Tony Belloto, guitarrista dos Titãs, é diagnosticado com câncer de pâncreas; quais os sintomas da doença
Agência BBC

Tony Belloto, guitarrista dos Titãs, é diagnosticado com câncer de pâncreas; quais os sintomas da doença

Número de pacientes diagnosticados com esse tumor vem aumentando e chamou atenção de instituições e especialistas. Entenda os quatro motivos que ajudam a explicar esse cenário.

Tony Bellotto durante apresentação dos Titãs  no Lollapalooza Brasil, no Autódromo de Interlagos, em 23 de março de 2024, em São Paulo
Getty Images
Tony Bellotto anunciou diagnóstico após exame de rotina

O guitarrista dos Titãs, Tony Belloto, anunciou em vídeo divulgado no Instagram que foi diagnosticado com câncer de pâncreas após exames de rotina e passará por uma cirurgia.

"Vou me afastar temporariamente dos palcos, mas os Titãs seguem com a agenda planejada, acompanhados pelo músico Alexandre de Orio. Logo que eu me recupere, vou retornar os shows e as minhas atividades profissionais", disse Belloto no vídeo.

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"Então, desde já, quero agradecer os pensamentos, palavras e mensagens de apoio e carinho e pedir que vocês não sofram. Sem drama. Eu tô tranquilo e confiante, enfrentando tudo com coragem e dignidade."

O pâncreas é uma glândula responsável por produzir a insulina, um hormônio essencial no aproveitamento da glicose como fonte de energia para as células trabalharem.

A detecção precoce da doença é essencial para o prognóstico, permitir tratamentos menos invasivos e para as chances de cura.

Quais os sintomas da doença

Esse tipo de câncer é mais comum em pessoas acima de 60 anos e tem maior incidência entre homens.

Sintomas comuns do câncer de pâncreas incluem:

  • Dor no estômago e nas costas
  • Perda de peso sem motivo
  • Indigestão
  • Mudança nos hábitos intestinais, como fezes que flutuam

Outros indícios são:

  • Perda de apetite
  • Icterícia (pele ou olho amarelado)
  • Sensação de estar doente
  • Dificuldade de engolir
  • Diagnóstico recente de diabetes
Pessoa com olho amarelado
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Pele e olhos amarelados são um dos poucos sintomas do câncer de pâncreas. Os incômodos só costumam aparecer num estágio mais avançado da doença

Mortalidade

A cada dois ou três anos, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) publica um documento em que faz projeções sobre os números de casos e mortes relacionados aos tumores mais comuns na população brasileira.

“E pela primeira vez na série histórica, o Inca incluiu em 2023 o câncer de pâncreas como um dos mais frequentes no país”, informa a oncologista clínica Mariana Bruna Siqueira, da Oncologia D’Or, no Rio de Janeiro.

“O aumento da incidência desse tumor acontece nas regiões economicamente mais desenvolvidas, e ele já aparece entre os dez tumores que mais acometem as mulheres das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste”, complementa a especialista, que também integra o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino.

O Inca estima que, em 2023, serão diagnosticados 10.980 casos de câncer de pâncreas no país.

As mortes também estão em ascensão. Entre 2011 e 2020, os óbitos por ano relacionados a essa enfermidade saltaram de 7,7 mil para 11,8 mil — um incremento de mais de 50%.

Em números absolutos, o Inca calcula que em 2020 essa doença matou 5.882 homens e 6.011 mulheres. Isso faz com que esse tumor seja o sétimo mais mortal para eles e o quinto para elas.

Vale lembrar que o pâncreas é uma glândula responsável por produzir a insulina, um hormônio essencial no aproveitamento da glicose como fonte de energia para as células trabalharem.

E a tendência de subida não é apenas nacional: nos Estados Unidos, cientistas apontam que o câncer de pâncreas se tornará o segundo tipo mais letal, atrás apenas dos tumores de pulmão. Os números de casos também se elevarão em mais de 65% entre os americanos nas próximas duas décadas.

Mas o que justifica essa mudança de cenário? Por trás desse aumento, há pelo menos quatro motivos: o envelhecimento da população, o estilo de vida, os sintomas tardios e a agressividade do quadro.

Anatomia do corpo de um homem com o pâncreas pintado de vermelho
Getty Images
Mortes por câncer de pâncreas no Brasil subiram mais de 50% na última década, mostram as estatísticas

Longevidade e hábitos inadequados

O médico Duílio Rocha, diretor da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, destaca que o câncer de pâncreas é uma condição que costuma aparecer em indivíduos de idade mais avançada.

“Portanto, o próprio envelhecimento da população contribui para esse aumento”, raciocina.

“A idade média do diagnóstico é 70 anos. E o Brasil só superou uma expectativa de vida acima das setes décadas a partir do ano 2000”, complementa o especialista, que também é chefe da Unidade de Oncologia do Hospital Universitário Walter Cantídio, em Fortaleza.

Ou seja: se as pessoas vivem mais, é natural que um número maior delas desenvolva um tumor na glândula.

O segundo fator tem a ver com o estilo de vida adotado, especialmente nos lugares mais desenvolvidos.

“Boa parte da comunidade científica acredita que o aumento de casos está diretamente relacionado a mudanças de hábitos nas gerações que nasceram a partir de 1970, como o maior consumo de alimentos ultraprocessados e ricos em gorduras saturadas, e o aumento na proporção de pessoas sedentárias e obesas”, lista Rocha.

Todas essas alterações estão relacionadas a um aumento geral de enfermidades crônicas não transmissíveis, como a hipertensão, o diabetes e diversos tipos de câncer, como aqueles que acometem o pâncreas.

Falando em diabetes, os pesquisadores têm muitas dúvidas sobre qual a relação entre os dois quadros. Afinal, pacientes com diabetes possuem um risco mais elevado de câncer de pâncreas? Ou é o tumor na glândula produtora de insulina que provoca um descontrole nos níveis de açúcar no sangue?

“Ainda não está certo se o diabetes é causa ou consequência nesse cenário. Mesmo assim, encaramos essa enfermidade como um fator de risco adicional para o câncer de pâncreas”, responde Siqueira.

Silenciosa e agressiva

Para completar, uma das grandes barreiras quando o assunto é tumor no pâncreas está no diagnóstico tardio.

“Apenas 15 a 20% dos pacientes são identificados quando a doença está localizada na glândula e não se espalhou para outras partes do corpo”, calcula Siqueira.

Em linhas gerais, detectar o quadro nas primeiras etapas de desenvolvimento é a principal maneira de garantir tratamentos menos invasivos e com maior potencial de cura.

Essa, porém, não é a realidade na maioria das vezes. “Os sintomas do câncer de pâncreas só costumam aparecer numa fase avançada e são muito genéricos, ou seja, se confundem com uma série de outras enfermidades possíveis”, caracteriza Rocha.

Entre as principais manifestações desse tumor, os médicos destacam a perda de peso, a dor no abdômen ou nas costas e mudanças na coloração da pele e dos olhos, que ganham um aspecto amarelado.

Esse último sinal tem a ver com o crescimento do tumor e o aperto de estruturas ao redor, como os ductos que ligam a vesícula biliar ao fígado.

Também não há um exame de rotina que possa flagrar a enfermidade de forma precoce, em moldes parecidos aos da mamografia para câncer de mama e do papanicolau para o de colo de útero.

O último fator por trás da ascensão dos tumores de pâncreas tem a ver com as próprias características dessa condição.

“Ela é uma doença mais agressiva. Mesmo os pacientes que são operados têm uma sobrevida menor em comparação a outros tipos de câncer”, diz Siqueira.

“No câncer de intestino localizado tratável com a cirurgia, por exemplo, há uma chance de cura que supera os 80%. Num tumor de pâncreas que reúne condições parecidas, essa taxa fica em 30%”, completa a oncologista.

Médicos fazendo cirurgia
Getty Images
Cirurgias são a primeira escolha quando o câncer de pâncreas é diagnosticado nas fases iniciais

O contra-ataque da medicina

Mas nem tudo são más notícias quando o assunto é câncer de pâncreas.

“Durante muito tempo, tivemos a ideia que esse era um tumor contra o qual podíamos fazer muito pouco”, lembra Rocha.

“Mas, nos últimos anos, tivemos uma série de avanços que melhoraram esse cenário. Hoje, a chance de cura é seis vezes maior do que há duas décadas, principalmente quando somos capazes de usar as melhores ferramentas para diagnosticar e tratar de forma precoce”, complementa.

Quando o tumor na glândula é detectado nos estágios iniciais, a cirurgia costuma ser a primeira alternativa para lidar com o problema.

Agora, se a doença já evoluiu ou se espalhou para outras partes do organismo, os profissionais de saúde apelam para a quimioterapia ou para a radioterapia.

Em alguns casos, a própria químio consegue diminuir o tumor, o que abre a possibilidade de fazer uma cirurgia para remover as lesões localizadas na glândula.

Opções mais avançadas também começam a entrar em jogo. Uma delas é a imunoterapia, uma classe de medicamentos que estimula o próprio sistema imunológico do paciente a combater as células cancerosas.

“Por ora, esses remédios só estão disponíveis para indivíduos com uma mutação genética específica, o que corresponde a cerca de 1% dos casos”, aponta Siqueira.

Outra novidade recente é o uso das CAR-T Cells, um método já aprovado como tumores de sangue que consiste em extrair células imunológicas do próprio paciente, modificá-las em laboratório e reintroduzi-las no organismo, para que reconheçam e ataquem o tumor.

“Esse, porém, ainda é um tratamento experimental, que precisa ser mais estudado”, pondera a oncologista clínica.

Embora o transplante de pâncreas seja uma opção para os pacientes com diabetes que têm complicações graves, ele não está disponível como tratamento contra o câncer. Isso porque essa cirurgia exige o uso de medicamentos de inibem o sistema imunológico — que, num paciente com esse tumor, fariam as células cancerosas se espalharem mais rapidamente para outras partes do corpo.

Se as perspectivas terapêuticas contra o câncer de pâncreas evoluem, as orientações para prevenir a doença continuam as mesmas.

“A nossa principal recomendação para evitar uma doença dessas é buscar hábitos de vida saudáveis”, sugere Rocha.

“Isso inclui manter um peso adequado, uma alimentação baseada em fontes vegetais e com pouca gordura saturada, praticar atividade física e evitar o tabagismo”, conclui o médico.

Este texto foi originalmente publicado em fevereiro de 2023 e atualizado após o diagnóstico de Tony Bellotto.

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