O segredo por trás da fumaça do Vaticano na eleição do papa
Agência BBC

O segredo por trás da fumaça do Vaticano na eleição do papa

A fumaça preta indica que os 115 cardeais reunidos ainda não chegaram ao consenso de dois terços necessário para eleger um novo papa. Quando esse momento chegar, a fumaça sairá branca.

Fumaça branca sobe da chaminé acima da Capela Sistina, no Vaticano, indicando que um novo papa foi eleito, em 13 de março de 2013
Reuters
Fumaça branca sobe da chaminé acima da Capela Sistina, no Vaticano, indicando que um novo papa foi eleito, em 13 de março de 2013

Poucos símbolos são tão emblemáticos quanto a fumaça que sai da chaminé da Capela Sistina durante a escolha de um novo papa.

É um rito antigo, acompanhado por milhões ao redor do mundo, que aguarda ansiosamente o momento em que a fumaça branca anunciará: Habemus Papam, ou seja, temos um novo papa.

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Mas, por trás dessa imagem quase mística, existe um processo muito mais terreno — e surpreendentemente químico.

Para que o que sai da chaminé seja preta ou branca, receitas de pequenas bombas de fumaça são utilizadas durante o conclave.

Após a morte do papa Francisco, nascido Jorge Mario Bergoglio, aos 88 anos, na última segunda-feira (21/4) a Igreja Católica inicia um processo para escolher um novo pontífice para ao cargo.

Como a fumaça é feita

A partir do início dos anos 1800, as cédulas usadas pelos cardeais eram queimadas após cada votação como forma de indicar que não havia sido alcançado um consenso para a eleição. A ausência de fumaça, por outro lado, sinalizava que um novo papa havia sido escolhido.

Desde 1914, essa prática foi aprimorada: a fumaça preta indica que os cardeais reunidos ainda não chegaram ao consenso de dois terços necessário para eleger um novo papa. Quando esse momento chegar, a fumaça sairá branca.

A origem da fumaça está na queima das cédulas de votação em um forno especial.

Para colorir a fumaça, porém, são usados aditivos químicos queimados em um segundo forno. No passado, o Vaticano utilizava métodos mais simples: palha úmida produzia a fumaça branca e piche produzia a preta.

Quem já acendeu uma fogueira sabe que grama molhada cria uma fumaça clara e que jogar pneus velhos no fogo vai gerar uma fumaça preta densa e tóxica — cheia de partículas de carbono prejudiciais à saúde e potencialmente cancerígenas.

A mudança de método, no entanto, não foi motivada por preocupações ambientais. O problema era outro: em conclaves anteriores, a fumaça saía acinzentada e ambígua, gerando confusão. Por isso, a partir de 2005, decidiu-se adotar uma técnica mais precisa, baseada em compostos químicos.

Recentemente, o Vaticano divulgou os ingredientes. Para a fumaça preta, usa-se uma mistura de perclorato de potássio, antraceno e enxofre. Já a fumaça branca é feita com clorato de potássio, lactose (açúcar do leite) e resina de coníferas, conhecida como rosin, usada por músicos para aumentar o atrito em arcos de violino.

Na prática, estão apenas produzindo versões simples de bombas de fumaça comuns. Essas bombas funcionam combinando uma substância rica em carbono — como açúcar — com um agente oxidante, que fornece o oxigênio necessário para a queima. Perclorato e clorato de potássio são os oxidantes mais comuns. Já o carbono vem do antraceno, da lactose e da resina.

O antraceno, presente no alcatrão de carvão, é excelente para gerar fumaça preta densa, mas deixou de ser usado em fogos de artifício por ser cancerígeno. O enxofre, que também queima bem, era parte essencial da pólvora — e a mistura do Vaticano para a fumaça preta lembra bastante essa antiga fórmula, substituindo apenas o salitre pelo perclorato.

Para a fumaça branca, em aplicações militares, costuma-se usar pó de zinco e hexacloroetano — um solvente tóxico que, embora eficaz, pode causar danos ao fígado e problemas respiratórios. Não é surpresa, portanto, que o Vaticano tenha optado por uma versão mais segura.

Hoje, o sistema é altamente controlado. Aquecedores elétricos e ventiladores garantem que a fumaça saia com força, e o processo foi testado para evitar que a fumaça preta se desfaça em partículas menores e acabe parecendo branca — um efeito que às vezes acontece em fogueiras.

*Com informações da reportagem da BBC Future, publicada em março de 2013

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