões por WhatsApp, sem despertar a atenção do agressor. Trata-se de uma assistente virtual que, por meio de um chatbot, que é programa de computador que tenta simular um ser humano na conversa com as pessoas, oferece uma forma silenciosa de as mulheres pedirem ajuda e receberem orientações dentro de suas próprias casas.
O número disponibilizado para ajudar mulheres de todo o país é o Whatsapp (11) 94494 2415. Após responder a algumas perguntas que identifiquem o grau de risco que ela corre, a vítima recebe o suporte apropriado. Segundo os parceiros que desenvolveram o projeto, se houver necessidade de a pessoa agredida ir até um hospital, unidade de saúde, delegacia ou um centro de assistência social e psicológica e orientação jurídica em situação de violência, ela receberá um código que dará direito a uma viagem gratuita no aplicativo da Uber para esse deslocamento.
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