Jornalista relata intimidação de torcedores do Irã no Catar: "Medo real pelas mulheres"

O país registra protestos em todo o país desde setembro deste ano em favor dos direitos das mulheres, que sofrem grande repressão do regime de governo iraniano

A jornalista Domitila Becker viveu momentos de desespero no Estádio Al Thumama nesta terça-feira, 29. Na cobertura da partida entre Irã e Estados Unidos, em vídeo divulgado em suas redes sociais, ela conta que foi perseguida ao tentar entrevistar mulheres iranianas nas arquibancadas. A profissional afirmou ainda estar com "medo real pelas mulheres que estão protestando pela vida e pela família delas".

"Que noite desesperadora. Não podemos misturar futebol com política", eles dizem. "Fala isso na cara de uma mulher que não consegue parar de tremer depois de ter sido cercada e agredida por um bando de torcedores. Fala isso para um pai que não pode segurar as lágrimas ao explicar como os filhos de 6 e 9 anos foram ameaçados dentro de um estádio. Fala, se você conseguir achar uma torcedora iraniana que não está com medo de ser morta", escreveu Domitila na legenda do vídeo publicado em seu Instagram.

É + que streaming. É arte, cultura e história.

+ filmes, séries e documentários

+ reportagens interativas

+ colunistas exclusivos

No vídeo, Domitila Becker explica que foi para a torcida do Irã entrevistar mulheres. No entanto, torcedores do país começaram a cercá-la e tirar fotos. Com isso, ela revelou que muitas pessoas que tentava entrevistar tinham medo de se pronunciar.

"Foi uma situação bem tensa. Eu entrei na torcida para entrevistar as mulheres, para ver como as iranianas torciam, como estava a situação no Irã. E aí, as pessoas na torcida começaram a me perseguir, começaram a tirar foto minha, das pessoas que eu estava conversando, do meu crachá. E aí as mulheres não queriam falar comigo", informou.

A jornalista ressaltou que grande parte dos iranianos que estão no Catar são enviados pelo governo para fiscalizar o que está sendo dito e impedir manifestações políticas. Ela ainda registrou uma mulher sendo agredida, além de relatos de roubos e ataques às crianças.

"A maioria das pessoas aqui são enviadas do governo iraniano, para fiscalizar o que está sendo dito. Alguns torcedores fazem barulho com as "vuvuzelas", para impossibilitar qualquer tipo de conversa, ou manifestação política que não seja a que eles acreditam. Eu estou com medo real por essas mulheres que estão aqui protestando pela vida delas e pela família delas", completou.

O Irã registra protestos em todo o país desde setembro deste ano em favor dos direitos das mulheres, que sofrem grande repressão no atual regime de governo. As manifestações foram desencadeadas pela morte de Mahsa Amini, de 22 anos, que estava sob custódia da “polícia da moralidade”. A jovem foi presa por "uso inadequado" do véu islâmico, obrigatório no Irã. Além disso, no país, as mulheres são proibidas de frequentar estádios de futebol.

No primeiro jogo do Irã na Copa do Mundo, diante da Inglaterra, os jogadores não cantaram o hino em demonstração a favor do direito das mulheres. Segundo informação da CNN, a Guarda Revolucionária do Irã ameaçou prender e torturar familiares de jogadores da seleção do país caso estes não se “comportassem”. Nas rodadas seguintes, contra País de Gales e Estados Unidos, os atletas voltaram a cantar o hino. 

Veja o vídeo:

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Tags

copa do mundo copa do mundo do catar catar 2022 irã jornalista agressão

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar