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Novo livro da saga "Jogos Vorazes" é lançado hoje, 19; confira crítica
"A cantiga dos pássaros e das serpentes" acompanha a trajetória do jovem Coriolanus Snow, conhecido como o presidente da capital Panem em "Jogos Vorazes"
14:15 | 19/06/2020
Mais de seis décadas antes de Katniss Everdeen ganhar a 74ª edição dos Jogos Vorazes, a capital Panem sofria com a impopularidade do evento anual. “O dia da colheita era terrível nos distritos, mas também não era bem uma comemoração na Capital. Como ele, a maioria das pessoas não tinha o prazer de relembrar a guerra”. Considerado um acontecimento violento e desnecessário, as pessoas ainda não compreendiam os motivos de sua realização.
Lançado nesta sexta-feira, 19, o novo livro da saga de Jogos Vorazes, “A cantiga dos pássaros e das serpentes”, aborda a visão de um dos maiores vilões da série: Coriolanus Snow. Ainda jovem, foi designado como um dos estudantes da Academia, escola destinada aos nobres de Panem, que se tornaram os mentores dos tributos da 10ª edição.
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Estabelecido à participante feminina do distrito 12, Lucy Grey Baird, Snow não pensava que havia chances de vencer. Porém, ela era midiática: artista, simpática e atraente. Com a esperança de conquistar o público, os dois se unem com estratégias - convincentes - para receber apoio.
Mas os jogos ainda tinham diversas questões a serem resolvidas. A partir de uma ideia de Coriolanus aos organizadores, a população teve a chance de enviar dinheiro para incentivar seus “tributos”. Agora, Panem começava a acompanhar o evento, apesar de ainda estar abismada com a brutalidade.
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Dividido em três partes, o livro aborda o início do crescimento autoritário de Snow, que viria a se tornar o presidente em “Jogos Vorazes”. Após a guerra que destruiu o país e foi o motim para o evento brutal, sua família havia perdido tudo. Sem dinheiro, Coriolanus vivia com a avó e a prima Tigris em uma mansão que não precisavam pagar. As refeições só aconteciam quando eram gratuitas, em situações sociais.
Com a vontade incessante de manter a importância de seu sobrenome, Coriolanus queria agradar as autoridades a qualquer custo. “Ele não conseguia suportar a ideia de ser arrancado da sua própria casa. O apartamento era o único lugar ao qual ele pertencia inquestionavelmente, era o porto seguro, o forte de sua família”.
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Entretanto, algumas situações começam a atrapalhar o caminho para a glória. De repente, ele se encanta por Lucy Gray e inicia um relacionamento escondido. Sem querer, também se aproxima de Sejanus, um “novo rico” proveniente do Distrito 2 que detestava a capital.
Em “A cantiga dos pássaros e das serpentes”, a escritora se diferencia do formato de narração em primeira pessoa dos primeiros livros. A estratégia, porém, distancia o leitor do protagonista e dos motivos de suas decisões divergentes. Além da falta de conexão com Snow, tampouco é possível compreender outros personagens que trariam afinidade e densidade para a história. Tigris, Sejanus e Casca Highbottom, por exemplo, são pouco explorados para dar ênfase aos pensamentos de Coriolanus.
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A autora - talvez pela narrativa em terceira pessoa - perde a tensão tão recorrente em “Jogos Vorazes”. A história é exatamente como o personagem: fria e discordante. Com um enredo acelerado, os fatos acontecem rapidamente, sem deixar tempo para aproveitar o clímax. Apenas no fim é que o livro retoma a fórmula conhecida de aflição.
O livro, entretanto, cumpre uma função necessária: explicar (e trazer mais perguntas) sobre o universo distópico de Panem e dos 12 distritos. Elementos que não foram esclarecidos anteriormente surgem com naturalidade. A origem da música “The Hanging Tree”, a moda de transformar pessoas com aspectos animais, o modus operandi da capital, a crescente midiatização dos Jogos Vorazes e o símbolo do tordo são alguns dos aspectos abordados.
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Nessa constante conexão entre presente e passado, é possível perceber que “o show só acaba quando o tordo canta”. Como o espetáculo ainda não terminou, a adaptação cinematográfica de “A cantiga dos pássaros e das serpentes” já foi confirmada. Ainda sem data para lançamento, o filme terá direção de Francis Lawrence e produção de Nina Jacobson e Brad Simpson.
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