Análise: tarifas impostas por Trump são 'maior mudança no comércio global em 100 anos'
O impacto das tarifas vai ser enorme, com mudanças significativas em antigas vias de comércio global, segundo análise do editor da BBC Faisal Islam.

O impacto das novas tarifas anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na economia mundial vai ser enorme.
Em sua essência, trata-se de uma tarifa básica universal de 10% sobre todas as importações para os EUA, que entra em vigor na noite desta sexta-feira (4/4).
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Além disso, dezenas de parceiros comerciais — descritos pela Casa Branca como os "piores infratores", incluindo a União Europeia e a China — vão enfrentar "tarifas recíprocas" mais altas, por terem superávits comerciais.
O impacto do "tarifaço" pode ser medido pelas linhas de um gráfico da receita tarifária dos EUA que vão saltar para níveis nunca vistos em um século — indo além daqueles observados durante o alto protecionismo da década de 1930.
Ou nas quedas nos mercados de ações, especialmente na Ásia.
Mas a verdadeira métrica deste tarifaço vão ser as mudanças significativas nas antigas vias de comércio global.
As tarifas sobre as nações asiáticas são realmente impressionantes. Elas vão desmantelar os modelos de negócios de milhares de empresas, fábricas e, possivelmente, de países inteiros.
Algumas das cadeias de suprimentos criadas pelas maiores empresas do mundo vão ser interrompidas instantaneamente.
O impacto inevitável certamente vai ser conduzi-las para a China.
O que o governo americano quer?
O governo dos EUA parece estar contando com a receita tarifária para lidar com os cortes de impostos planejados.
Como disse um funcionário da Casa Branca, sem rodeios: "Isso não é uma negociação, é uma emergência nacional".
A fórmula americana para as chamadas "tarifas recíprocas" basicamente cobra um país por ter um superávit comercial de mercadorias com os EUA, exportando mais para os EUA do que importa.
E, mesmo que não haja superávit, é aplicada a taxa básica universal de 10%.
Tudo isso revela duas coisas. Primeiro, o objetivo da política é reduzir o déficit comercial dos EUA a zero. Este é um redirecionamento notável dos fluxos de comércio mundial, e explica o foco punitivo específico na Ásia.
Em segundo lugar, é evidente que as negociações bilaterais não fizeram muita diferença ou, talvez, nenhuma diferença.

Os déficits e superávits são uma parte normal de um sistema comercial funcional em que os países se especializam naquilo em que são melhores em fazer.
Os EUA acabaram de forma impressionante com essa lógica.
Mas a mudança no fluxo de produção vai levar anos.
Tarifas destas proporções sobre o leste asiático, especialmente de 30% ou 40%, vão aumentar os preços de roupas, brinquedos e eletrônicos muito mais rápido.
A questão agora é como o resto do mundo vai reagir.
Há oportunidades em potencial para consumidores na Europa, por exemplo: enquanto a maior economia do mundo se volta para dentro, o restante das grandes economias pode optar por integrar o comércio, como de roupas e eletrônicos, em um escopo mais próximo.
Como a queda nas vendas da Tesla pode ilustrar, apenas parte desta história é sobre a reação dos governos. Atualmente, os consumidores também podem retaliar. Pode haver um novo tipo de guerra comercial nas redes sociais.
A Europa poderia decidir não continuar comprando as marcas americanas, muitas delas adoradas no mundo todo.
O monopólio no segmento de redes sociais pelas grandes empresas de tecnologia dos EUA pode ser abalado.
E as autoridades americanas talvez precisem aumentar as taxas de juros para combater o inevitável aumento da inflação.
Uma confusa guerra comercial parece inevitável.
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