O que é o isolamento vertical e porque ele não impede contaminação de grupos de risco

O método é baseado em dados da Coreia do Sul, que conseguiu conter o vírus por meio de testagens massivas

10:54 | Mar. 26, 2020

Por: Catalina Leite
Presidente Jair Bolsonaro (foto: Isac Nóbrega/PR/Palácio do Planalto)

Durante pronunciamento em rede nacional nessa terça-feira, 24, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) atacou governadores pelas medidas para reduzir o contágio da Covid-19 e defendeu o isolamento vertical. "Conversei por alto com Mandetta ontem [terça], hoje [quarta, 25] vamos definir essa situação. A orientação vai ser o vertical daqui para frente", afirmou o presidente na saída do Palácio da Alvorada.

O método, rejeitado pela comunidade científica majoritária, foca em isolar apenas quem se encaixa no grupo de risco. Seriam eles: idosos acima de 60 anos, pessoas problemas respiratórios (como asma, pneumonia e outros), hipertensos, diabéticos e pessoas com doenças autoimunes. Assim, comércios e instituições de ensino voltariam a abrir as portas.

No entanto, a comunidade científica demonstra-se preocupada com a sugestão. Pesquisas indicam que os principais vetores da doença são os jovens que, em geral, contraem o Sars-Cov-2 e ficam assintomáticos. Ao menos 76% dos casos confirmados de Covid-19 contraíram a doença de pessoas sem sintomas ou não diagnosticadas.

A orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de que toda a sociedade pratique isolamento social quando for possível. O Governo do Ceará também adotou a mesma medida, definindo que apenas serviços essenciais poderiam funcionar a partir da última sexta, 20.

Lógica bélica

O método do isolamento vertical foi defendido pelo médico David Katz, diretor do Centro de Pesquisa em Prevenção Yale-Griffin, em artigo para o jornal estadunidense The New York Times.

Katz se baseia em uma lógica bélica para exemplificar o isolamento vertical. “Rotineiramente diferenciamos entre dois tipos de ação militar: o inevitável massacre e danos colaterais de hostilidades difusas e a precisão de um "ataque cirúrgico", metodicamente direcionado às fontes de nosso perigo particular”, escreve.

Para defender o método, ele se baseia em dados da Coreia do Sul, que conseguiu evitar a propagação do vírus por meio de testagens massivas da população. O país testou para Covid-19 todas as pessoas em um raio de cem quilômetros de distância de cada caso confirmado. No Brasil, no entanto, não existem testes o suficiente para toda a população.

Já a China, epicentro da pandemia, conseguiu zerar o número de novos casos para Covid-19. Os únicos registros da doença, desde o dia 19 de março, são importados de outros países. Para isso, o país asiático precisou determinar fortes medidas de quarentena. Apenas uma pessoa poderia sair de casa por vez, para atividade essenciais, como ir ao supermercado. 

 

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