Remdesivir mostra efeito 'claro' contra COVID-19, diz estudo nos EUA

Pacientes com COVID-19 tratados com remdesivir se recuperaram 31% mais rapidamente do que outros que receberam um placebo, de acordo com um estudo clínico divulgado nesta quarta-feira (29), que o consultor médico chefe da Casa Branca considerou um efeito "claro" do medicamento no tratamento da doença.

"Os dados mostram que o remdesivir tem um efeito claro, significativo e positivo na redução do tempo de recuperação" de pacientes com coronavírus, disse Anthony Fauci, epidemiologista e assessor do presidente americano, Donald Trump.

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O especialista ressaltou que 31% não são o mesmo que um "golpe de misericórdia" de 100%, mas são uma prova importante de que o fármaco pode "bloquear o vírus.

Fauci comparou a descoberta com o desenvolvimento dos primeiros antivirais contra o HIV no final dos anos 80.

Comparados aos pacientes que receberam um placebo, os pacientes tratados com remdesivir, do laboratório de Gilead, se curaram em média em 11 dias em vez de 15, de acordo com um comunicado de imprensa dos Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas (NIAD).

Em relação aos efeitos sobre a mortalidade, os resultados não são significativos, ou seja, a pequena diferença entre os dois grupos avaliados pode ser aleatória.

No entanto, o grupo tratado com remdesivir sofreu mortalidade de 8%, contra 11,6% no grupo de controle, que ingeriu um placebo, sugerindo que o medicamento aumentaria as chances de sobrevivência.

O estudo iniciado em 21 de fevereiro compreendeu 1.063 pacientes de 47 locais nos Estados Unidos e outros 21 na Europa e Ásia. Trata-se do maior teste até o momento sobre a utilidade do remdesivir com resultados disponíveis.

Seu primeiro paciente foi um americano repatriado depois de ficar em quarentena a bordo do navio de cruzeiro Diamond Princess. Ele recebeu tratamento no Centro Médico da Universidade de Nebraska.

O teste foi realizado segundo um método chamado "duplo cego", que implica em que nem o paciente, nem os médicos sabiam a que grupo pertenciam para eliminar parcialidades inconscientes.

Peter Horby, um epidemiologista da Universidade de Oxford que não participou do estudo, disse que os resultados completos ainda são desconhecidos.

"Se isso for confirmado, pode ser um resultado fantástico e ótimas notícias para a luta contra a COVID-19", disse Horby.

Scott Gottliebb, ex-comissionado da FDA, a agência federal de medicamentos, escreveu no Twitter que os dados são suficientes para justificar que se considere uma "autorização para uso de emergência".

Essa decisão permitiria aos médicos prescrever remdesivir fora do contexto de ensaios clínicos.

O remdesivir, que foi testado sem sucesso contra o Ebola, pertence a uma classe de medicamentos que agem diretamente no vírus, em vez de controlar a resposta autoimune anormal e muitas vezes mortal que ele gera.

A via de ação consiste em replicar o DNA e o RNA do vírus para ser absorvido em seu genoma impedindo, desta forma, a replicação do patógeno.

Em suas declarações à imprensa, Fauci disse que o sucesso desse teste pode abrir caminho para medicamentos mais eficazes que apliquem um princípio semelhante.

As descobertas foram comemoradas pela comunidade científica, que também advertiu que seus benefícios são relativamente modestos.

"Esta é a primeira evidência de que o remdesivir tem benefícios genuínos, mas certamente não são espetaculares", disse Stephen Evans, especialista em estatísticas médicas da Faculdade de Medicina e de Doenças Tropicais de Londres.

Por sua vez, Babak Javid, principal pesquisador da Faculdade de Medicina de Tsinhua, em Pequim, destacou que os dados são "promissores", embora tenha advertido que o remdesivir "não é uma solução mágica".

Nas últimas semanas notícias diferentes e contraditórias sobre esse antiviral intravenoso foram divulgadas.

Um resumo dos resultados publicados no site da Organização Mundial da Saúde (OMS) na semana passada mostrou que não houve resultados positivos em um estudo menor realizado na China.

A revista médica britânica The Lancet publicou nesta quarta-feira o documento formal que descreve esse teste.

No estudo de 237 pacientes em Wuhan, China, os médicos não encontraram efeitos positivos após a administração do medicamento em comparação com um grupo controle de adultos, exceto os pacientes que necessitaram de ventiladores.

No entanto, o teste chinês teve que ser interrompido cedo, pois não foi possível recrutar pessoas suficientes para atingir seu objetivo inicial e, devido ao seu pequeno tamanho, muitos especialistas consideraram que esse estudo não permitia tirar conclusões confiáveis.

Na busca pela cura para a COVID-19 - que deixou mais de 220.000 mortos no mundo desde seu aparecimento em dezembro -, os médicos testaram cloroquina e hidroxicloroquina, drogas usadas para combater a malária, sob uma modalidade chamada de uso "compassivo", empregado quando não há tratamento conhecido.

Também há outros tratamentos em estudo, inclusive a coleta de anticorpos de pessoas que tenham superado a doença para injetá-los em pacientes ou a coleta de anticorpos de camundongos geneticamente modificados que tenham sido infectados deliberadamente.

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