A dificuldade de tirar os projetos de ventiladores mecânicos do papel

Burocracia na aprovação de protótipos e dificuldade de conseguir materiais são obstáculos no desenvolvimento de ventiladores mecânicos

O mais grave sintoma da Covid-19 é a síndrome respiratória aguda grave (SRAG), estágio da doença que requer o uso de ventiladores pulmonares mecânicos, que basicamente respiram pelo paciente.

Para substituir a atividade dos pulmões, os ventiladores precisam de quatro componentes principais: mangueiras (chamadas de traqueias), um ventilador, um umidificador e um tubo endotraquial. Além desses equipamentos, a máquina fica dependente de válvulas, sensores e um sistema operacional.

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Pela demanda mundial de ventiladores durante a pandemia, o equipamento ficou escasso e continuou caro. Em média, o custo de um ventilador é entre R$ 25 mil e R$ 35 mil. O mais barato no mercado vale R$ 15 mil.

De acordo com dados da Controladoria e Ouvidoria Geral do Estado (CGE), o Ceará já investiu quase R$ 96 milhões em aparelhos, equipamentos, utensílios médico-odontológicos, laboratoriais e hospitalares para combater a Covid-19. Os dados foram atualizados às 8h11min desta sexta-feira, 17.

Pensando na urgência de mais ventiladores, equipes de pesquisadores do Brasil e do mundo se mobilizaram para desenvolver protótipos mais baratos e de fácil produção do equipamento. No Ceará, o projeto Rispira busca recursos para montar o modelo de um ventilador com custo de R$ 3 mil.

Prazos e burocracia

Não basta só ter a ideia, entretanto. Eduardo Morais, instrutor de arduíno no Instituto Centro de Ensino Tecnológico (Centec/UTD) e integrante do projeto Rispira, explica as burocracias para regularizar os projetos usando o Rispira como exemplo.

Primeiro, a fase de criação e desenvolvimento durou três semanas, com 22 integrantes trabalhando integralmente ao projeto. Agora, eles buscam financiamento de R$ 5 mil para montar o protótipo do equipamento. Com o dinheiro em mãos, serão pelo menos três semanas de espera para que os materiais pedidos pela internet cheguem na casa dos pesquisadores.

Em seguida, mais três semanas montando e ajustando o modelo. “Quando chegar o material, começa a parte prática. A teoria já está pronta, tudo pensado, calculado, só que a gente vai fazer testes e mais testes. Nunca funciona na primeira vez”, comenta Eduardo.

Quando o ventilador cumprir com as exigências dos pesquisadores, é momento de encaminhá-lo para aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A equipe cearense está esperançosa que o órgão regulador analise em caráter emergencial projetos relacionados à Covid-19, e acreditam que a resposta deve demorar três semanas.

Desconsiderando o tempo de formulação do projeto, demoraria pelo menos dois meses para a máquina finalmente poder começar a ser produzida e vendida.

Escassez de materiais

Outro empecilho é a escassez de materiais específicos. “Equipes no Brasil e mundo têm dificuldade para adquirir válvulas responsáveis pela dinâmica do equipamento. Nós temos enfrentado muita dificuldade em conseguir essas válvulas e sensores dentro das especificações necessárias da Anvisa”, afirma Eduardo.

Segundo o técnico, o produto é pouco produzido e os sites das empresas responsáveis não informam os valores do equipamento. Ele conta que a equipe do Rispira tinha encontrado as válvulas ideias para o projeto em um site de uma empresa italiana. Sem indicação de valor, eles tiveram que acionar a empresa por e-mail e continuam sem respostas.

 

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