Hospitais Albert Einstein, Sírio-Libanês e Oswaldo Cruz vão iniciar pesquisa com cloroquina em casos leves da covid-19
Objetivo da pesquisa é verificar se a hidroxicloroquina prescrita para pacientes com sintomas leves pode melhorar seu quadro clínico, e assim, reduzir a internação de pacientes com Covid-19
09:15 | Abr. 09, 2020
Os hospitais brasileiros Albert Einstein, Sírio-Libanês e Oswaldo Cruz, que conduzem estudos sobre tratamento da Covid-19, vão iniciar nos próximos dias a primeira pesquisa do grupo com uso da hidroxicloroquina para pacientes com sintomas leves da Covid-19, que não chegaram a ser internados. Até agora, a substância vem sendo aplicada somente em casos graves da doença. As informações são do jornal O GLOBO.
Em entrevista à coluna de Bela Megale, o diretor do Centro Internacional de Pesquisa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, Álvaro Avezum, que coordena o estudo, afirmou que a expectativa é iniciar o uso do medicamento ainda nesta sexta-feira, 10. O objetivo da pesquisa, segundo o médico, é verificar se a hidroxicloroquina prescrita para pacientes com sintomas leves pode melhorar seu quadro clínico, e assim, reduzir a internação de pacientes com covid-19.
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Por que usar a hidroxicloroquina em pacientes com sintomas leves?
Como já havia iniciativas em nosso grupo de pesquisar tratamentos para a covid-19 no ambiente hospitalar, propusemos um estudo ambulatorial. Nós, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, capitaneamos uma linha de pesquisa voltada para pacientes não hospitalizados.
Quando a pesquisa deve ser iniciada?
Na próxima sexta-feira, 10, ou na segunda, 13. Dependemos de coisas mínimas para começar. Há cinco dias, tivemos a aprovação pelo Comitê Nacional de Ética e Pesquisa (Conep), ligado ao governo. Agora, estamos aguardando a Anvisa, que deve dar um resposta logo.
Qual tipo de paciente é o foco dessa pesquisa?
Teremos 1.300 pacientes de 14 estados e 50 cidades do país. Participarão do estudo aqueles com sintomas mais leves, ou seja, que não tiverem indicação de hospitalização no primeiro atendimento. Além disso, eles precisam apresentar algum fator de risco, como ter mais de 65 anos, hipertensão, diabetes, tabagismo, imunossupressão ou doenças respiratórias.
Qual o objetivo da pesquisa?
O objetivo principal é evitar que o paciente tenha que ser hospitalizado por piora da covid-19. Se reduzirmos as internações, reduziremos o uso da UTI, entubação e o número de mortes. A meta do estudo é verificar se hidroxicloroquina prescrita por sete dias para pacientes com sintomas leves reduz a hospitalização.
Como será feita essa pesquisa?
Do grupo de 1.300 pacientes, 650 utilizarão hidroxicloroquina. Outros 650 não usarão. Vamos contar 30 dias a partir do momento em que a pessoa apresentou os sintomas da doença e averiguar se houve internação nesse período.
Em quanto tempo teremos o resultado?
Começamos a fazer ontem os convites para 100 hospitais em todas regiões do Brasil que estão atendendo casos da covid-19. Os resultados vão depender da velocidade que conseguirmos realizar o recrutamento das pessoas que participarão do estudo. Mas é pouco provável que tenhamos esse resultado antes de dois meses.
Não há como reduzir esse tempo de análise?
Todo estudo bem feito tem um comitê que monitora os dados. Quando incluirmos um terço da mostra, esse comitê, que é independente, já pode avaliar as informações. Quando incluirmos dois terços da mostra, o comitê faz uma nova avaliação. Se houver benefício precoce ou qualquer sinal diferente do previsto, esse grupo tem autoridade para dizer que o estudo pode ser encerrado e isso anteciparia os resultados.
O presidente Jair Bolsonaro vem defendendo o uso da hidroxicloroquina. Qual sua avaliação sobre essa postura?
Não estou comentando o que foi dito pelo presidente, pelo ministro da Saúde ou por outros pesquisadores. O que posso dizer é que, todas as vezes que vamos discutir tratamento, é essencial ter uma pesquisa que compara, de maneira apropriada, quem recebe e quem não recebe o tratamento. Esse é o modus operandi da pesquisa mundial de qualidade e que pauta as diretrizes da sociedade médica.
Médicos como David Uip e Roberto Kalil não responderam se usaram a cloroquina para se curar. Avalia que eles deveriam falar sobre isso?
É muito difícil um indivíduo, na posição deles, falar o que tomou, porque isso tem um peso. As pessoas podem interpretar como “se o senhor está tomando quer dizer que todos devem tomar”. As consequências disso não são muito didáticas. A gente não tem dados para falar com robustez da indicação da hidroxicloroquina. Tem muita especulação e pouco estudo, vamos inverter a balança.