Pacientes são mandados de volta para casa após tentar atendimento em Upas de Fortaleza e denunciam falta de médicos e remédios

Pelo menos duas Unidades de Pronto Atendimento (Upas) de Fortaleza não estão atendendo nessa segunda-feira, 4, conforme denúncia de pacientes. O POVO circulou pela capital e ouviu relatos de pessoas que foram até as unidades dos bairros Jangurussu e José Walter e precisaram voltar para casa por falta de médicos. Os dois equipamentos são importantes para os moradores da regional VI e, conforme apurado pelo O POVO, não estão recebendo pessoas com sintomas da Covid-19, doença causada pelo coronavírus, ou pessoas com outras doenças.

É o caso de Patrícia Daiane Cachilé, de 26 anos, que foi até à UPA do Jangurussu por estar sentindo dores no pulmão, na cabeça e falta de ar. "Eu cheguei e disseram que não está tendo atendimento e mandaram voltar. Não tenho mais para onde ir", lamenta a doméstica. Patrícia foi acompanha de sua filha e esposo até o local, todos utilizando máscaras - item que ajuda a evitar disseminação do coronavírus.

Já o esposo de Cristiane Feitosa, internado na unidade há cinco dias com sintomas de Covid-19, contou a ela ainda ontem, domingo, que não estava tomando os medicamentos adequados. "Eu vim à noite, fiz um escândalo e agora de manhã ele foi transferido para o Presidente Vargas", explica. Cristiane ainda denuncia falta de assistentes sociais na unidade e o caso de um jovem cujo pai faleceu na noite do domingo, 3, mas só foi informado à família nessa segunda, 4. "Nós estamos desde as 7 horas da manhã aqui e não tinha ninguém para informar nada", desabafa. Desde a última quinta-feira, 30 de abril, Cristiane procura atendimento para o esposo, que nem o exame chegou a fazer para confirmar se está ou não com a Covid-19.

Auricelio Coelho também percorreu várias unidades para buscar atendimento à Francisco Lima, que está sofrendo com convulsões. Ele passou pelas Upas do Jangurussu e José Walter e pelo Frotinha, mas não conseguiu atendimento. Nas Unidades de Pronto Atendimento não havia médicos disponíveis.

Uma senhora que preferiu não se identificar também teve de voltar sem atendimento na UPA do José Walter. O paciente que acompanhava estava com dores no corpo. Pelo menos mais outros dois carros estacionavam no local enquanto a equipe de reportagem saía.

O POVO entrou em contato com a Secretaria de Saúde do Estado (Sesa), responsável pela UPA do José Walter, e com a Secretaria de Saúde de Fortaleza (SMS), responsável pela UPA do Jangurussu para apurar o caso. 

Em nota, a SMS informou que "está otimizando o atendimento médico para acolher a todos os pacientes que procuram as unidades de saúde da Rede Municipal, mesmo com o aumento da demanda devido a pandemia ocasionada pela Covid-19". 

Segue a nota: "Informamos que a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) citada na matéria, localizada no bairro Jangurussu, possui cinco médicos voltados para atendimento adulto e infantil. Desde a última quinta-feira (30/04), a Prefeitura iniciou o protocolo assistencial direcionado a pessoas com diagnóstico sugestivo ou confirmado de Covid-19. Para garantir a internação precoce de pacientes que demandem maiores cuidados, seis postos de saúde estão equipados e integrados a hospitais municipais e estaduais de referência instalados na Cidade. Vale destacar que todos os 113 postos de saúde de Fortaleza já contam com oxímetros para auxiliar o diagnóstico precoce no comprometimento pulmonar dos pacientes e estão abertos para receber pacientes com sintomas de síndrome gripal. Pacientes com quadros de menor gravidade estão sendo orientados a procurarem essas unidades para facilitar o atendimento e desafogar as UPAS.

Para pacientes com quadros mais graves, cinco das seis UPAs municipais receberam novos leitos, totalizando 150 até o momento, com previsão de entrega de mais 20 até o fim desta semana. Os leitos das seis UPAs municipais estão com 98% da sua capacidade de ocupação para o tratamento da Covid-19".

Em nota enviada ao O POVO, a Secretaria da Saúde do Ceará Estado (Sesa) informa que a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) localizada no bairro José Walter recebeu, nesta segunda-feira, 4, uma quantidade de pacientes considerada acima da média. Por causa da demanda, o atendimento foi restrito a casos graves. Até as 14 horas, 41 pessoas foram atendidas pela equipe de plantão na unidade.

Com informações do repórter Ítalo Cosme