Coronavírus
Idoso morre e esposa dele é internada nos EUA após intoxicação com derivado de cloroquina
O medicamento em si tem sido testada para tratamento de pacientes com coronavírus, mas não tem eficácia comprovada, além de ter sérios efeitos colaterais. Casal teria ingerido aditivo usado para limpar tanques de aquários
16:55 | 24/03/2020
Homem de 60 anos morreu após parada cardíaca e a esposa dele, da mesma idade, está internada, em estado crítico em hospital de Phoenix (capital do Arizona, Estados Unidos), após ingerirem derivado da cloroquina. As identidades dos dois não foram reveladas. O medicamento, assim como a hidroxicloroquina, é usado em tratamento experimental de pacientes com coronavírus.
A intoxicação foi registrada no último domingo, 22, e os efeitos foram percebidos meia hora após a ingestão. Entre os efeitos, náusea e vômitos. O casal não fora testado para o coronavírus. As informações são do jornal O Globo.
O hospital onde o casal ficou internado informou à National Public Radio (NPR), organização norte-americana de mídia, que o homem e a mulher ingeriram “fosfato de cloroquina, um aditivo comumente usado em aquários para limpar tanques de peixes". O aditivo ingerido pelo casal, portanto, não seria o mesmo que o fármaco apontado como possível tratamento do novo coronavírus. O jornal The New York Times noticiou que o casal havia lido sobre cloroquina na internet.
"Dada a incerteza em torno da covid-19, entendemos que as pessoas estão tentando encontrar novas maneiras de prevenir ou tratar esse vírus, mas a automedicação não é a maneira de fazê-lo", disse Daniel Brooks, diretor médico do centro de estudos Banner Poison and Drug Information, do hospital no Arizona, à NPR.
Brooks aponta haver muitas informações erradas sobre os tratamentos para covid-19 e destaca ainda os perigos da automedicação, recomendando confiar em fontes oficiais, como a Organização Mundial de Saúde e as autoridades estaduais de saúde para aconselhamento médico - “não a Internet ou os políticos”.
Busca precipitada
Após a publicização da aplicação internacionalmente, iniciou-se uma corrida às farmácias, em busca destas drogas. No Ceará, a compra indiscriminada gerou esvaziamento nos estoques, prejudicando principalmente pacientes com lúpus, malária e artrite reumatoide, que fazem uso contínuo.
Para assegurar o acesso de quem realmente precisa da medicação, o Ministério Público do Estado demandou à Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) informações sobre a distribuição.
“Tomamos conhecimento de que já falta nas farmácias, porque quando foi divulgado que as substâncias seriam testadas no tratamento da covid-19, houve uma ‘corrida’ e as pessoas começaram a estocar. Dentro de uma hora, não existia mais um comprimido para vender”, explicou a titular da 137ª Promotoria de Justiça de Fortaleza, Ana Cláudia Uchôa, em entrevista à Rádio O POVO CBN nesta terça-feira, 24.
Na última sexta-feira, 20, o MPCE recomendou que as farmácias de Fortaleza somente vendam estes medicamentos com apresentação e retenção da receita médica.
Até esta quarta-feira, 25, a Sesa deve apresentar as providências adotadas para a distribuição dos medicamentos à rede privada de saúde, tanto para os hospitais privados, como para os pacientes que não são atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Cloroquina combate a Covid-19?
Estudos publicados em revistas acadêmicas dos EUA, China e França apontaram que as drogas cloroquina e hidroxicloroquina (de preço mais alto), apresentaram resultados promissores contra a covid-19. Mas os resultados não são definitivos. O uso indiscriminado da cloroquina pode causar danos oculares e auditivos.
No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro afirmou, neste sábado, 21, que os laboratórios químicos e farmacêuticos do Exército vão ampliar a produção de cloroquina.
A Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) teve de restringir a venda da droga apenas para pacientes com receitas pelos próximos 30 dias. A exportação também foi proibida. A Agência já esclareceu que, apesar de promissores, não existem estudos conclusivos que comprovem o uso desses medicamentos para o tratamento da covid-19. O Ministério da Saúde aguarda um parecer, previsto para a próxima semana, para decidir sobre o uso do composto para pacientes graves do novo coronavírus.