11 respostas para dúvidas sobre gordura no fígado

Médica explica como essa condição pode ser prejudicial para a saúde e contribuir para o desenvolvimento de doenças mais graves

A esteatose hepática, também conhecida como gordura no fígado, é uma condição na qual há acúmulo excessivo de gordura nas células do fígado. Ela pode estar relacionada a fatores como obesidade, resistência à insulina, diabetes tipo 2, dislipidemia e síndrome metabólica, ou ser causada pelo consumo excessivo de álcool.

A esteatose hepática geralmente não causa sintomas, mas pode progredir para formas mais graves de doença hepática, como cirrose hepática e até mesmo câncer de fígado. Além disso, a gordura acumulada nesse órgão pode interferir em suas funções normais, prejudicando o metabolismo de gorduras, carboidratos e proteínas, bem como a desintoxicação do corpo

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Neste contexto, a Dra. Marília Bortolotto, endocrinologista da diretoria da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP), oferece esclarecimentos valiosos, respondendo a onze perguntas sobre a esteatose hepática. Confira!

1. Qual a diferença entre esteatose, esteatohepatite e fibrose?

A esteatose hepática, acúmulo de gordura no fígado, pode ser benigna ou ter maior gravidade. A esteatohepatite é quando há inflamação associada, podendo evoluir aos longos dos anos para fibrose, com cirrose e até câncer de fígado, sendo que dentre os pacientes com cirrose, o risco para câncer ao longo dos anos pode chegar há 5%.

2. Como fazer o diagnóstico de esteatose hepática?

A esteatose hepática pode ser detectada através do ultrassom, porém sua sensibilidade é limitada para graus leves e em pacientes obesos. A ressonância magnética pode ser utilizada nesses casos. A elastografia, procedimento que utiliza o ultrassom para medir a elasticidade do fígado, é eficaz na detecção da fibrose. Quando há dúvida no diagnóstico, a biópsia pode ser considerada.

3. Pessoas magras também podem ter esteatose hepática?

Sim, é menos comum. Mas em pacientes magros sem fatores de risco tradicionais é crucial excluir outras causas, como uso crônico de corticoides, anabolizantes ou certas drogas usadas no tratamento do câncer de mama.

4. Qual é a relação entre o consumo de álcool e a esteatose hepática?

Não existe uma dose totalmente segura de álcool, e o risco está presente mesmo em pequenas quantidades. O consumo acima de um a dois drinques por dia pode estar associado à doença hepática.

5. Trabalhadores expostos a solventes derivados de petróleo têm maior risco de esteatose hepática?

Sim, a exposição a solventes derivados de petróleo pode ser uma causa de esteatose hepática.

6. Qual é o percentual de pessoas com esteatose que eventualmente evoluirá para câncer de fígado?

Cerca de 20% a 30% das esteatoses podem progredir para esteatohepatite. Dentre essas, aproximadamente 20% podem desenvolver cirrose ao longo de muitos anos, aumentando o risco de câncer de fígado em 3% a 5%.

7. O consumo de frutose, especialmente em produtos ultraprocessados, pode causar ou piorar a esteatose hepática?

O carboidrato em excesso, especialmente em produtos ultraprocessados, pode contribuir para a esteatose hepática. É importante diferenciar a frutose natural, proveniente das frutas e consumida moderadamente, da presente em produtos industrializados. O açúcar em excesso pode se transformar em gordura e, assim, se depositar no fígado.

Café e grãos de café em uma mesa de madeira.
Consumido de forma moderada, o café traz benefícios para a saúde do fígado (Imagem: jazz3311 | Shutterstock)

8. O consumo de café tem benefícios para a saúde do fígado?

Sim, estudos mostram que o café, consumido moderadamente (uma a duas xícaras por dia), ao longo do tempo, pode oferecer proteção contra fibrose e câncer de fígado.

9. Como tratar a esteatose hepática? Existem medicamentos eficazes?

A mudança de estilo de vida é a principal abordagem de tratamento. Estudos mostram que a perda de peso, atividade física e mudança na alimentação são eficazes. A redução de pelo menos 7% do excesso de peso já traz benefícios. Não há um medicamento específico, e a prioridade é a modificação do estilo de vida.

10. Existem dietas preferenciais para tratar a esteatose hepática? O jejum intermitente tem algum valor?

A perda de peso é o benefício mais comprovado, independentemente da dieta escolhida. Dietas mediterrâneas são estudadas e trazem resultados positivos. O jejum intermitente pode oferecer benefícios indiretos, pela perda de peso.

11. É possível reduzir a fibrose hepática? Quanto tempo isso pode levar?

A redução da fibrose é possível, especialmente quando a inflamação e a agressão não estão em estágios mais avançados, nos casos de fibrose avançada não é possível retornar para o fígado normal. A melhora é observada ao longo do tempo, podendo levar mais de um ano.

É importante frisar que, apesar da preocupação com a saúde do fígado, a esteatose hepática está associada a um maior risco cardiovascular. Nós, endocrinologistas, devemos estar atentos à esteatose hepática em pacientes com diabetes e pré-diabetes, realizar rastreamento regular e encaminhar para hepatologistas quando necessário.

Por Regiane Chiereghim

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